Nosso amado tricolor recebeu essa carinhosa alcunha em 1937, pelo jornalista Thomaz Mazzoni, famoso na época pelos apelidos que dava aos times. O SPFC foi chamado assim porque, em 1935 passou por uma situação curiosamente adversa: deixou de existir para, logo em seguida, ressurgir qual fênix, mostrando assim sua grande capacidade de superação.

Com esse espírito, foi capaz de vencer campeonatos e jogos dados como perdidos, como a final do Brasileiro de 1986 ou o de 2008, onde buscou uma desvantagem de 11 pontos abaixo do Grêmio, só pra citar dois exemplos.

Mas o que aconteceu? Por que o SPFC não é mais assim? Acabou a fé?

Melhor ainda: ele é merecedor de nossa fé?

Antes de tudo, precisamos entender o que é fé. O apóstolo que dá nome ao nosso time deu a definição mais completa do termo quando escreveu aos seus conterrâneos em Jerusalém:

“A fé é a firme confiança de que virá o que se espera, a demonstração clara (ou: prova convincente) de realidades não vistas.” (Hebreus 11:1)

Percebam que em nenhum momento diz que a fé é simplesmente “acreditar por acreditar”, sem embasamento ou evidências. Você pode acreditar no que quiser, mas isso necessariamente não quer dizer que tem fé. Não; é necessário ter um alicerce forte para se desenvolver a fé. Embora, a princípio, não se enxergue explicitamente o motivo pra se ter fé, outras evidências periféricas apontam para o objeto de devoção como digno daquela confiança, tornando-o real, palpável.

Saindo do campo teológico e atendo-se ao que nos interessa no blog, a instituição SPFC carregou por muitos anos essa alcunha merecidamente: Estrutura invejável, centro médico de referência (os jogadores brasileiros vinham de fora para se tratar no REFFIS), base reveladora de talentos, o maior estádio particular do mundo, camisa reconhecida e temida em todo o globo (principalmente na América do Sul), time com mais títulos internacionais do Brasil, contratações pontuais, baratas e eficazes, etc, etc, etc… a lista é longa.

Então veio a Grande Noite, preenchendo o clube com sua sombra nefasta e consumindo tudo de bom que havia sido construído ao longo de quase cem anos (2030 é logo ali, falta pouco).

Depois do golpe do velho das balinhas que, com sua voz impostada e erres infinitos, enamorou-se da palavra que cunhou elogiosamente ao time (soberano) e decidiu ele mesmo se tornar um, estendendo-se de forma obscena no poder através de manobras político-jurídicas. Daí em diante, o SPFC nunca mais foi o mesmo. Tornou-se uma entidade amorfa e doente, parindo criaturas grotescas e sem escrúpulos. Não estávamos acostumados a isso. O SPFC sempre foi um exemplo de administração, um clube à frente do seu tempo. Mas o ovo da serpente sempre esteve lá, era só uma questão de tempo para eclodir. E pelo visto, o ninho estava cheio…

Um após o outro, os presidentes que posteriormente assumiram só pioraram a situação, servindo-se indecentemente do clube, refestelando-se com contratos, acordos e ligações, no mínimo, suspeitas. Quando a coisa apertava e as desconfianças sobre o comportamento duvidoso ameaçavam desmoronar o confortável status quo, blindavam-se com ídolos do passado para abafar possíveis escândalos. Ainda é assim.

Esse comportamento nababesco não duraria pra sempre, alguém tem que pagar a conta e ela sempre chega. Com uma dívida impagável, o jeito foi ir ao mercado em busca da xepa em fim de feira. O antes soberano e inovador SPFC é agora uma instituição falida, sem títulos, sem credibilidade, sem garantias, sem estrutura e sem vergonha. Que jogador, em sã consciência, iria querer jogar num lugar assim?

Resultado: jogadores medíocres, fora de forma, sem vontade, sem alma, sem sangue, que consideram o que fazem em campo como uma obrigação indigesta, desrespeitando a camisa que vestem. A preocupação deles é com tatuagens, penteados, chuteiras, poses (até porque, se dependerem de futebol pra se destacarem…).Tem uma noção fantasiosa da realidade, achando-se craques e destinados ao estrelato europeu, quando sequer conseguem ganhar o campeonato regional.

Quando assisto jogos do passado (no canal Morumbiteca no Youtube, recomendo muito), a diferença é assustadora. E não me venham com o argumento de que no passado a marcação era mais frouxa, o jogador tinha mais espaço, blá, blá, blá… conversa fiada! Independente da época, o que eu via em todos os times que eu assisti e não vejo nesse, é vontade de ganhar, ir pra cima. É só toquinho de lado, prá trás, chutão (se vira aí, Calleri!), cruzamentos pra ninguém, chuveirinho. Telê Santana vomitaria em ver algo assim. Aliás, alguns técnicos iniciantes deveriam deixar a prepotência e a arrogância de lado e aprender do Mestre Telê – que treinava exaustivamente os fundamentos do futebol – que era teimoso, mas não era burro. Mas onde não há espaço pra humildade, não há também para o aprendizado. E certas pessoas nunca aprendem.

Com tantos problemas dentro e fora de campo, dá pra ter fé?

Por: Alexandre Rossi