Homenagem: O maravilhoso Cisco Kid, Mário Sérgio

A consternação ainda está muito viva.

Se foi doloroso para o mundo inteiro, imagina, especificamente, para nós, amantes do futebol.

A perda foi muito grande e o vazio parece nos invadir.

Famílias e amigos em plena tristeza e desolação.

Talvez por isso, tenha sido tão díficil escrever sobre um grande craque que perdeu sua vida junto a tantos outros apaixonados por futebol neste voo da Chapecoense rumo a eternidade.

Mário Sérgio Pontes de Paiva nasceu em 7 de setembro de 1950 na cidade do Rio de Janeiro. De família muito humilde foi criado no bairro das Laranjeiras, próximo ao Fluminense, clube do qual seu pai era sócio, e onde jogou futebol de salão por cerca de sete anos. Eram tempos dificeis e embora tenha se destacado, a necessidade de colocar dinheiro em casa o fez largar as quadras em troca do trabalho em uma empresa de processamento de dados.

O amor pelo futebol, no entanto, era maior, e em 1969, foi levado para fazer testes no Flamengo, que logo o contratou. Sua grande habilidade de driblar chegou a ser motivo de preocupação para a comissão técnica rubro negra, sobretudo do técnico Yustrich, que achava que ele segurava muito a bola, em outras palavras, ‘um fominha’. Dono de uma personalidade forte, Mário Sérgio também não perdia a oportunidade de mostrar, fora de campo, como ele era. Aproveitava, como poucos, a vida, sempre com seus cabelos longos e roupas muito coloridas. Isso não passou em vão para Yustrich. Autoritário, o técnico não demorou a bater de frente com ele, e não perdia a chance de chamá-lo de boneca. Mário Sérgio também não deixava por menos e costumava aprontar das suas com o técnico. Depois de muitas brigas, no entanto, Yustrich levou a melhor, ao convencer a diretoria da equipe carioca para que cedesse Mário Sérgio ao Vitória da Bahia.

Em um tempo quando o futebol brasileiro era, mais que nunca, concentrado no eixo Rio-São Paulo, Mário Sérgio surpreendeu a todos ganhando destaque nacional ao defender as cores do rubro negro baiano. Campeão estadual em 1972, ganhou a Bola de Prata, premiação promovida pela Revista Placar, como melhor de sua posição nos campeonatos brasileiros de 1973 e 1974. Suas grandes atuações levaram Francisco Horta, presidente do Fluminense, a trazê-lo de volta ao Rio, mais precisamente para atuar na “ A Máquina”, como ficou conhecida uma das maiores equipes da história do clube. De volta onde tudo começou para ele, ganhou um novo apelido, Vesgo, por conta do hábito de “olhar para um lado e tocar a bola para o outro”. Ainda que tenha sido campeão carioca em 1975, em um time cheio de craques, não costumava aceitar ser sacado do clube, o que sempre foi um grande problema. Acabou sendo cedido ao Botafogo.

Entre os anos de 1976 e 1979 fez parte do time do camburão, apelido dado pelo jornalista botafoguense Roberto Porto, por conta da presença de jogadores polêmicos, todos com a ‘chave da cadeia’, como o próprio Mário Sérgio, Dé, Paulo César Lima, Renê, Perivaldo e tantos outros. No meio de tantos amigos, sobrou pouco tempo para jogar bola e não brilhou de forma tão intensa com a camisa do alvinegro da Estrela Solitária. Foi para o Rosário Central da Argentina, onde foi sozinho, sem a esposa, que acabara de começar seus estudos na faculdade, o que fez sua estadia em terras portenhas ser muito breve, apesar de cheia de atos de indisciplina. Ficou por muito pouco tempo, apenas 4 meses, e logo voltou ao Brasil, a pedido de Paulo Roberto Falcão, para atuar no Internacional. Aliás, para o Rei de Roma, Mário Sérgio foi o jogador mais técnico com quem jogou.

No Colorado, comandado pelo técnico Enio Andrade, Mário Sérgio renasceu. Foi um dos grandes responsáveis pela conquista do único título brasileiro invicto, em 1979. Atacante inteligente, com habilidade única para atuar no meio campo e colocar o bola onde queria, voltou a ganhar a Bola de Prata em 1980 e 1981, o que proporcionou sua contratação pelo São Paulo, outra equipe que tinha como apelido, “A Máquina”. Chegou no Morumbi e conseguiu o que seria improvável, ganhar a posição de um dos maiores atacantes do clube, Zé Sérgio, até então titular da seleção brasileira do técnico Telê Santana.

