Em entrevista exclusiva ao blog, Julio Casares abriu o jogo sobre a situação financeira do São Paulo. O presidente são-paulino contou que foi preciso fazer empréstimos de R$ 70 milhões no total para pagar dívidas urgentes feitas pela diretoria anterior. Parte delas poderia fazer o clube ser punido pela Fifa.

Sem mistério, o dirigente mostrou como é indigesta a manutenção do time atual. O custo da folha de pagamento é de R$ 17 milhões mensais. Casares ainda detalhou um acordo com os jogadores para quitar dívidas feitas pela gestão passada. Eles ficarão com uma fatia das futuras receitas. A seguir, confira as principais declarações de Casares.

Dívidas detalhadas

“Tomamos posse em janeiro e a gente já sabia que as dívidas existiam. A gente só não sabia que algumas dessas dívidas de curto prazo estavam em processo de execução. Esse foi o grande problema. Tínhamos dois ou três casos já em execução. Vou te dar todas as dívidas que nós já saneamos. Quando assumimos com essa preocupação, a gente sabia das dívidas, mas não sabia do grau de cronograma, que algumas já estavam em execução, tanto na Justiça quanto na Fifa. Nós estabelecemos um comitê financeiro que começou fazer uma radiografia dessa dívida.

A dívida que nos preocupava era em curtíssimo prazo, vou te colocar por ordem. Era uma (R$ 10,5 milhões) com o Querétaro (México), da compra do Volpi. Tínhamos uma com o Atlhetico-PR, da compra do Pablo (R$ 12,5 milhões). Tínhamos uma (R$ 6,2 milhões) com o Tigres (México), porque, quando vendemos o Cueva, a gente tinha que repassar para o Tigres um percentual (da venda para o Krasnodar, da Rússia).

Essa também estava na Fifa. Tinha uma (de R$ 6,3 milhões) com o Orlando City, da vinda do Kaká. Era um processo que tinha uma devolutiva e faltou um acordo na época e eles foram para a Fifa. Nós quitamos. Aí nós tínhamos uma do voleibol com o José Roberto Guimarães (R$ 2,5 milhões). Era um contrato muito ruim para o São Paulo. O São Paulo pagava para o time de Barueri, do Zé Roberto, uma quantidade mensal. E nós fizemos um acordo. Quando eu assumi, também tinha uma dívida de alguns meses sem pagar o Zé Roberto e nós acertamos o pagamento. Fizemos um cronograma a longo prazo (para pagar).

E, por fim, o caso mais complicado, que era o caso do Tchê Tchê junto ao Dínamo de Kiev, que era um caso também na Fifa. Era o maior em volume de dinheiro (R$ 26,5 milhões, segundo o São Paulo). Era complicado porque era de curtíssimo prazo. O que nós fizemos. Nós quitamos a do Tigres. A do Pablo já pagamos uma boa parte. A do Orlando City nós quitamos, a do Volpi está no planejamento. Nós vamos pagar um pouco a longo prazo a do Zé Roberto Guimarães, a do Tchê Tchê, que estava na Fifa, nós quitamos. Então, grande parte já foi quitada.”

A estratégia

“Daí as pessoas perguntam: ‘como vocês estão fazendo esse tipo de situação?’. Nós constituímos um comitê financeiro, fizemos reuniões com grandes instituições financeiras e apresentamos o nosso plano, que chamamos de recuperação do São Paulo.

Esse plano, pelo que nós colocamos, pelo que nós assumimos, causou um grande reflexo nas instituições financeiras. Porque crédito é uma questão de credibilidade da gestão. Eles conseguiram ver credibilidade. Não só pelo planejamento e pelo plano para saldar dívidas, mas pela profissionalização que nós começamos a implementar no clube. Criamos um plano de credibilidade com normas de compliance. Então, são recados para o mercado, através de governança, meritocracia e profissionalismo que soam como música para os ouvidos. Não só de agentes financeiros, também de agentes de futebol e para o mercado publicitário como um todo. Isso foi um grande passo.

E com o dinheiro que os bancos nos deram… Com a seguinte ressalva: carência de um ano para começar a pagar e juros abaixo do mercado. Então nós conseguimos um crédito com tempo para pagar, tiramos a emergência, negociamos melhor e recuperamos. E nesse respiro, acertamos dentro da espinha dorsal do futebol com a profissionalização da área de futebol com a vinda do Muricy, do Rui Costa e do (Marcos) Biasotto na base. Esse tripé profissional nos premiou com o título paulista.

Estamos apenas no início da gestão. Então isso nos trouxe um alívio. Está longe de pagar a dívida, que é muito grande. Mas nós conseguimos conduzir uma folga para que, mesmo num cenário de pandemia agravado, sem bilheteria, sem ativação de marketing, a gente dê passos de modernização. Então, foi um planejamento. Muita gente fala: ‘como vocês conseguiram? Foram lá, fizeram um empréstimo e pagaram?’ Não é simples assim. Primeiro porque empréstimo para quem deve muito, qualquer banco só dá se você tiver um plano. Um plano autossuficiente, que foi o que nós apresentamos.

