Faltando poucos dias para a Copa do Mundo de 1974, a Seleção do Uruguai solicitou ao São Paulo a liberação de Forlán e Pedro Rocha para concentração e amistosos preparativos. Por essa cessão, a associação uruguaia e o Tricolor combinaram um jogo amistoso beneficente no Estádio Centenário, em Montevidéu.

O São Paulo vinha embalado, estava invicto há 18 jogos. Não sabia o que era derrota desde fevereiro, quando perdeu por 1 a 0 para o Cruzeiro, no Mineirão. Havia acabado de vencer o Jorge Wilstermann, em casa, por 5 a 0, em jogo valendo pela Copa Libertadores da América, onde liderava o seu grupo – naquela temporada o São Paulo foi vice-campeão da competição. A delegação embarcou para o país vizinho no dia 9 de maio. Lá, ainda teriam tempo para um treinamento físico e para Poy decidir a escalação. O Tricolor estava desfalcado de Terto, Ademir e Paranhos, que nem viajaram. Piau estava com os olhos inflamados e também não era certo que jogasse. Na capital uruguaia, os dirigentes locais tentaram convencer a comitiva tricolor a deixar Pedro Rocha e Forlán atuarem pela Celeste, ou ao menos um tempo de jogo em cada time. Não houve acordo: jogariam pelo Tricolor, inclusive Forlán, que já havia se apresentado à seleção, e mesmo entrado em campo contra a Irlanda.

O Uruguai, cabeça de chave da Copa do Mundo daquele ano por ter sido semifinalista da competição em 1970, havia vencido a Seleção da Irlanda, no dia 8 de maio, em casa, por 2 a 0, com dois gols de Morena. Era a oitava partida preparatória da equipe, mas somente a primeira de Forlán junto a eles. Os destaques daquele time uruguaio eram, além de Rocha e Forlán, o goleiro Mazurkiewicz, do Atlético Mineiro, os meias Cubilla e Castillo (esses não atuariam no amistoso), além do lateral Pavoni – que faria o único gol da Celeste na Copa do Mundo daquele ano. A equipe não era unanimidade, por isso a imprensa local aprovou a realização do amistoso contra o forte Tricolor, afirmando que seria o teste ideal e mais difícil da Celeste. A expectativa para o jogo foi grande. Mobilizada, a torcida adversária lotou o Estádio Centenário: 55 mil pagantes, mais de 70 mil presentes.

Emoção desde o início” – Essa foi a chamada da reportagem do O Estado de São Paulo, de 12 de maio, sobre o jogo ocorrido no dia anterior, em Montevidéu. Destaca ainda que o jogo foi “definido como ‘empolgante’ pelos próprios comentaristas locais“. Foi muito mais que isso. Logo aos três minutos de bola rolando, Waldir Peres fez uma defesa espetacular após o chute do lateral Pavoni. O São Paulo se acertou em campo, porém, e com um toque de bola cadenciado passou a controlar a partida. O Tricolor atuava em um ‘4-2-4 clássico’, da época, para tentar furar o sistema uruguaio que, apesar de fortemente defensivo, não impedia que ameaçassem a meta do goleiro são-paulino. O primeiro tempo chegou ao fim sem os zeros deixarem o placar, mas não por falta de oportunidades dos dois lados.

Pouco após o recomeço do jogo, aos três minutos, o lance decisivo da partida, o momento épico e inesquecível para quem lá esteve presente: Pablo Forlán lançou a bola para Pedro Rocha, que avançou adentro da área da Celeste, cara a cara com o goleiro, e a desviou sutilmente para o fundo do gol. Gol do São Paulo, gol dos uruguaios do Tricolor!

Pare e imagine como foi esse gol: Você é um jogador profissional, capitão da equipe. O jogo que se desenrola acontece no principal estádio de seu país, local que sempre considerou um verdadeiro templo de fé. Lotado! Os times são muito bem conhecidos por você. Um deles é a seleção de sua terra natal. O outro, um clube que passou a amar e a respeitar absolutamente. Pense que o manto que veste não é o de sua pátria, mas sim o deste clube, e que com esta camisa marque o gol da vitória contra seus conterrâneos, calando por breves segundos a todos presentes, até que uma majestosa salva de palmas rompe gradativamente o silêncio sagrado. 

Após a ovação generalizada, o restante do jogo passou ofuscado. O Uruguai partiu desesperadamente ao ataque, mas todos foram contidos pela defesa são-paulina, principalmente pelo goleiro Waldir Peres. Mesmo a expulsão de Gilberto, ao fim do jogo, não pôs risco ao placar. No dia seguinte à partida, os jornais uruguaios destacavam o valor do embate e o desempenho do São Paulo, “digno representante da escola brasileira”, mas principalmente a atuação de Pedro Rocha, naquele dia em que o capitão marcou um gol contra a própria pátria. 

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11.05.1974

Amistoso Internacional
Montevidéu (Uruguai). Estádio Centenário
Seleção do Uruguai 0 x 1 São Paulo Futebol Clube

SPFC: Waldir Peres; Pablo Forlán (Nelson), Samuel, Arlindo e Gilberto Sorriso; Chicão e Pedro Rocha; Mauro Madureira, Mirandinha, Zé Carlos e Piau (Teodoro). Técnico: José Poy.

Uruguai: Hector Santos, Mario Gonzalez, De Simone, Masnik, Pavoni, Cardaccio (Rivero), Gomes, Jimenez, Morena, Mantegazza, Corbo (Millar). Técnico: Roberto Portada.

Gol: Pedro Rocha, 3min/2ºT

Árbitro: Hector Borra (Uruguai)
Renda: Pesos 50.000.000,00
Público: 55.000 pagantes, +70.000 presentes
Cartão Vermelho: Gilberto Sorriso

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