Ultimamente, vemos na TV um repeteco de algumas falas do início dos anos 2000, fim dos anos 90 quando programas esportivos passavam um largo tempo alimentando discussões inúteis que mexiam com o emocional e o passional dos torcedores. Uma época em que poucos programas e canais dominavam a audiência e não havia opção em caso de não querer assistir aquilo.

Para puxar apelo e dar repercussão, alguns apresentadores, programas de emissoras grandes até, usam bordões, criam polêmicas apelativas para engajar e gerar audiência. É mais velho que andar pra frente isso. Quando eu era moleque, me incomodava e eu reagia. Hoje, sinto asco total e cada vez mais desprezo.

Bom, mas para que este texto já que não te incomoda?

Não incomoda o que esses caras falam, mas me incomoda ver sãopaulino cair na pilha. Então, como aqui falamos deste clube, que por mais sofrido que esteja, ainda é nosso, nosso amor está aqui. Então vamos esclarecer um pouco essa palhaçada de Telê x Abel, dita por Neto.

Obviamente, Abel Ferreira é bom treinador. Conseguiu resultados expressivos, números. Ele é um treinador que visa resultado e vem conseguindo. Transformou o Palmeiras, um time de FAX e dependente de esmolas de torcedores ricos para ser algo em um time que passou a ter mais respeito.

Telê, não é só do São Paulo. É um patrimônio do futebol mundial. Ele inspirou Cruyff, Guardiola, Bielsa, grandes nomes consagrados com histórias incríveis e encantou o planeta no Brasil com as Seleções e com o próprio Tricolor.

Telê queria impor, vencer, jogar futebol, ele pegava qualquer jogador e transformava, tinha visão. Abel pega o time que mais tem caixa, contrata e reage, não joga. Telê se impunha, jogava.

Telê pegava o Real Madrid na Espanha e moía. Times com Stoichkov, Papin, Maldini, Baresi, Koeman, Guardiola não só perdiam como se apaixonavam. Abel chega no Mundial e chora, é moído por um Chelsea medíocre, conseguiu nem à final ir em uma edição, derrotado por técnicos e times europeus sem jogar, só se defendendo e jogando por uma bola. Como foi contra Santos e Flamengo na Libertadores. Tem méritos óbvios, mas existe um universo entre reagir e jogar futebol. Você vence, mas não encanta, você sai com a vitória mas não conquista.

Não se trata de taças, porque Telê ganhou de 90 a 94 no São Paulo, um número tão grande de troféus e teve conquistas tão expressivas, que transcendiam o Brasil, a América e encantava o mundo. Não se trata de clubismo. Telê fez uma Seleção jogar bola de um modo estupendo que até hoje se fala dos times que não venceram. Abel quando parar, pode ter 40 títulos que não falarão de seu estilo e sim de como era expulso, de como não tinha modos, de como não sabia perder, de como jogava feio e como até mesmo a torcida queria sua cabeça porque mesmo ganhando, nem eles suportam o cara.

Telê no São Paulo é amado, idolatrado, virou ícone, virou bandeira, virou canto. Telê virou lenda. Abel é bom técnico. Mas comparado com o que Jorge Jesus fez no Flamengo, é nada. Futebol é mais que só taça. Título por título, só os Mundiais que são o apogeu, o ápice, a consagração máxima, o Palmeiras comemora papel e sonho.

Devaneios dignos de quem nunca será o que alguns são. Já tivemos Parmalat, investimentos de outrora, Nobres, agora Leila. Já tivemos fases, e este time caiu vergonhosamente. Dinheiro o ressurgiu. Não torcida, não camisa, dinheiro.

Devaneio comparar Telê que é um marco, um gênio do planeta futebol com um qualquer que não volta para a Europa, porque sabe que será um nada por lá. Telê foi do topo da pirâmide e do Brasil, sem internet, chocou os maiores do mundo e deixou legado. Abel deixará meia dúzia de porcos verdes com saudade.

Comparar Telê com Abel é um devaneio tão grande, quanto quem chama Neto de craque. Digno de quem acha que FAX é título mundial, digno de quem sonha desde sempre, em ser São Paulo e nunca será, nem nas piores e mais difíceis fases.

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