Quando falamos de base, há mais do que só uma taça em jogo – A Copinha 2023 do São Paulo

Os resultados deixam esse texto difícil de ser feito, mas ele deve ser feito independente dos placares. O fato é que o São Paulo teve dois bons resultados na Copa São Paulo, são sete gols marcados, nenhum gol sofrido, uma vitória por 3 a 0 na estreia e a classificação garantida com uma goleada por 4 a 0. Esse é o cenário perfeito, porém, outro fato é que isso não conta tudo que é preciso falar sobre esse time.

Começamos falando da lista, para tentar explicar um pouco do que acontece em campo. O São Paulo deveria imaginar a provável convocação de Patryck para a Seleção, é um dos jogadores da base com mais participações na Seleção Brasileira, por muitas vezes o único nascido em 2003 da Seleção sub-17 e sua vaga na sub-20 tinha uma alta chance de acontecer. Não que ele não pudesse estar na lista da Copinha, mas causa espanto quando a gente olha para as outras opções. 

Deixaria o texto ainda mais longo listar todas as opções que existiam para as laterais, com jogadores de ofício e que atuaram ao longo do ano. São opções que fariam com que o São Paulo não reinventasse a posição, de um lado testando Rafael Luiz, que faz sua estreia pelo clube e do outro improvisando Luís Felipe, que atuava entre o meio e o ataque, justamente na Copa São Paulo. 

Isso não é uma crítica aos jogadores, que são boas apostas. Rafael, por exemplo, chegou até a ser convocado pela Seleção e já jogou profissionalmente na Ferroviária.

Porém, existiam opções, jogadores da função, que atuaram em 2022 como laterais no clube, jogadores com passagens por Seleção. Entre dispensados, negociados, fora da lista por opção, lesionados e até promovidos para o profissional, mesmo os torcedores que não acompanham vão lembrar alguns bons nomes, inclusive nomes do sub-17.

Isso nos leva ao segundo tópico sobre a lista da Copa São Paulo: a ausência de atletas mais jovens. Dentre os quatro grandes do estado, o São Paulo tem o elenco mais velho da Copa São Paulo, é o que menos levou atletas nascidos em 2005, apenas três e o único que não tem sequer um atleta nascido em 2006 no grupo. 

Para exemplificar, na sua lista inicial, o Palmeiras teve cinco jogadores nascidos em 2005, um de 2006 e Estevão William, nascido em 2007. No Santos foram seis atletas de 2005 na lista inicial e dois nascidos em 2006. O Corinthians também levou seis jogadores de 2005 e tem outros três atletas nascidos em 2006. 

Esse é um dos sinais da distância entre as comissões do sub-17 e do sub-20 em Cotia, que já ficou visível ao longo do ano. Os atletas sub-17 foram pouco utilizados na categoria de cima, que ao longo desse período da nova gestão teve muitas contratações.

Independente de quanto tempo de jogo um atleta mais jovem terá em uma Copinha, essa experiência, treinar e estar com os mais velhos, ela tem uma importância tremenda na formação, em especial daqueles que são considerados acima da média. 

O São Paulo falhou nesse sentido ao longo da temporada e essa falha, mesmo com o acerto de levar Newertton, Andrade e Enzo para a Copinha, culmina em uma participação, que pode e deve ser boa, mas que não maximiza o potencial desses atletas no torneio mais importante do futebol de base do Brasil. E tinham atletas que mereciam esse espaço, como William Gomes, de 2006 e vice-artilheiro do time sub-17 na temporada ou Guilherme Fumaça, um dos destaques da categoria, que também é de 2006. Além de alguns nascidos em 2005, como Alves e o lateral-direito Maik, o segundo não só pela qualidade, mas pela necessidade da lista.

Falando do campo, a realidade que deve ser encarada é que, apesar das boas vitórias, esse é um trabalho que está nos seus primeiros momentos e provavelmente Belletti ainda não tem um conhecimento profundo do seu elenco, ainda mais com as várias contratações que aconteceram nos últimos anos e que em sua maioria deixaram o clube em variados momentos. 

Há alguns problemas visíveis no time e que preocupam, principalmente pensando em enfrentar adversários mais fortes nas fases decisivas. Os jogos mostram um time que tem dificuldade para começar a construção da jogada e de fazer seu jogo fluir. Pelos lados do campo, os laterais oferecem pouca opção para a saída de jogo. O meio de campo também mostra um espaçamento grande, com uma sobreposição de funções entre Vinícius e Léo Silva, em que nenhum deles consegue se aproximar da defesa para construir um pouco melhor o jogo.

Não por acaso, o time melhorou muito quando Negrucci, um primeiro volante de fato, entrou em campo. Verdade que isso também aconteceu quando havia vantagem no placar ou quando a vantagem aconteceu logo em seguida, o que facilita o jogo, mas não muda a disposição mais coerente que se vê do time.

Belletti já falou sobre um time competitivo, a gente percebe uma visão de resultados nesse novo projeto, que faça atletas capazes de competir sempre. Os resultados vão poder falar um pouco disso, mas lembrem, o maior campeão da Copinha, revelou menos em gerações extremamente competitivas no torneio, do que times que não venceram. Então tem que ter em mente que resultado não revela jogador. Pode até ajudar às vezes, mas não é o essencial.

Essa pode ser uma amostra do que aparenta ser uma nova filosofia do CFA Laudo Natel. É o segundo treinador com o mesmo perfil: jogador bem-sucedido, iniciando nova etapa na carreira, buscando projeção para o profissional. Ou seja, treinadores que geram mídia para a categoria pela fama como jogadores, mas que ao mesmo tempo precisam de resultados rápidos para sua aspiração profissional. 

Ao torcedor são-paulino preocupado com Cotia como um ambiente de formação de atletas, capaz de continuar municiando o time principal, a atenção pode estar no torneio, na qualidade individual de alguns atletas, mas é mais importante olhar para como será a política do São Paulo em relação ao CFA ao longo de 2023. 

Como fica a aproximação de sub-17 e sub-20? Teve sentido fazer tantas contratações? Como vai contratar em 2023 para a base? Qual é o projeto de Cotia atualmente? Qual o perfil de jogador que o São Paulo vai buscar na base em cada categoria? O que o São Paulo vai incentivar no jogo dos seus atletas? Tudo isso importa mais do que qualquer título.

Quando o assunto é base, não só há muito mais, sequer é a taça que de fato está em jogo.