
Fernando Rosa Rahal, 12 de novembro de 2024
Durante o final de semana, reli as cartas de Nick Sleep para os investidores de seu fundo, Nomad, e fiquei pensando no São Paulo Futebol Clube. Eu sei, nada a ver com futebol, mas tenha paciência comigo. Em uma das cartas, Nick cita uma passagem de um artigo de 2004 intitulado “Tomada de Decisão para Investidores” de Michael Mauboussin, um famoso escritor de investimentos. Mauboussin diz que “as características distintivas dos jogadores probabilísticos incluem um foco no processo em vez do resultado, uma busca constante por probabilidades favoráveis e uma compreensão do papel do tempo.”
O trabalho de Zubeldía tem sido defendido por alguns com base em resultados. Inspirado pelas cartas de Nick Sleep e nas ideias de Mauboussin, neste artigo exploro uma análise mais profunda, abordando o debate entre resultados versus processos, ajustes necessários para maximizar as chances de sucesso e em que contexto faria sentido dar mais tempo ao treinador.
Resultados, Processos e Objetivos
Embora não tenha conquistado títulos em 2024, Zubeldía (até o momento) atingiu todas as metas esportivas traçadas pela diretoria: alcançar as quartas de final das copas (Libertadores e Copa do Brasil) e garantir vaga no G6 do Brasileiro. Com 63% de aproveitamento, o resultado é expressivo, mas é suficiente para avaliá-lo como um bom trabalho? Como afirma Mauboussin, gestores eficazes focam no processo, pois é ele que sustenta o sucesso contínuo.
Veja também:
Como o futebol tem fatores não controláveis que determinam resultados de partidas e campeonatos (tornando-o um jogo probabilístico para aqueles interessados no paper de Mauboussin), uma avaliação justa de Zubeldía deve avaliar se os processos implantados estão alinhados com os objetivos do clube.
Esses objetivos, embora não declarados oficialmente (o SPFC se beneficiaria muito de uma área de comunicação com o torcedor, no estilo Investor Relations de empresas listadas, principalmente agora com o FIDC, mas isso é tema para um artigo futuro.), parecem envolver três pilares: futebol equilibrado com viés ofensivo; gestão pautada na recuperação financeira; e utilização da base como potencializador de desempenho esportivo e aceleração da recuperação financeira.

Desempenho Futebolístico em 2024
Apesar de apresentar um futebol equilibrado e momentos de um bom futebol, o SPFC ainda demonstra um desempenho inconsistente. A vitória por 2×1 contra o CAP ilustra bem essa irregularidade. No primeiro tempo, a equipe teve dificuldade de penetrar a defesa adversária. No intervalo, Zubeldía parece ter identificado o problema e ajustado o comportamento do time. A partir daí, o time começou a criar jogadas pelas laterais, focando em associações entre lateral, volante e ponta. Além disso, passou a buscar situações de 1×1 por meio de inversões de jogo.
Embora seja natural encontrar dificuldade para superar defesas bem postadas, falta ao São Paulo a construção de padrões táticos mais sofisticados e automatizados que ofereçam alternativas nessas situações. Equipes maduras e mais ajustas teriam identificado o problema e encontrado a solução de maneira independente ainda no primeiro tempo. Para 2025, melhorar esses mecanismos deve ser uma prioridade.
Gestão de Elenco e Recuperação Financeira
Com uma folha salarial que consome perto de 70% da receita anual recorrente do clube, otimizar o elenco é essencial para a saúde financeira do São Paulo. Zubeldía parece preferir um elenco enxuto, confiando em poucos titulares e reservas. Isso pode ser uma vantagem para reduzir custos, mas precisa de um alinhamento com a diretoria. Atletas como Ferraresi, Galoppo e, mais recentemente, Bobadilla, que jogam pouco, poderiam ser negociados para abrir espaço no orçamento e permitir contratações mais estratégicas. Um alinhamento claro entre diretoria e técnico sobre a quantidade e o perfil do elenco para 2025 pode desinchar o elenco de atletas que não serão utilizados, evitar contratações desnecessárias e promover uma gestão financeira mais eficiente.
O tema quantidade e perfil de elenco se conecta com o último objetivo do clube, utilização da base.

Utilização da base
O aproveitamento da base tem sido limitado sob o comando de Zubeldía. Jogadores como William Gomes recebem pouca oportunidade, mesmo em contextos favoráveis, como na vitória por 3×0 sobre o Bahia, quando poderiam ter ganho minutos. Além disso, a ausência de jovens no banco em detrimento de veteranos desnecessários é um desperdício. Nesse mesmo jogo contra o Bahia, o técnico optou por levar três zagueiros ao banco, em vez de optar por um jogador da base, Moreira seria a escolha óbvia.
Para 2025, um programa estruturado para garantir minutos para atletas da base, principalmente em campeonatos menos exigentes como o Paulista, permitira ao clube desenvolver talentos e aumentar o valor de mercado dos jovens. Manter no elenco somente aqueles com chances reais de utilização também evitaria a estagnação desses ativos. Para estes atletas uma parceria com um clube de menor expressão visando empréstimos seria o caminho ideal.