Fizemos uma reengenharia financeira. Tomamos posse dia 1° janeiro e no dia 2 começamos. O que conseguimos com isso? Liquidamos ou parcelamos, a maioria das dívidas (que mais preocupavam), (estão resolvidas) as três dívidas que representavam risco de o São Paulo sofrer sanções na Fifa. Então, foi um tranco, mas graças a Deus começamos a dar bons passos”.

Dinheiro carimbado

“É um plano pelo qual nós, embora eles não estejam aqui dentro da gestão, nós criamos, por iniciativa nossa, um comitê que faz reunião simultânea com eles no sentido de demonstrar a eficiência, o profissionalismo, a governança. E é um dinheiro carimbado. Eu não vou pegar esse crédito e sair comprando jogador. Pelo contrário.

As contratações nossas envolveram muito pouco direitos econômicos. Foi mais salário. Houve trocas de jogadores, chegaram sete, saíram nove. Vão sair mais alguns. Esse é um movimento de desonerar a folha e que o banco viu. A parte de investimento em jogadores foi uma parte de autossustentabilidade. Aquele dinheiro que o banco nos deu foi carimbado para pagar dívidas. E claro, são dívidas de curtíssimo prazo”.

Dívidas com agentes

“Temos o longo prazo, que estamos conversando. Por exemplo, agentes de futebol. Estamos conversando com agentes. Dizendo que vamos saldar. Dizendo que o São Paulo reconhece a dívida, mas o São Paulo está num processo de reorganização, recuperação e nós faremos isso com uma proposta de longo prazo. E a maioria está tranquila nesse sentido”.

Acordo com jogadores

“Tínhamos também débitos com jogadores de um acordo da gestão anterior. Alguns débitos de direitos de imagem e alguns bônus não foram pagos pela gestão anterior. O que nós estamos fazendo nesse sentido? Daqui para frente, dá nossa gestão, está tudo em dia. O para trás nós reconhecemos. Mas nós chamamos os jogadores para uma conversa e dissemos o seguinte: ‘olha, com a pandemia não há como você ter quase duas folhas de pagamento.

Então, aquele débito lá de trás, nós acertamos com eles que todas as receitas, seja de venda de jogadores, sócio-torcedor, patrocínio, quando voltar a bilheteria, 10% de cada operação vão ser destinados para esse bolsão de crédito de jogadores credores para acertar esse passado. Os jogadores compraram a ideia. Então, nós vamos deixando em dia o corrente e vamos pagando (a dívida antiga). Assim que entrar receita, 10% do líquido de cada receita nova vamos usar para acertar com eles, tirando essa pressão da frente”.

Dívida com Daniel Alves

“Está nesse bolo. Na verdade, são casos especiais nos quais a dívida é um pouco maior nesse quadro todo. Mas todos estão sendo contratados de forma coletiva e também de forma separada. Então, estamos saldando. O importante é que as questões atuais estão em dia. Não temos dívidas dessa gestão. Aquela dívida da gestão anterior, ela é reconhecida por essa gestão, naturalmente. Mas ela será paga dentro de uma parceria.

Por exemplo, lançamos o sócio-torcedor. Nós esperamos que (o novo programa de) sócio-torcedor continue dando resposta, como está dando para que uma parte dessa receita vá direto para essa questão da pendência”.

Valor dos empréstimos

“Dá um total, mais ou menos, de R$ 70 milhões em empréstimos (para pagar dívidas), que eram situações difíceis porque, além da pressão da dívida de curtíssimo prazo, eu tinha que colocar em dia a folha de pagamento dos jogadores. Nenhum banco dá margem de crédito se o clube tem, além da dívida, uma atuação bancária aditiva.

O São Paulo, além da garantia, tem um plano de gestão no qual, por iniciativa nossa, colocamos a vinculação de cada real vindo da instituição financeira à prioridade de folha de pagamentos e dívidas que estavam nesse processo. Então, tivemos uma resposta muito boa dos bancos, que viram nessa gestão comprometimento”.

Prazo para pagar os empréstimos

“Esses R$ 70 milhões nós vamos começar a pagar daqui um ano. É uma carência de um ano. A gente pode parcelar em três, quatro, cinco anos. Acredito, pela experiência nossa, que teremos também novas receitas. Premiação, receitas de marketing, de bilheteria. Nós teremos outras receitas com parcerias, direitos de televisão. Isso tudo nós vamos ter oportunidade de reconvencionar. Nós vamos, também diminuindo a dívida com eles”.