No tricolor paulista, foi um do grandes nomes da equipe campeã paulista daquele ano. Cracaço de bola em campo, temperamental fora dele. Na final do segundo turno do campeonato paulista, na partida frente ao São José, no Vale do Paraíba, após a torcida local cercar o onibus da equipe, ele abriu a janela e sacou alguns tiros para cima. Dispersão desfeita, a delegação tricolor pode sair das cercanias do estádio Martins Pereira. O episódio fez com que o jornalista Silvio Luiz o desse o apelido de ‘Cisco Kid’. Seu bom futebol o levou a vestir a camisa canarinha. No entanto, sua fama de indisciplinado, fez com que Telê não o levasse para a Copa do Mundo de 1982. No Morumbi também teve atritos com José Poy e foi cedido a Ponte Preta.

Após um curto período na equipe campineira, a pedido do técnico Valdir Espinosa foi contratado pelo Grêmio para atuar na final do Mundial Interclubes de 1983. Foi o cérebro daquela equipe que conquistou o título mundial diante a equipe alemã do Hamburgo, com uma épica vitória por 2 a 1, com gols de Renato Gaúcho. Logo no ano seguinte estaria de volta ao Beira Rio para defender o Internacional. Desta vez ficou por pouco tempo e ainda naquele ano foi contratado pelo Palmeiras, onde viveu uma grande fase. Jogou demais com a camisa alviverde e foi o grande comandante da equipe que liderou boa parte do campeonato paulista daquele ano. Voltou, até mesmo, a ser, novamente, convocado para a seleção brasileira. Tudo ia muito bem, até que acabou sendo pego no exame anti-doping no clássico diante o São Paulo em 9 de setembro de 1984. Suspenso, o fato também afetou a performance do Palmeiras, que perdeu fôlego na competição. Deixou o Parque Antarctica em 1985.

Passou pelo Botafogo de Ribeirão Preto e pela equipe suíça do Bellinzona, até chegar ao tricolor da Boa Terra, o Bahia, em 1987. Se despediu do futebol no meio de muita polêmica, algo tão natural para ele. No dia 4 de outubro, no intervalo da partida diante o Goiás, válida pelo campeonato brasileiro, entrou no vestiário, trocou de roupa e disse que encerraria ali sua carreira. Anos depois, já com a camisa da seleção brasileira de Master, mostrou que poderia ter desfilado seu talento pelos gramados ainda por muito tempo.

Mário Sérgio foi um jogador brilhante, um dos maiores do seu tempo. Espetacular como atacante e meio campista. Dono de seus pensamentos e de suas palavras, o que, certamente impediu que muitos técnicos soubessem utilizar o seu melhor. Azar deles, sorte dos torcedores.

José Renato Santiago 

33 comentários

  1. ” Rei do gatilho”, gênio …, genial.

    Descanse em paz.

    Brilhante em tudo o que fez, intenso e apaixonado, sempre leal e verdadeiro,
    deixará saudade.

    O Futebol agradece sua vida, sua existência e sua memória.

    Muito obrigado Mário Sergio Pontes de Paiva.

    RIP.

  2. Sério, não sei ainda o que pensar e o que falar sobre tudo isso…
    Acabei de ver uma manifestação da torcida do Atletico Nacional cantando o nome Chapecoense e deu um nó no coração…

  3. MAC (sobre Caramelo): “Vamos tentar manter o alinhamento do seu contrato de alguma maneira legal, sem deixar de dar o suporte, para que o clube possa dispor de valores, embora não seja correto perante a lei. Vamos tentar manter a família do menino assistida.”

  4. E a homenagem que está programada para acontecer hoje, no estádio, na hora do jogo, promete ser uma das ações mais emocionantes já vistas.
    Gostaria que a Fox transmitisse ao vivo…seria uma grande homenagem.

