Rogério Ceni, técnico do São Paulo, tirou Welington no intervalo do jogo contra o Palmeiras numa tentativa de corrigir os problemas do lado esquerdo da defesa tricolor. Entrou Arboleda, e Léo, que estava na zaga, foi deslocado para a lateral.

Com dois minutos, o São Paulo levantou uma bola na área do Palmeiras, afastada pela defesa. Dudu, num toque de primeira, de calcanhar, deixou Léo caído no chão e iniciou contra-ataque. Veiga avançou e devolveu a Dudu, que foi pra cima de Diego Costa, entortou o zagueiro, e cruzou para Veiga fazer 3 a 0 – era o placar que o Palmeiras precisava para ser campeão.

É um resumo do fiasco são-paulino na goleada de 4 a 0 no Allianz Parque, de um time que entrou em campo com uma vantagem de dois gols que virou fumaça em apenas 27 minutos.

A expectativa era diferente. As vitórias sobre o Corinthians, na semifinal, e o incontestável 3 a 1 sobre o Palmeiras no jogo de ida credenciaram o São Paulo como um rival capaz de fazer frente ao time de Abel Ferreira, atual bicampeão da Libertadores.

A perda do título – algo natural, se considerado o estágio de formação das duas equipes que disputaram a taça – gera questionamentos pela forma como se deu.

Na partida no Allianz Parque – algo que a diretoria tricolor tentou evitar com um movimento logo depois das semifinais –, o São Paulo não demonstrou, em momento algum, que poderia reagir.

Com uma equipe recheada de bons jovens jogadores, responsáveis, em grande parte, por levar o São Paulo à final, os visitantes foram envolvidos pelo Palmeiras, cuja defesa não foi incomodada.

São Paulo parecia assustado na casa do rival, mesmo dono de uma vantagem confortável na final. O Palmeiras percebeu, amassou, e fez 2 a 0 antes dos 30 minutos de jogo. A final estava zerada, e o São Paulo ainda teria pela frente mais cerca de 60 minutos contra um adversário melhor e empurrado por sua torcida.

Não deu. Mesmo depois do terceiro gol, quando o Palmeiras diminuiu o ritmo à espera de um contra-ataque, e o São Paulo conseguiu ficar mais com bola, quase nada foi produzido pelo ataque tricolor – e bastava um gol para levar a decisão para os pênaltis. Mas o Tricolor levou outro, o quarto…

As lições

A última imagem do São Paulo no Campeonato Paulista é muito ruim, mas ela não pode contaminar uma análise sobre a jornada do time até a decisão.

Rogério Ceni disse, na véspera da final, que poucos acreditavam que o São Paulo avançaria até a última partida do torneio. De fato, as expectativas sobre o time, em janeiro, eram mais modestas.

As lembranças de um fim de 2021 tumultuado, com briga contra o rebaixamento, reclamações de Ceni e Muricy Ramalho, a pré-temporada impactada por muitos casos de Covid-19 no elenco e o início de Paulista com derrotas e desempenho ruim justificavam o pessimismo.

Rogério Ceni apostou num time jovem e devolveu dignidade ao São Paulo, que termina o estadual ainda longe de se colocar entre os favoritos ao Brasileiro, por exemplo, mas muito mais próximo da história do clube.

O treinador superou uma rejeição inicial da torcida – o que parece incrível pela relação entre Ceni e o São Paulo, mas que aconteceu –, recuperou apoio das arquibancadas e bancou mudanças importantes.

Miranda, ídolo tricolor, foi para o banco e se tornou coadjuvante com a ascensão de Diego Costa, um jogador até então acostumado a ouvir vaias. Eder, que quase deixou o clube após o Brasileiro, foi recuperado e até a braçadeira de capitão usou.

Os garotos foram a alma do time. Pablo Maia, que jogou a Copinha, é a revelação do torneio e formou dupla afinada com Rodrigo Nestor, talvez o melhor jogador do São Paulo no momento. Gabriel Sara foi protagonista até a lesão sofrida contra o Palmeiras na primeira fase. Welington, mal neste domingo, foi importante na reta final.

Entre os reforços, ainda há dúvidas. Jandrei tomou a vaga de Tiago Volpi, com méritos, e Rafinha tem sido elogiado pelas características de liderança. Alisson se tornou titular, mas sem tanto brilho. Nikão e Patrick terminam o Paulista devendo, sem cumprir as expectativas. Andrés Colorado, o que chegou mais recentemente, teve poucas oportunidades.

Vice-campeão paulista, o São Paulo termina essa primeira parte da temporada com um time organizado, mais confiante, e que pode buscar objetivos mais dignos nos torneios que lhe restam, o Brasileiro, a Copa do Brasil e a Sul-Americana.

O título teria coroado esse trabalho de Ceni na recuperação tricolor, mas é preciso engolir a derrota e seguir em frente. Na quinta-feira, o Tricolor estreia na Sul-Americana contra o Ayacucho, no Peru. E o domingo, às 18h, encara o Athletico, no Morumbi, pela primeira rodada do Brasileirão.

https://ge.globo.com/futebol/times/sao-paulo/noticia/2022/04/04/analise-fiasco-na-final-do-paulista-nao-pode-apagar-o-trabalho-de-recuperacao-de-ceni-no-sao-paulo.ghtml