Ricardo Gomes é o novo técnico do São Paulo. A decisão da diretoria de optar por um técnico brasileiro e, por Ricardo Gomes, incomodou boa parte dos torcedores. Há motivo para tanto desespero ?
Começo desde já deixando bem claro, que o ideal para este momento em minha opinião, seria o clube manter o técnico André Jardine no time profissional até o final do ano, para então optar por um novo treinador, possivelmente, estrangeiro. Como mencionei em minha coluna anterior, podemos ser campeões da Copa do Brasil ? Podemos. Podemos chegar ao G4 do Campeonato Brasileiro ? Podemos. Há chance. É improvável.
O mais importante para o torcedor nesse momento, é enxergar a realidade do clube. Embora a chance de ser campeão da Copa do Brasil por exemplo, exista, até mesmo por ser um torneio de mata-mata, é importante ter em mente que caso o São Paulo consiga tal feito, será algo muito além das expectativas. Não temos time, muito pouco menos elenco e organização para chegar ao título da competição. Existem times que hoje estão muito a frente do São Paulo, quanto a organização. Grêmio, Santos, Palmeiras, são somente alguns exemplos. O mesmo vale para a disputa do G4 no Campeonato Brasileiro. Também é possível, mas pelo time e elenco que temos, pela mudança de técnico, de filosofia, é improvável que alcancemos ao menos a quarta colocação, torcendo ainda para um time brasileiro não ganhar a Copa Sul-Americana (o que tiraria uma vaga do Brasileiro).
A diferença, pode alegar o torcedor, não é muito grande, mesmo para o líder, que vem permanecendo nas últimas rodadas sempre por volta da casa dos 10 pontos. Porém, são 10 pontos com 9 times na nossa frente. É diferente de termos 10 pontos com 3 times em nossa frente, é mais provável você crescer de rendimento, ver os outros oscilarem e chegar na liderança. Com 9 times tendo de patinar, não.
E é necessário que nosso novo comandante chega. Tendo de lidar com a insatisfação da escolha por parte da torcida, com um elenco fraco e um ano comprometido. Gosto de Ricardo Gomes. Considero um bom técnico. Possui títulos na França, onde já treinou o PSG, O Monaco e o Bordeaux, foi bem no São Paulo e no Vasco e mesmo estando na zona do rebaixamento com o Botafogo, seu trabalho não é ruim. O time é ruim. Porém, é extremamente bem organizado, se utiliza a base e o elenco é unido, até mesmo por isso, o time não está em situação pior do que a atual.
Há muitas críticas ao nome de Ricardo Gomes, por diferentes motivos. O primeiro, e mais compreensível, é sua saúde. De fato é algo que me preocupa um pouco. A pressão no Botafogo é ínfima, enquanto no São Paulo será enorme, o que pode prejudicar sua saúde. Ricardo está recuperado do AVC, mas ainda sofre com efeitos colaterais, como a dificuldade visível de formular frases sem gaguejar ou enroscar mesmo que apenas algumas vezes. É um ponto a se pensar.
Outra crítica é referente ao estilo do treinador, sempre sereno e calmo. Não vejo como um problema, sou averso a ideia de que treinador precisa ser digamos, ”cascudo” com o elenco. Não me lembro do Guardiola praticamente apontando uma .50 para a cabeça de um jogador como muitos pedem ou fazendo um escândalo todo jogo a beira do campo, como Felipão. Nem por isso perde o controle do grupo. O que se fala é que Ricardo Gomes pode sofrer exatamente pelo elenco do São Paulo ter alguns ”figurões”, como Michel Bastos. Bom, é verdade, mas Michel e outros devem sair no próximo ano, é um problema a curto prazo. E mais uma vez, reforçando, se comenta que o grupo do Botafogo é extremamente unido, mesmo com a serenidade do agora ex-técnico do time.
Mas talvez a crítica mais comum seja quanto ao fato de Ricardo Gomes ter sim, feito bons trabalhos antes do AVC, mas que 5 anos após o problema e seu afastamento do Futebol, as coisas mudaram, o esporte já não é mais o mesmo ou não pode ser enxergado da mesma forma. Ou seja, um problema quanto a tática que o treinador pode vir a utilizar, um ”mais do mesmo”. É inegável que não podemos esperar de Ricardo Gomes, uma inovação, uma revolução como tivemos com Osório no modo de pensar o futebol, mas se formos levar em consideração seu trabalho no Botafogo, que é o que temos como referência até o momento, o treinador não vem sofrendo como se propaga, por isso. Repito, o time carioca é dos mais limitados, porém, se mostra organizado e unido. Não é um bando em campo ou uma terra de ninguém.
Uma crítica que não recai sobre o treinador mas sim sob sua vinda em si, era a possibilidade de André Jardine permanecer no cargo, ao menos até o final do ano. Como disse, creio que o ideal seria realmente mantê-lo até o final do ano para então trazer um técnico de fora, porém, isso não pode ser usado para simplesmente querer detonar Ricardo Gomes. Se diz que com Jardine, teríamos a base ganhando o espaço que merece no time e saberíamos trabalhar melhor com o que temos, pois o até então interino, não pediria reforços. Primeiro que é evidente que nem ele e nem Ricardo devem pedir reforços a essa altura do campeonato, com janela internacional fechada e praticamente todos os jogadores da Série A com 7 jogos e sem nenhum grande destaque nas séries inferiores. Segundo que o fato de André Jardine ter sido até então o treinador da base do São Paulo, não quer dizer que o mesmo só irá usar jogadores que ele trabalhou nas categorias de base ou algo próximo disso. No jogo contra o Santa Cruz, além do estilo de jogo mais ofensivo do técnico, o que se percebeu de novo na escalação foi a mudança de posicionamento na volancia do time. Nada de um time formado quase que exclusivamente por jogadores vindos das categorias de base. É simplesmente ser lunático pensar que Jardine colocaria praticamente toda a base em campo em detrimento do elenco que o time já tem. Poderia até mesmo acabar tendo problemas com elenco caso o mesmo o fizesse.
Há o exemplo de Zé Ricardo. Assumiu o time quando o Flamengo ainda tinha um elenco fraco e mesmo o time titular, sendo no máximo, razoável, nem por isso povoou o time principal com jogadores de base. Agora então, com o elenco recheado e um time titular bem melhor, isso fica ainda mais claro. O treinador tem e vai escalar o que tive de melhor, não despejar jogadores da base só pelo fato de ter trabalhado com os mesmos anteriormente. Ainda vale lembrar para quem tanto fala dos exemplos do Flamengo com interinos que, Andrade e Jayme desapareceram depois que ganharam o Brasileiro e a Copa do Brasil, respectivamente. Foi um trabalho a curto prazo. E isso não é bom. Andrade ganhou o Brasileiro. O que o Flamengo ganhou depois disso ? Jayme ganhou a Copa do Brasil. O que o Flamengo ganhou depois disso ?
O torcedor tem de deixar o senso imediatista de lado. Pode parecer ótimo manter o interino para talvez, acontecer o mesmo e ganharmos, sei lá, a Copa do Brasil neste ano, mas e depois ? Vamos ficar mais anos e anos sem títulos por um planejamento errado ? Por ter mantido alguém no cargo, sem ter a confiança plena da diretoria e que caiu no primeiro derrape ? Prefiro pensar a longo prazo. O São Paulo precisa voltar a ser São Paulo, voltar a ter anos e anos de glórias, e não ficar preso a uma vontade alucinada do torcedor (compreensível) de ganhar títulos agora e deixar o depois para amanhã. Mas para isso…

