A tentativa do São Paulo de modernizar sua estrutura, considerada defasada até mesmo por quem trabalha atualmente no clube, esbarra na situação financeira delicada que a instituição enfrenta há anos. O assunto rendeu polêmica nos últimos dias nas redes sociais, por conta de declarações de Turíbio Leite de Barros, ex-fisiologista do time.

Tratado como parceiro da atual gestão, já que ajudaria o Tricolor a obter aparelhos mais modernos para usar no Reffis e também trabalharia como consultor na estrutura do Centro de Treinamento da Barra Funda, Turíbio teve um áudio divulgado nas redes sociais e também reproduzido com autorização pela Rádio Bandeirantes. Nas declarações, o fisiologista dá a entender que o planejamento não prosperou por culpa de terceiros.

“O que eu posso dizer é o seguinte. Sempre tive a melhor das intenções para levar os equipamentos. Não ia precisar dispor de recursos. Só existia um comodato para ser pago depois de um ano, inclusive seriam repostos os equipamentos novos. Todos que eu consegui eram trocas de propriedade de marketing: camisa assinada, entrada em camarote para alguns clubes, mídia social do clube. Iam ser equipamentos de última geração. As razões para não serem aceitas vou esperar que a própria imprensa investigue. Não tenho como falar porque vão ficar me massacrando. Aí seria uma luta desleal entre eu e o São Paulo”, disse Turíbio.

Segundo apurou a ESPN com fontes ligadas ao São Paulo, a parceria entre clube e Turíbio não avançou por dois motivos principais.

O primeiro é que, quando Turíbio ofereceu os equipamentos ao São Paulo, no acordo havia uma possibilidade muito grande de ele ocupar o cargo de gestor de projetos de saúde, função para a qual o clube já tem outro profissional, Fernando Fernandes, contratado em meados do primeiro semestre de 2022.

Além disso, o código de ética do clube do Morumbi, que não permite que o mesmo departamento tenha familiares trabalhando juntos. E, por isso, Turíbio não poderia exercer qualquer função similar no São Paulo, pois seu filho, Luis Fernando de Barros, já é funcionário do Tricolor.

ESPN teve acesso a um documento, assinado em 13 de julho de 2021 pelo presidente Julio Casares, que reafirma essa regra.

“No presente e no exercício das competências estabelecidas nos artigos 117, em consonância com as recomendações anteriores de redução de custos na ordem de 10% de despesas de cada área/diretoria e, sobretudo para coibir o aumento de quadro de colaboradores ou criação de novas vagas, determino também que estão vetadas as contratações de membros e faimiliares de Colaboradores e Conselheiros”, informa o documento.

Há ainda outro motivo. De acordo com apuração da ESPN, Turíbio ofereceu seis equipamentos ao São Paulo, que não enxergou todos como necessários. O DEM (órgão criado com profissionais de medicina e colaboradores da instituição) vetou os aparelhos, por considerar que os que seriam mais modernos não seriam de grande utilidade e os demais não agregariam.

Na visão do clube, dois seriam importantes, enquanto os outros quatro, apesar de mais modernos que os que o São Paulo dispõe no momento, eram até menos eficientes dos que o próprio Tricolor tinha no Reffis atualmente.

Ainda segundo apuração da ESPN, o comodato inicialmente seria dois a três meses. Depois, foi negociado para seis meses ou até mais. Após o período, o São Paulo teria que fazer a compra dos aparelhos emprestados, o que também ajudou a inviabilizar o acordo. O valor da compra também era acima do mercado.

Como as conversas para a contratação de Turíbio não prosperaram, o fisiologista deixou de intermediar o negócio, o que fez as tratativas serem encerradas.

Turíbio também deixou o cargo no DEM, composto por nove profissionais do ramo e que tem auxiliado o São Paulo na procura por modernização no Reffis. Como os equipamentos não foram entregues, o clube não precisou devolve-los, mas, por orientação da alta cúpula tricolor, o departamento jurídico será acionado para interpretar as declarações de Turíbio.

https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/10525350/sao-paulo-da-sua-versao-explica-por-que-nao-aceitou-aparelhos-ex-fisiologista-conseguiu-modernizar-departamento-medico