UM TIME QUE ENTENDEU A LEI PELÉ EM 2004 E ENTENDEU QUE É POSSÍVEL INOVAR EM MEIO A CRISE EM 2021


Não poderia existir final de janela de transferência mais turbulento na região do Morumbi, em meio a possíveis chegadas de atletas baseadas em contratos findando, o torcedor pôde ver a possibilidade do clube utilizar-se de inteligente engenharia contratual para não apenas contratar, mas faze-lo com responsabilidade financeira.Em 2004 o São Paulo iniciou a formação de um elenco que se tornaria um dos mais vitoriosos de sua história sendo o primeiro clube que de fato aprendeu a lidar com a fórmula de buscar atletas em fim de contrato.

O economista Cesar Grafietti cita em um de seus textos: “Quando todo mundo entendeu como funcionava (a Lei Pelé), o São Paulo perdeu a capacidade competitiva, isso a partir de 2009. Nessa vala comum, o São Paulo entra com receitas menores do que Corinthians e Flamengo, por exemplo, e tem que competir comprando jogador como os outros. Gastando muito e comprando mal”.Desde então, o clube conhecido como de vanguarda nunca mais se recuperou, tendo vivido uma seca de títulos que perdurou por longos nove anos, administrações desastrosas, presidente tendo que abandonar o cargo em meio a escândalo, dividas catastróficas, contratações exdruxulas e finalmente chegamos ao ano de 2021 onde a palavra mais utilizada foi RECONSTRUÇÃO.

Nas ultimas horas surgiram notícias que o clube atenta-se a possíveis chegadas de atletas com contratos findando, razão pela qual pudemos voltar à sensação de que talvez estejamos diante de uma “nova-velha” prática de contratação e talvez o clube tenha compreendido que aquilo que o fez se erguer no início de duas décadas atrás, agora pode faze-lo novamente em meio a uma nova década que se inicia.Após o insucesso da famigerada “Lei do Passe” que exigia que o clube fosse o detentor dos direitos do atleta, surgiu durante o já extinto “ministério do esporte” a conhecida hoje como “Lei Pelé” que se fundamentou em retirar o poder soberano do clube no passe do atleta, com isso, ao chegar aos seis últimos meses de contrato com seu atual clube o atleta já pode assinar o conhecido pré-contrato com outro time.Foi aí onde o São Paulo descobriu como mesmo tendo menos poderio financeiro, poderia utilizar-se desse recurso para contratar atletas, afinal, se assinasse um pré-contrato com um atleta, mesmo tendo que aguardar seis meses para poder utilizá-lo o clube poderia tê-lo sem custo algum.

Entretanto, hoje em 2021 todos os clubes já compreenderam esse mecanismo.É muito mais fácil para o atleta livre se transferir para um clube que lhe oferece mais dinheiro, além do clube poder pagar um salário maior pois não terá que pagar pela contratação, também pagará luvas que costumeiramente irão para os bolsos do representante do atleta o que torna tudo mais saboroso para estes ao escolherem o clube para onde vãoQual seria então a melhor forma de inovar mais uma vez? E aqui o clube tem novamente merecido os parabéns.Quem acompanha meus textos sabe o quanto tenho criticado a diretoria tricolor quando merecem tais criticas, mas aqui tenho que dar a mão a palmatória e de fato concordar que encontraram uma nova forma de lidar com a situação.

O São Paulo compreendeu rapidamente que pode negociar com clubes que estão prestes a perder seus atletas em fim de contrato.O clube tricolor tem aceitado que o atleta renove com seu atual clube, a partir daí o São Paulo realiza um empréstimo com valor de compra fixado, para assim, o clube que estava prestes a perder o atleta pelo fim do contrato, acabar recebendo uma quantia pelo empréstimo e uma quantia posterior com um preço de compra fixado, ou seja, o clube vai receber um dinheiro que não estava esperando por um atleta que já estaria ficando sem contrato, aceitando assim, que o mesmo se transfira para o Morumbi.Um exemplo contrário disso foi o que ocorreu com Eder Militão, o São Paulo sabendo que perderia o atleta, aceitou negocia-lo com o Porto de Portugal por uma quantia baixa para ao menos receber alguma coisa, e o atleta recebeu a promessa do time português de que em seguida poderia transferir-se para seu atual clube, o Real Madrid.

O São Paulo percebeu que não adiantaria tentar contratar atletas com contrato vigente, pois os valores estariam fora da realidade de um clube quebrado; Percebeu também, que não adiantaria aguardar o fim do contrato do atleta, pois com contrato livre, muitos partiriam direto para clubes com situação financeira melhor ou até mesmo para clubes europeus.Percebeu que a melhor negociação que poderia ter, seria aquela com clubes que não tem poder de barganha para negociar, sendo assim, aceitariam a pedida do Morumbi para ao menos conseguirem algo.Os atuais casos de Neves e Calleri estampam essa situação, o Nacional do Uruguai tentou travar as negociações com o São Paulo acreditando que conseguiria um valor maior, após perceber que o contrato estava cada vez mais próximo do fim e nenhum clube ofereceu mais dinheiro que o São Paulo, o clube Uruguaio se viu sem saída a não ser vendê-lo ao tricolor, por isso da ideia de barganhar com alguém que não possui poder de barganha, pois ou aceita, ou perde sem embolsar nenhum centavo.

O mesmo ocorreu com o Argentino, com contrato com o clube de empresários Deportivo Maldonado, estes adorariam que o atleta estivesse na Europa, mas ao verem que o ultimo dia da janela chegou e a tão sonhada proposta europeia não veio, aceitaram a pedida do clube paulista.Isso prova que o clube entendeu novamente que é sim possível encontrar meios para contratar em meio a falta de dinheiro, não precisando pagar salários astronômicos ou luvas para convencer ninguém a jogar em um tricampeão mundial, muito menos pagando R$25 Milhões em um atleta apenas por ele ter feito uma única boa temporada. É possível entender a legislação e usa-la ao seu favor.

O São Paulo nunca foi o time com maior torcida, nunca foi o time com maior ajuda da mídia ou de entidades desportivas, mas sempre foi o time conhecido por ser vanguardista, por ser inteligente, por revolucionar, ao entender sua condição financeira, ao entender que precisa começar de novo o processo para se reerguer, não adiantando fazer loucuras ao comprar atletas e ao compreender que é sim possível contratar sem destruir os cofres do clube, o São Paulo mostra que 2004 não foi um acaso, que ser revolucionário não foi uma questão de sorte, o clube mostra que os últimos nove anos sem tentar inovar, destruindo a fantástica história iniciada em 1930, estes sim, foram uma questão não de azar, mas de incompetência. Hoje, a gestão por mim tão criticada, merece parabéns.

@kevinmendes e a @TricolorScout, especial para saopaulo.blog