Falta de Coerência: Gosto de Ricardo Gomes. Mas sua escolha foi incoerente. Assim como a de Bauza. Saímos de um ”revolucionário”, que era Osório, e fomos para Bauza, que é exatamente o contrário e agora estamos com Ricardo Gomes que não tem nada a ver com os dois. Descartei Doriva por ter sido apenas mais uma das bombas de Carlos Miguel Aidar.

Falta de Coerência ²: A torcida também tem sua parcela de culpa. Assim como as demais do Brasil, age por impulso e emoção. Com Osório, se reclamava que o treinador era muito ofensivo, ”louco”, a torcida clamava por alguém que não ”inventasse” e fizesse o ”simples”. Veio Bauza. Era o que a torcida tinha pedido. Não é ofensivo, privilegia a defesa, faz o simples e vai bem em mata-mata, outra reclamação do torcedor, cansado de passar vergonhas nessas competições. Então, passou a reclamar que o treinador era ”retranqueiro”, insistia muito com os mesmos jogadores e não mudava o time nunca e que só ia bem em mata-mata. Agora, já existem torcedores até mesmo questionando quem se quer como técnico após a demissão de Ricardo Gomes. Não iria comentar o assunto, mas realmente a torcida do São Paulo é a melhor quando quer. No restante do tempo, infelizmente dá razão a gente como o Elias…

Saída de Centurión: Que seja feliz no Boca Juniors. Não é mal jogador mas sim como no Genoa, teve problemas ao sair do seu país. Ficou depressivo com poucas semanas no Brasil, teve problemas com a mulher que teve câncer… Se for bem, podemos conseguir recuperar o investimento feito nele, ao menos. O problema é que com a escassez de jogadores, passamos a ter, mesmo com seu baixo rendimento, uma carência ainda maior no elenco…

Perspectivas futuras: Nesse momento, nenhuma. Infelizmente vejo um futuro um tanto quanto nebuloso para o São Paulo nos próximos meses, talvez anos. Temos um clube dominado por pessoas podres, em maior número, em ambos os lados e a expectativa de melhora, de minha parte, é ínfima. É torcer para algo acontecer, eu estar errado e sairmos dessa situação…

Por: Gabriel Mazzo