Amigos tricolores

Sei que alguns estão preocupados com os 4 empates seguidos do nosso tricolor, mas vamos com calma. Primeiro, não analisemos futebol pela lente de Jorge Nicola, Flávio Prado, Vitor Birner, Juca Kfouri, Menon, Mauro Cezar Pereira, Benja, Mano, Milly Lacombe ou Sormani.

Essas pessoas não sabem se a bola é redonda! Nunca chutaram uma, nunca disputaram um jogo nem na quadra da escola, devem ser aqueles que de tão ruins ficavam na arquibancada assistindo e invejando os colegas. Cresceram, estudaram jornalismo, ganharam poder em redações e desfilam a inveja analisando o futebol diante ao seu amplo conhecimento de telespectador.

Vou contar a minha história no futebol amador, que eu tenho certeza, será a mesma de muitos que aqui estão lendo. Tenho 42 anos, joguei futebol amador nas 3 escolas que estudei, jogava pelo time do meu prédio, joguei pelo time do meu clube. Cheguei a jogar um pequeno campeonato por um time da 3a divisão do Campeonato Paulista.

Mais velho, joguei pela faculdade e no time do escritório do meu pai. Depois por 2 agências de publicidade que trabalhei, na maioria das vezes como titular, não sou o Miranda, mas era um bom zagueiro, hoje, fora de forma, só brinco. Muitos de vocês tem a mesma trajetória, parecida ou melhor, ou seja, muitos aqui jogaram – ou ainda jogam – futebol, mesmo que naquela quadra com os amigos.

Mas por que dessa história?

Porque quem tem uma história parecida com a minha sabe, que uma coisa é analisar o futebol porque se fez cursos teóricos na CBF ou lendo livros de técnicos, e porque assiste alguns campeonatos, se acha o especialista. A outra é falar com quem esteve em campo.

Se você, mesmo que amador, esteve em campo sabe que a palavra “entrosamento” não é palavra da moda dita pelos “grandes analistas” que nunca chutaram uma bola, mas uma realidade, talvez a maior realidade de todas dentro do universo do futebol.

Vamos rever as escalações desses 4 empates:

São Paulo 2×2 Corinthians (02/05): Volpi; Arboleda, Miranda e Léo; Igor Vinícius, Luan, Rodrigo Nestor, Igor Gomes e Welington; Galeano e Vitor Bueno.

São Paulo 0X0 Racing (05/05): Volpi; Arboleda, Miranda e Bruno Alves; Daniel Alves, Luan, Liziero, Benitez  e Reinaldo; Luciano e Pablo.

São Paulo 1X1 Mirassol (09/05): Lucas Perri; Diego, Rodrigo e Léo; Igor Vinícius, Rodrigo Nestor, Gabriel Sara, Igor Gomes e Welington; Vitor Bueno e Galeano.

São Paulo 1X1 Rentistas (12/05): Perri; Rodrigo Freitas, Diego e Bruno Alves; Orejuela, Rodrigo Nestor, Talles Costa, Igor Gomes e Welington; Vitor Bueno e Joao Rojas.

Vamos analisar friamente os dados

Ponto 01: Jogos em São Paulo, Argentina (2,2 mil km), Mirassol (460 km) e Uruguai (1,9 mil km). Isso em 10 dias. Foram 4,5 mil km rodados, ops, forma 9 mil, afinal o time vai, mas volta. Em 10 dias, repito e se atenha a esse dado.

Ponto 02: Foram usados, nos mesmos 10 dias, 25 jogadores, com 4 escalações totalmente diferentes. Quem, mesmo de forma amadora, jogou futebol, sabe que se o time mantiver a mesma escalação por 4 jogos não tem como entrosar, imagina com 4 escalações diferentes. Impossível

Ponto 03: Falta de entrosamento faz com que passes sejam errados, cruzamentos não achem o atacante ou o time tome um gol de escanteio por baixo, um erro de atenção e marcação, sem entrosamento o zagueiro acha que o lateral está marcando, que acha que ali é o volante, que entende ser o goleiro a sair. A bola chega, todos param e o atacante adversário marca.

Ponto 04: Repararam que em 10 dias, foram 4 jogos? Não dá um jogo a cada 3 dias. E para esses 4 jogos, o time rodou 9mil km nesse período. Você viaja 300km e já chega cansado, imagina esse ritmo, mesmo que a maioria das viagens foi de avião, cansa do mesmo jeito.

Ponto 05: O desgaste mental é quase tão grande, se não maior, que o desgaste físico. Se você analisar o futebol pelos olhos do Vitor Birner, certamente vai achar isso uma bobeira, se analisar pelo olhar de quem, mesmo amadoramente, jogou, sabe que é uma realidade.

Ponto 06: Jogo contra o Corinthians. Clássico, tabu, pressão da torcida. Jogo contra o Racing e Rentistas. Libertadores. Guerra, tensão, jogo tenso. Isso desgasta psicologicamente tanto quanto fisicamente. Ou não?

Vamos com calma torcedor

Claro que, analisando friamente 4 empates seguidos não agrada, mas além dos pontos acima analisados, vale ver que o Crespo está começando o trabalho e está há 12 jogos sem perder, e espero que hoje seja o 13o (lembrando que esse artigo deve sair antes do jogo contra Ferroviária). Trabalho excelente feito pelo ex-centroavante argentino, mas claro, analisando o futebol pelo olhar dos comentaristas da ESPN / Fox Sports não vai enxergar isso.

Daniel Alves e Luciano machucados. Titulares absolutos. Éder machucado, esse ainda não é titular, mas será em breve. Time vem de uma sequencia muito complicada. Essa sequencia de 12 jogos, começou em 10/04 com a goleada por 5X1 frente ao São Caetano. São 12 jogos em 32 dias. Não tem 3 dias entre um jogo e outro. Viagens, clássicos, tensão, pressão.

Vamos com calma!

Futebol ainda é jogado por seres humanos e não máquinas.