É possível dizer que o São Paulo foi o clube que mais decepcionou seu torcedor em 2021 com a clara exceção daqueles que foram rebaixados para a Série B e dos que não conseguiram retornar para a elite no último ano. Talvez esse seja o motivo pelo qual a diretoria tricolor vem investindo pesado na contração de reforços visando a recuperação da competitividade e, é claro, a conquista de títulos importantes em 2022. A grande questão que cerca Rogério Ceni e sua comissão técnica nesse início de temporada está justamente no encaixe das “caras novas” que estão chegando ao Morumbi nos últimos dias. É possível sim pensar num São Paulo mais forte, mais “cascudo” e mais consistente com Rafinha, Patrick, Nikão e companhia. Mas é preciso entender bem a característica de cada um desses jogadores para que o modelo de jogo do treinador renda aquilo que se espera dele.

Este que escreve compreende bem a frustração do torcedor do São Paulo com o time em 2021. Isso porque (pelo menos em tese) o elenco que Hernán Crespo e Rogério Ceni à disposição no Morumbi era muito mais qualificado do que a maioria dos times que terminaram o Brasileirão à frente do Tricolor Paulista. Por mais que Daniel Alves (a grande referência técnica da equipe) tenha deixado o clube no meio da temporada e que os jogadores tenham sofrido demais com a maratona de jogos de um calendário cada vez mais sufocante, a impressão que ficou foi a de que o São Paulo poderia ter chegado muito mais longe do que chegou. Por isso que a chegada dos reforços foi tão comemorada pela torcida.

Rafinha, Jandrei, Alisson, Nikão e Patrick foram anunciados até o momento. Alguns destes chegam com status de titular. Outros devem brigar por uma vaga. Mas tudo isso depende muito do que Rogério Ceni está pensando para o São Paulo em 2022. Ao longo da temporada passada, o técnico pediu a contratação de um atacante rápido e veloz para jogar pelos lados do campo e a diretoria ainda busca esse jogador para reforçar o elenco. Soteldo e Douglas Costa foram tentativas frustradas.

Por outro lado, é possível sim pensar num São Paulo mais forte e mais consistente sem esse atacante de velocidade tão pedido por Rogério Ceni, já que o elenco conta com nomes que podem sim trazer alternativas interessantes para o treinador nesse início de temporada. Eu e você sabemos bem que o treinador são-paulino gosta de armar suas equipes num 4-4-2/4-2-4 com muita força pelos lados do campo, intensidade na pressão pós-perda e compactação na frente da sua área. Há como se fazer algumas adaptações nessa formação preferida de Ceni com os reforços que já estão por lá. Rafinha é bem diferente de Daniel Alves em todos os quesitos. Mas o lateral-direito pode se encaixar bem na formação preferida de Rogério Ceni dando bastante qualidade às jogadas de ataque pelo lado do campo. Com a bola, amplitude e profundidade. Sem ela, liderança e orientação dos mais jovens.

É compreensível que Rogério Ceni deseje pontas rápidos e velozes para arrastar as defesas adversárias para a linha de fundo e abrir espaços na área para as chegadas dos atacantes, volantes e até mesmo dos laterais vindo por dentro. Aliás, é preciso dizer que essa movimentação, essa fluidez toda é fundamental para que seu 4-4-2/4-2-4 preferido funcione. Há como se apostar num 4-4-1-1/4-2-3-1 que tenha Nikão e Patrick jogando como os “pontas com os pés invertidos” saindo em diagonal e buscando o gol adversário. Tudo para que Rafinha e Reinando tenham espaço para avançar e buscar a já mencionada linha de fundo. Eu e você sabemos bem que Rogério Ceni é um treinador muito apegado a seus conceitos, mas que costuma abrir mão deles quando a situação exige. Foi assim no Flamengo campeão brasileiro em 2020 quando adaptou Diego Ribas como volante e Filipe Luís como lateral-base.

Há como se pensar num São Paulo mais consistente no meio-campo com Luan e Gabriel Sara protegendo a dupla de zaga e fazendo o jogo andar no setor com bons passes e a movimentação de Luciano e Nikão mais por dentro. Ao mesmo tempo, Patrick pode se transformar no “motorzinho” da equipe no lado esquerdo e dar o toque de força física que fez muita falta na temporada passada. Mais à frente, Calleri seria a referência ofensiva de um time mais vertical e mais objetivo do que o de 2021. Pelo menos no papel. Ainda há nomes como Alisson (que pode exercer o papel do ponta veloz que Rogério Ceni deseja), Marquinhos, Rigoni, Igor Gomes, Léo, Igor Vinícius, Rodrigo Nestor e vários outros nomes interessantes do elenco tricolor.

Diante do material humano que Rogério Ceni tem à sua disposição, é plenamente possível imaginar um São Paulo montado num 4-2-3-1/4-4-1-1 com Nikão e Patrick entrando em diagonal e buscando Calleri e Luciano com Gabriel Sara e Luan aparecendo por dentro. A falta de profundidade e de amplitude seria compensada pelos avanços de Rafinha e Reinaldo ao ataque e com um jogo mais vertical por parte do meio-campo tricolor. Enquanto o tal ponta ainda não vem, essa formação pode funcionar em determinados cenários.

Possível formação do São Paulo no 4-4-2/4-2-4 de Rogério Ceni. Nikão e Patrick pelos lados e profundidade com o avanço dos laterais Rafinha e Reinaldo ao ataque.

É verdade que Rogério Ceni pode optar por outras formações nesse início de temporada para adaptar as características dos jogadores do elenco do São Paulo. Há como se pensar, por exemplo, num 5-3-2 com Léo fazendo o papel de terceiro zagueiro, Patrick junto de Luan e Gabriel Sara no meio-campo e Luciano (ou Nikão) mais próximo de Calleri (ou Rigoni). Ou num 4-1-4-1 que traga Gabriel Sara e Patrick pela esquerda e Alisson abrindo o campo pelo lado direito junto com as chegadas de Igor Gomes. Fato é que existem opções interessantes para Rogério Ceni pensar um São Paulo mais competitivo e mais consistente nesse 2022. Mesmo sem o tal ponta de velocidade pedido por ele nas entrevistas coletivas do ano passado. Por mais que as negociações com Soteldo e Douglas Costa não tenham andado para a frente, é possível pensar num Tricolor Paulista mais forte nesse início de temporada.

A saber, no entanto, como está o nível de paciência da diretoria e da torcida com relação ao trabalho de Rogério Ceni. Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES.COM sabe muito bem que ele (e qualquer treinador do mundo) precisa de tempo e condições de trabalho para implementar seus conceitos num elenco formado por algumas caras novas. Há caminhos que podem (e devem) ser seguidos. Mas diminuir o sentimento de frustração do torcedor do São Paulo parece ser a tarefa mais urgente.

Luiz Ferreira – Torcedores.com