A irritação dos jogadores do São Paulo com o técnico Rogério Ceni foi ganhando contornos de crise à medida que a presenças deles no departamento médico foi aumentando em função das mais variadas contusões. Segundo alguns atletas, a “intensidade” na carga de jogos e treinos foram determinantes para que ocorressem, não para todos, evidentemente, as lesões.

Isso porque é preciso fazer uma análise global da situação. Dos 16 casos de contusões, nem todas podem ser atribuídas ao excesso de jogos e treinamentos. O próprio Rogério Ceni admitiu que as contusões provocaram a diminuição do elenco, assim ele se viu obrigado a escalar jogadores mais vezes do que alguns tinham condições de suportar. Ao ouvirem essa “confissão de culpa”, o clima do elenco com o treinador ficou ainda mais pesado.

A diretoria, que poderia agir para apaziguar os ânimos, tomou uma decisão que só fez aumentar a chateação dos jogadores. O presidente Julio Casares escolheu um culpado pela demora na recuperação dos jogadores e demitiu o médico Tadeu Moreno. Além disso, José Sánchez, um dos médicos mais antigos do clube, foi levado para o cargo de coordenador de transição e deixou de trabalhar no CT da Barra Funda.

Os médicos Ricardo Galotti e Fábio Luiz Novi, que trabalhavam nas categorias de base no CT de Cotia, foram chamados para ocupar os cargos. Três jogadores ouvidos pelo UOL, um deles que é ex-atleta do clube, mas possui relação com muitos dos que estão no atual elenco, confirmaram a insatisfação do elenco com a carga de treinos e não concordam com a saída dos dois médicos.

Procurados, os dois médicos não responderam às mensagens. Curiosamente, enquanto apurava sobre a insatisfação dos atletas, um médico, que é especialista em medicina esportiva, entrou em contato com a reportagem e fez alguns questionamentos. “É um absurdo demitir um médico dando a entender que ele é o culpado pelos problemas de contusões”, afirmou o profissional, que pediu para não ter o seu nome identificado.

Segundo ele, se a diretoria do São Paulo tem elementos que comprovem que a conduta do médico não foi adequada, então o clube deveria, formalmente, fazer uma denúncia ao CRM (Conselho Regional de Medicina). “Não conheço esse médico, mas me desagrada profundamente ver como esse colega foi tratado. Ele deveria também, caso o São Paulo não prove a má conduta, levar o caso à Justiça. Eu procurei você porque vejo que o nome do médico está em todo o lugar dando a entender que a culpa das contusões é somente do médico. Imagine quantas e quantas pessoas vão deixar de procurá-lo só porque consta que ele é o médico demitido do São Paulo”, disse.

Por trás disso também está uma vitória particular de Rogério Ceni, que jogou no profissional a culpa pelo gol que determinou a derrota no clássico para o Palmeiras, pela fase de grupos do Paulistão do ano passado. No começo da partida realizada no Morumbi, o zagueiro Diego Costa precisou sair de campo para atendimento médico. Com um a menos na defesa, o Palmeiras construiu a jogada que terminou no gol de cabeça anotado por Rony.

Após o clássico, bastante irritado, Rogério Ceni repreendeu publicamente o médico, o que já havia feito durante a partida, e disse que Diego Costa não deveria ter sido conduzido pelo profissional para entrar pela direita, já que o defensor precisou cruzar o campo para ir até o setor onde atua. Por fim, o que restava de cordialidade entre jogadores e Rogério Ceni se foi com o bate-boca do treinador com o atacante Marcos Paulo, na reapresentação do elenco, na última quarta-feira, no CT da Barra Funda.

A crise de relacionamento na relação com Rogério Ceni beira o insustentável, mas a diretoria aposta que esse período sem jogos, apesar do prejuízo financeiro e técnico, servirá para acalmar a situação. Tanto que o treinador prometeu melhorar o comportamento e aceitou o pedido do elenco de não ficar um período concentrado no CT de Cotia. Eliminado do Paulistão, o Tricolor só voltará a campo no mês que vem com as estreias na Copa do Brasil, Sul-Americana e Campeonato Brasileiro, o único com o adversário e datas confirmadas. O duelo será contra o Botafogo, no dia 15, no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro.

Luis Rosa

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