Que o dia 12 de dezembro de 2012 seria marcado por fortes emoções, isso o técnico Ney Franco já sabia. O que o comandante do São Paulo não poderia imaginar era que durante o intervalo da final da Copa Sul-Americana contra o Tigre, no Morumbi, uma verdadeira pancadaria tomaria conta dos corredores que dão acesso aos vestiários do estádio e anteciparia o fim daquela partida.

Ney Franco viveu tudo de perto, presenciando cenas lamentáveis, como um segurança do São Paulo com o braço quebrado ao ser atingido por membros da delegação do Tigre, que tentou invadir o vestiário dos donos da casa após deixarem o gramado ao fim do primeiro tempo com a derrota parcial por 2 a 0.

“Na época os vestiários do São Paulo tinham armários de pau, e eles [jogadores do Tigre] arrancaram algumas ripas de pau, teve uma batalha dentro dos corredores, espaço pequeno. Me lembro bem que no nosso vestiário tinha uma porta que dava para o corredor, eles tentaram até uma invasão ao nosso vestiário”, relembrou Ney Franco em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

“A gente percebia muita gritaria, muita confusão. Teve um momento que a porta se abriu e passou um segurança com o braço quebrado, se eu não me engano, com fratura exposta. Isso marcou bastante os atletas. A gente fez um intervalo diferente, um pouco longo, e retornamos para o campo sem muitas informações”, completou.

Estopim da briga

Mas, qual foi o motivo para tamanha ira dos argentinos? Embora o fato de Lucas Moura ter tirado o algodão sangrando de seu nariz ao fim do primeiro tempo e mostrado ao lateral-esquerdo Orbán, responsável pelo ferimento do jogador são-paulino, o que, de fato, aborreceu o elenco do Tigre foi a proibição para aquecer no gramado do Morumbi antes de o jogo começar.

“A gente teve uma confusão antes do jogo, na época por alguma decisão da diretoria. Não foi a comissão técnica que proibiu o Tigre de fazer o aquecimento no gramado. A gente nem sabia que isso tinha acontecido. Já teve um desgaste antes dos atletas com a segurança do São Paulo. Não sei quem teve essa decisão de não deixá-los aquecer dentro do campo. A equipe do Tigre já entrou com esse lado mental mudado, isso era nítido no primeiro tempo”, comentou Ney Franco.

O ato de Lucas Moura, inconformado com a violência dos adversários no primeiro tempo, foi apenas o estopim da grande confusão que os jogadores do Tigre já pretendiam protagonizar em algum momento da final.

“Na minha opinião, era para ter jogadores do Tigre expulsos no primeiro tempo. Eles tentaram parar o São Paulo e não conseguiram, foi 2 a 0 no primeiro tempo, e no segundo tempo poderíamos fazer 3 ou 4 a 0. Eles tentaram fazer um jogo violento, o Orbán, lateral-esquerdo, dá uma pancada no Lucas, que foi o que originou tudo. O nariz do Lucas sangrou. Ao término do primeiro tempo, ele tira o algodão do nariz e mostra para o Orbán. Ali já chegaram outros jogadores do Tigre e geraram uma confusão”, disse o ex-técnico do São Paulo.

Violência e catimba já no jogo de ida

A postura violenta do Tigre, entretanto, não foi exclusividade do confronto disputado no Morumbi. Na partida de ida, na Bombonera, os jogadores argentinos já haviam apelado para a força física e provocações na tentativa de superar o São Paulo, forçando, inclusive, a expulsão de Luis Fabiano, que se tornou um desfalque de peso para o jogo de volta.

“Interessante que no primeiro tempo, lá na Bombonera, já foi um jogo catimbado, com o Luis Fabiano expulso. Confronto de uma equipe muito técnica contra uma equipe que veio para a final tentando parar o adversário na pancadaria, em muitos momentos sendo desleal”, prosseguiu.

O veredito

Apesar das cenas lamentáveis nos corredores do Morumbi, os jogadores do São Paulo foram a campo para o início do segundo tempo. O elenco do Tigre, por sua vez, não fez o mesmo. Passados alguns minutos de espera e em meio a uma grande festa da torcida, que lotou o estádio, a Conmebol decidiu decretar a vitória do Tricolor, que conquistava, portanto, o primeiro título da Sul-Americana de sua história.

“A gente não sabia a gravidade do que tinha acontecido, a gente viu um segurança com braço quebrado, mas em momento nenhum passava pela nossa cabeça que o adversário não voltaria pro campo. Aí chegou um momento que o Tigre definiu que não voltaria para o jogo. E toda a direção da Conmebol desceu ao gramado, foi montado o palco e fizemos a nossa comemoração do título. O ideal é que não fosse dessa forma, que tivesse o segundo tempo, a gente estava numa noite muito inspirada, a equipe estava jogando muito bem. A festa talvez seria maior, até com mais gols, essa era a nossa expectativa para o segundo tempo”, concluiu Ney Franco.

Gazeta Esportiva