  5. Jogava muita bola, e tinha muita técnica.
    Como jogador foi um craque e tinha lances geniais.
    Como técnico fez um trabalho interessante no time sem cor mas com futebol deixando a desejar chegando a ser 3° colocado no Brasileiro de 96 ou 97.
    No SPFC não foi bem como técnico e barrou o último grande batedor de faltas do futebol brasileiro a sair ďo gol pra se arriscar batendo faltas , o que certamente foi um erro e uma falta de visão da mudança de rumo de algumas coisas no futebol.
    Comentando era um desastre, dizendo coisas do tipo “Marcelinho Carioca ser mais efetivo que o Messi”.
    Está na história do futebol Brasileiro como um dos grandes jogadores entre tantos.
    Que descanse em paz, que a família encontre a paz necessária e jogará futebol nos campos dos sonhos com outros tantos que já nos deixaram.

  6. Minha humilde homenagem aos atingidos pela tragédia …, que aqui replico:

    Apesar do silêncio na alma, a tristeza insiste em querer falar.

    Quanto mais o tempo passa, a angústia só faz aumentar.
    Neste jogo que perdemos, o que menos importa é o placar.
    Não contamos as estrelas, pois elas fazem brilhar.
    Atletas, dirigentes, jornalistas, tripulantes e convidados, com todos os seus sonhos a sonhar.

    Nesta humilde prece e singela homenagem, as palavras que não sabem calar.
    Que nossos apelos cheguem ao Pai Celeste …, Ele que tudo pode em nome do amor e amar.
    Conforte os corações em flagelo, atingidos pela dor e unidos neste triste pesar.
    Transforme em paz cada segundo de desespero …, faça da saudade um luar.

    Que toda ausência seja feita em esperança e que toda fé possa se manifestar.
    Plena de alegrias …, ao Altíssimo retornar.
    E assim, no alto dos céus …, ao lado de Deus …, cada lágrima caída da tristeza recolhida, secar.
    Que o vazio de hoje seja nosso futuro pulsar.

    Chapecoense …, guerreiros da tribo …, continuem a lutar.
    Do modo que os sonhos existem a sonhar, a luta consiste no desafio enfrentar.
    Ao seu lado milhões, um verdadeiro exército exemplar.
    Unidos por um brilho no olhar …, um sorriso na lembrança e uma esperança no ar.
    Que todo sofrimento desapareça nas ondas infinitas do mar.

  7. Mário Sergio, como jogador um craque, mas não era apenas isso, era extremamente bem articulado com as palavras. Expunha suas opiniões de uma forma refinada, como poucos. Missão cumprida, Mário Sergio, o eterno “rei do gatilho” do tricolor…que caminhe em direção à luz…

  8. assisti à entrevista do MAC…foi o mais lúcido dos dirigentes até aqui…se mostrou preocupado com as famílias dos jogadores, pois com a morte, o contrato é rescindido e os seguros são irrisórios…o SPFC se preocupa com o Caramelo…os outros clubes, poderiam cada um, “bancar” a família dos demais, pelo menos durante 2 anos….seria o ideal…

  9. Mario Sergio… canhoto, matreiro, encrenqueiro, habilidoso…
    Mas, em uma palavra, como defini-lo?

    Craque!

    Fui privilegiado de assisti-lo seja pela TV seja ao vivo.
    Que descanse em paz!

  10. Craque de futebol e sujeito de personalidade muito forte, embora verdadeiro.
    Não foi bem como treinador e demonstrava muita mágoa/raiva quando precisava comentar sobre o tricolor.

    Que descanse em paz e que Deus dê conforto à família e aos amigos.

  11. Puts acabar com um monte de vida por falta de combustível de um avião é o cumulo.Esse avião nem deveria ter saído chão.E claro o imprevisto de um outro avião estar com problema no mesmo instante.Uma morte idiota,por que o ser humano quer fazer tudo na base da rapidez e da economia.Pode ter sido o acaso,mas o ser humano é 99% desse desastre.

  12. Globo Esporte
    HÁ 27 MINUTOS
    Tozzo sobre a última rodada do Brasileirão

    – Ainda não pensamos. Conversei com o presidente Del Nero sobre a partida contra o Atlético-MG. Ele disse: “Este jogo tem que acontecer. Tem que ser uma grande festa”. Respondi: “Não temos 11 jogadores”. Ele disse: “Tem sim. Vocês têm categoria de base, os jogadores que ficaram. Não importa. Tem que fazer uma grande festa. Chapecó e a Chapecoense merecem”.