Pressão para pagar o empréstimo

“Não tinha mágica, mas nós conseguimos um dinheiro bom. E eu confio demais (na gestão) porque, a partir do momento em que você deixa na gestão o cronograma desse pagamento fica tudo mais fácil. Então, eu tirei aquela pressão dos primeiros 90 dias, com várias ações, com uma credibilidade a qual o São Paulo tinha direito no mercado, mas não exercia, essa é a grande realidade. Esse compromisso já está no fluxo de caixa para o futuro.

Desses R$ 70 milhões, tem uma parte que fica como se estivesse provisionada. A gente só utiliza em caso de extrema necessidade. O nosso objetivo é que a máquina se pague com as receitas que ela gera. Eu brincava que antigamente a gente tinha que vender o café da manhã e o almoço para pagar o jantar. Hoje, a gente vende só o café da manhã. Nós já estamos almoçando um pouquinho e jantando”.

Superávit

“No primeiro trimestre (de 2021) tivemos um superávit de (cerca de) R$ 46 milhões. É um indicativo muito bom. Abril, maio e junho pode dar outro resultado. Nós vamos avaliando. Claro, teve aí dentro (do superávit) a venda do Brenner, uma boa venda, uma venda necessária. Assim como o São Paulo, inevitavelmente, deverá vender um ou dois atletas, conforme tiver propostas. Existe essa previsão no orçamento.

Eu digo que jogador nenhum é inegociável. Claro que tem que ter uma valorização importante e respeito ao elenco do São Paulo para que o São Paulo continue competitivo. As vendas podem ocorrer, mais tem que existir a reposição do atleta que sai”.

Dinheiro da venda de Brenner

“A venda do Brenner nos trouxe crédito. Ela tinha previsão de pagamento em três parcelas. O São Paulo geralmente antecipa essas parcelas para pagar dívidas. Temos outras dívidas que começamos a saldar. Principalmente, a folha de pagamento atual”.

Folha de R$ 17 milhões mensais “Para você ter uma ideia, acredito que hoje o São Paulo está entre as cinco ou seis folhas de pagamento mais elevadas. E com isso a gente conseguiu um título de um campeonato que desde 2005 nós não ganhávamos. Foi muito importante para a torcida e estamos mantendo um time competitivo.

A folha de pagamento hoje está mais ou menos próxima de R$ 17 milhões. Isso por mês, hein? Sem bilheteria, sem ativação de marketing no estádio com camarote, sem uma série de situações e sem contar o débito anterior com os atletas e que nós estamos saldando”.

Redução da folha

Nós temos que fazer movimentos como nós estamos fazendo. Quando você vende um jogador que tem um salário alto, você substitui, mesmo valorizando o atleta que veio da base, que está se consolidando no mercado, com um salário menor, você está fazendo uma desoneração de folha.

Só para você ter uma ideia, se você listar os jogadores que saíram, Tréllez, Jean, Juanfran, que ganhava em euro? Toró? Essa desoneração de folha é importante. É um movimento de mercado. Você tem uma margem de permanência da qualidade técnica, com melhora até, com menos dinheiro. A folha foi reduzida num primeiro momento em 10%, mas vieram… Porque tem um movimento que não é estanque. Por exemplo, se eu tenho que substituir um jogador, tenho que aproveitar as oportunidades do mercado.

Então, para você liberar um jogador, eu preciso, por uma política nossa, ter a reposição para que essas peças sejam comercializadas. Então, às vezes, você faz um investimento e a folha volta ao patamar. Tem uma redução, depois ela volta equilibrada, depois ela cai de novo. É um movimento que você faz tentando essa composição entre qualidade técnica competitiva e folha de pagamento. Mas nós estamos atentos a todo tipo de diminuição de custo, não só na folha de pagamento, mas principalmente na gestão como um todo. A diminuição de percentual das comissões, todos esses hábitos e iniciativas fazem parte de muito planejamento.

Pode ter certeza que o futebol do São Paulo está colocando em conta todas essas questões para que a gente continue a equilibrar (as finanças) tendo um time competitivo. Agora, olhando para a base de forma profunda”.

Executivos

“Quando você compara esse tripé, Lugano Pássaro e Raí com o tripé Muricy, Biasotto e Rui Costa, na minha visão, além do ganho de conteúdo, de gestão, também houve uma economia profunda na forma de trabalho desses profissionais. Houve uma redução de 37%. Eles têm, sim, prêmios por conquista. Então, nós temos a questão da meritocracia funcionando e eles já tiveram êxito com esse primeiro campeonato”.

Comissão técnica

“Muita gente falou assim: “puxa vida, o São Paulo paga R$ 1 milhão para o técnico”. Não, é R$ 1 milhão para a comissão técnica como um todo, os que vieram com o Crespo. São grandes profissionais e que ganham prêmios por conquista. É a meritocracia que eu falava na campanha. Na verdade nós já estamos colocando em prática 70%, 80% do que nós prometemos na campanha”.

UOL

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/perrone/2021/06/11/folha-de-r-17-mi-e-divida-paga-com-r-70-mi-emprestadoscasares-conta-tudo.htm