Em 2024, William Gomes deveria ter entrado ao menos 20 minutos por jogo, entrando preferencialmente no lugar de Ferreira nos minutos finais das partidas. Algo similar poderia ser pensado para 2025, com foco em atletas como Moreira, Rickelme, Negrucci, Hugo, Ryan Francisco, Lucas Ferreira e Alves, revezando para que ao menos um entre em cada jogo do Paulista. Para que tal estratégia funcionasse seria preciso limitar a quantidade de atletas no elenco de modo a dar oportunidade para os atletas da base.
Conclusão
No final de semana também me deparei com uma entrevista do Steve Jobs de 1992. Ele havia acabado de ser demitido da Apple e havia fundado sua empresa, a NeXT. Na entrevista lhe perguntaram qual a melhor lição que ele havia aprendido na Apple. Steve pensou por quase 30 segundos antes de responder que o principal aprendizado havia sido que agora ele tem uma visão de longo-prazo sobre as pessoas.
Zubeldía é jovem e demonstra interesse em evoluir. Com um alinhamento entre diretoria e técnico quanto aos objetivos e ajustes necessários, a continuidade do trabalho faz sentido.
No entanto, a manutenção do contrato sem um plano compartilhado, seria injusta com o técnico e ineficaz para o clube. Um compromisso com metas claras em termos de processos táticos, gestão de elenco e desenvolvimento da base será essencial para que 2025 seja um ano de evolução futebolística e recuperação financeira.
Fernando Rosa Rahal é especialista em transações financeiras complexas, com experiência em captação de recursos no mercado de capitais e em fusões e aquisições. Ao longo de sua carreira, migrou para o papel de investidor, adquirindo sólida experiência no mercado de ações e em Private Equity.
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Ufa! Ainda bem que ele é favorável à continuidade, senão ia ter gente cortando os pulsos aqui.
Bom texto e excelente analogia.
Falta ao clube um projeto claro para o time e futebol.
Falam em utilizar a base e contratam um técnico que não a utiliza. Contrata “oportunidades de mercado” inchando o elenco, daí alguns não dão certo e acabam virando mico.
Só ficar somente nas palavras e no “aqui é trabalho” não estão tirando o clube do sufoco financeiro.
Se alguém garantir que o próximo técnico escolhido por esta diretoria que não tem um “projeto” e não acharam um rumo até hoje dará certo, então que se troque somente a comissão técnica e apoiem o “projeto”.
A discussão não é se o Zubeldia usa ou não a base e tem resultados ou não, é projeto e direção.
O clube não tem um norte!
Ficar esperando um Salvador da Pátria ou um Midas, sem fazer o básico só está atrasando frente os concorrentes.
Nosso colega 10 fez um comentário nessa linha hoje…o clube representado pela diretoria eleita deve ser maior que sua comissão técnica…o planejamento realmente tem que ser mais específico qnto aos processos e todos estarem alinhados sobre pra onde a banda vai tocar. Essa transparencia interna e externa sobre as ações a serem tomadas absolutamente deveriam receber assessoria desse nivel que o cara do post falou…assim entre eles próprios e conosco torcedores…ficaria muito mais direta a comunicação do que se pretende.
Isso mesmo, Moura. Venho falando nessa linha faz tempo. Não é questão do Zubeldia, apenas. Inicia-se na direção propriamente, Se a direção não souber exatamente o que quer e como quer não será o treinador que será advinho da cabeça deles.
“Zubeldía é jovem e demonstra interesse em evoluir…”
Não percebi qualquer interesse dele em evoluir nesses 7 meses de clube… pelo contrário, mantém seus conceitos mesmo quando vai muito mal…
Achei a abordagem super interessante, mas ela peca em alguns pontos. 1) Desempenho: a questão não é 63, mas 63% em relação a quê e qual foi o custo de obtenção? Em relação a todos os treinadores anteriores, 63% é muito. Em comparação a outros treinadores da Série A, mais ainda. E o custo é dado pelo resultado obtido contra times de Série A e Libertadores. Nada de Paulistinha. Se for qualificar os 63%, ele significa mais que sua expressão numérica. 2) Gestão do elenco. O raciocínio financista considera que titulares e reservas são iguais, têm a mesma qualidade. Existe um abismo no São Paulo quando se fala do elenco. Comparando novamente com os 10 primeiros colocados do Brasileiro, é um dos elencos menos homogêneos. Sendo financista, deveria haver uma avaliação melhor sobre a capacidade de gerar resultado de cada recurso. 3) O raciocínio da base segue o mesmo caminho. Qual base cara pálida? Que resultado essa base pode gerar? Tirando William Gomes, quem mais? Essa tese da experiência não cola.
Lembrando um ponto sempre esquecido: Zubeldia tentou fazer um rodízio contra Vasco e Cuiabá no primeiro turno. Perdeu as duas e a diretoria entrou de sola pra cortar essa viagem. Na busca por recursos financeiros do São Paulo, o que vale é classificar pra aumentar a premiação. Não há espaço para base nem pra rodar o elenco.