    Que ser humano escroto esse Del Nero…

    • Lastimável a imposição deste senhor. “Tem sim. Vocês têm categoria de base, os jogadores que ficaram. Não importa. Tem que fazer uma grande festa. Chapecó e a Chapecoense merecem”. Quem disse que ele tem o poder de julgar e decidir nesse momento se é preciso fazer uma grande festa ou não? Isso cabe ao presidente da Chapecoense, o seu conselho e a sua torcida. Caso queiram que tenha o jogo, jogarão da forma com que acharem melhor. Caso contrário, deve ser respeitado. Ao menos por parte do Atlético já houve a sugestão de não haver jogo, ou seja, a possibilidade de tudo ocorrer da maneira a qual o time catarinense deseja (ter jogo ou não) é bem grande.

      Até mesmo o falecimento do então vice-presidente da confederação o qual ele comanda parece ter sensibilizado-o. É triste ver o tipo de político – não só na esfera esportiva – que estavam/estão no poder.

  13. O que aconteceu foi uma incrível fatalidade, tem muita gente por aí querendo culpar, piloto, companhia aérea, Chapecoense. Afinal, tudo foi uma casualidade enorme! Calhar de dois aviões precisando fazer a aterrissagem com o mesmo problema da falta de gasolina. Não fosse isso, estariam todos vivos. O combustível que o avião gastou para dar duas voltas de espera, daria para se aproximar do aeroporto e pousar.

    • Me permita discordar, mas a falta de combustível foi o causador de toda essa tragédia… o que deveria haver de combustível teria que dar para ele ir a outro aeroporto e ainda sobrevoar a área por no mínimo 30 minutos e não apenas dar duas ou três voltas aguardando a sua vez de pousar. Foi falha humana e exclusiva do piloto, que é quem programa toda a viagem, inclusive calculando a quantidade de combustível necessária não só para a viagem mas para os imprevistos, coisa que não aconteceu de forma correta.

      E não é nossa cultura… é observar vários comentários técnicos para se ter uma ideia do ocorrido e neste caso em particular, por tudo o que foi apurado até agora, tudo leva para o piloto.

      Depois, através de novos fatos e análises poderemos ter a confirmação disso ou novos focos para a tragédia.

      • Esses aviões são de médio porte e carregam combustível um pouco acima do limite do percurso. Transportaram nesse mesmo trajeto a seleção argentina, o time do Atl. Nacional, a própria Chapecoense em outra fase da competição e outros times. Acredito que a fatalidade e a infelicidade de dois aviões pedirem permissão de pouso ao mesmo tempo foi a causa. Agora só a perícia nas caixas pretas para esclarecer.

    • Não conheço regras de aviação, então não posso opinar. O que ouvi (e não posso atribuir conhecimento técnico) é que um avião não pode chegar no destino no limite do combustível, tem que ter margem para eventual atraso.

      Se isso for verdade, errou o piloto e a via aérea (dele). Se não for. Estamos todos em risco.

    • O plano de voo deve dar ao piloto combustível para uma saída de emergência e de espera. Nesse caso, o avião foi no limite.

      À titulo de exemplo, quando você vai pra alguma cidade, como de Brasília para São Paulo. Se o piloto constatar que não conseguirá pousar em São Paulo, ele DEVE ter disponível no avião combustível para pousar em Campinas, por exemplo.

      O que se viu foi diferente. A tragédia poderia ter sido evitada. E detalhe: Que se aplique a teoria do risco integral e todas as famílias sejam indenizadas.

  14. Eu vi jogar e era fã dele! Na época dele, era disparado o melhor do Brasil na posição. Deixou saudade quando saiu. Aquele time com Waldir Peres, Getulio, Oscar, Dario Pereyra, Airton, Marinho Chagas, Paulo Cesar, Renato Pé Murcho, Serginho Chulapa e Mario Sérgio, era um time de sonhos… Um timaço, a Máquina Tricolor…

  15. O que você pode espearr de um cara que não pode sair do Brasil para não ser preso pela Cia. Esse é o retrato do País do Lula, Dilma, Eduardo Cunha, Aécio Neves, Zé Serra, etc.etc. etc. Agora mesmo a Câmara e o Senado estão decepando as 10 medidas anti corrupção colocando penalidade ao Ministério Público pelo simples motivo da Lava Jato estar fazendo estragos naquelas casas de falcatruas.

O São Paulo precisa de nós! Vamos apoiar!