Por fim, faltou considerar os ativos intangíveis. Zubeldia representa atitude e conexão. Seu comportamento inflamado motiva os jogadores. Alguém lembra da pasmaceira de Dorival? E principalmente, conecta com a torcida. Isso garante estádio, cheio e menos pressão pra trabalhar. Alguém lembra o que era o ambiente com o Carpini. Zubeldia é ciclo positivo de relacionamento e resultado.
Espero ter contribuído para complementar o raciocínio do nobre colega.
20 jogadores do elenco (desconsiderando Pablo e Alisson), nesse BR 2024, atuaram menos de 10 partidas das 38. Um total de 7 deles não jogaram sequer 1 minuto. Além disso, 18 jogadores estiveram mais da metade do campeonato fora dos relacionados. Em aproveitamento, William Gomes é o terceiro do time na hora de fazer gol, atras do Lucas e Luciano. Em compensação jogou quase 4x menos que eles.
Acho que a melhor noticia da continuidade do Zuba é poder enxugar esse elenco sem dó e piedade e guardar o dinheiro que sobrou pra contratar uns 2 nomes. O resto, atingir o superavit no final do ano. Qualquer conversa sobre esse planejamento que envolva jogadores do nível de um Jamal ou Santi longo deveria ser abolida, pq atleta desse nível não vai jogar.
*das 33
Legal Fabio…esses dados concretos deveriam estar em primeiro plano na montagem do elenco…mas phoda que entra empresários e interesses…aí já viu né…porque o “binino” do empresário que é ligado ao diretor X e ao conselheiro Y não jogou…aí plantam “notícias” com os influencers nas redes sociais que isso e aquilo. Olha haja estômago.
Concordo plenamente. O elenco precisa ser de no máximo 25 jogadores, não tem pq ficar com muitos jogadores se o treinador não vai usar. Eu espero para a próxima temporada um decréscimo de 12 jogadores(entre saídas e chegadas), se for menos que isso o Zubeldia não irá usar a base.
Minhas explanacoes:
Sabino e André Silva foram ótimos reforços;
Marcos Antônio foi um bom reforço;
Longo e Lewis não tem nível para jogar no SPFC;
não aproveitar Moreira, William Gomes e Lucas Ferreira é um absurdo;
tem que vender o Nestor para o Bahia correndo.
O Marcos Antônio é um bom reforço entre muitas aspas, apesar de ser muito bom tecnicamente, é muito limitado em seu trabalho defensivo. Para piorar tudo, ele tem uma cláusula de obrigação de compra se jogar determinado percentual de jogos, com um valor fixado de R$25 milhões. Tem muitas opções melhores que ele por esse valor. A mesma coisa vale para o Ruan Tressoldi, que tem o mesmo valor de compra, acho ele um bom zagueiro, melhor que o Ferraresi, mas é muito caro.
Acho esse Ruan muito fraco, mas respeito sua opinião
Então deve concordar que 25 milhões é muito dinheiro nele.
[…] “as características distintivas dos jogadores probabilísticos incluem um foco no processo em vez do resultado, uma busca constante por probabilidades favoráveis e uma compreensão do papel do tempo.” […]
É só isso mesmo. A questão é que é uma tarefa complexa e necessita de competência necessaria também. Define uma linha, trabalha para solidificar (aperfeiçoar o modelo inicial) e tenha paciência.
É o único meio lúcido que vejo para o clube chegar bem para o centenário. Agora, se focarem em chegar em semis-finais, g6s e etc como objetivos primários da temporada, eu ouso deduzir que chegaremos iguais no ano do centenário.
Um monte de medalhão, torcida lotando estádio, time brigando e um sabor de “faltou alguma coisa, né?” e o pensamento subsequente “O que deveriamos ter feito de diferente?”
Show cara! Acrescentaria, depois do planejamento claro, o lance que o cara falou sobre “área de comunicação com o torcedor, no estilo Investor Relations de empresas listadas, principalmente agora com o FIDC” acho isso fundamental para a venda e compra da ideia do que estão fazendo…sem isso continuaremos aqui batendo cabeça pra santos que não fazem milagres.
Rapaz, mas o Zanquetta é o quê, hein? hahaha… Melhor canal sobre o clube. É só efetivar. ahahaha
É, realmente tem que profissionalizar a comunicação do clube com os torcedores.
Kkkk boa! Zanqueta neles!
Deveríamos ter dado um golpe de estado pra destituir o Casares e colocar o #TeamOprimidosDaLiveDaEsperanca no lugar pra espernear na porta da CBF por causa da arbitragem berrando igual umas baleia sem chupeta (mas carregadas de testosterona) e mandado o Zubeldia embora pra contratar o Vagner Mancini, SIMPLES. Um CONE no lugar do Casares e do Zubeldia e a gente era campeão brasileiro.
Mais cristalino que isso é impussiver!
kkk pegou pesado, Renato, eu nao me lembro do Scala pedir o Mancini, mas tenho certeza que se o Zuba sair, o nome do Mancini sera melhor que o das outras pechinchas que aparecerao! kkk