Invicto na Copa Libertadores e detentor da melhor campanha na fase de grupos do Paulistão, o São Paulo está em ‘céu de brigadeiro’. E a boa fase tem nome e sobrenome: Hernán Crespo.

O treinador argentino detém a marca de melhor desempenho entre os treinadores que comandaram o Tricolor no século 21. Em 15 jogos à frente do time, o ex-atacante obteve 75,5% de aproveitamento (dez vitórias, quatro empates e uma derrota) —o São Paulo encara hoje o Rentistas, pela Libertadores, às 19h.

Assim, a torcida “cresponizou”, um neologismo a partir do já consagrado (pela torcida tricolor) “crespismo” e que tem a ver com outro hit dos torcedores, que já se sentem “iludidos” pelo treinador. A esperança é encerrar o jejum de quase nove anos sem títulos —o último foi a Sul-Americana. Na sexta-feira (14), diante da Ferroviária, a equipe joga as quartas de final do Paulistão, torneio que não conquista desde 2005.

Mas o que mudou neste São Paulo de Crespo em relação ao time de Fernando Diniz? Para entender, o UOL Esporte conversou com quatro ex-jogadores – Borges, Josué, André Dias e Bosco — que participaram de campanhas vitoriosas, como o tricampeonato brasileiro (2006 a 2008), a Libertadores e o Mundial de Clubes (ambos em 2005).

Borges elogia nova função de Luciano (e cutuca Diniz)

Há mais de uma década e meia sem conquistar o título do Paulistão, o São Paulo aposta no ótimo momento do setor ofensivo para acabar com a fila. Sob o comando de Hernán Crespo, o clube do Morumbi foi às redes 33 vezes em 15 jogos, média de 2,2 gols por partida.

Bicampeão brasileiro pelo São Paulo, em 2007 e 2008, o ex-atacante Borges afirmou que a atual dupla de ataque formada por Pablo e Luciano só encaixou após o técnico argentino mudar o posicionamento do camisa 11, que era obrigado a recuar com o Fernando Diniz.

“Embora ele não seja um centroavante de ofício, o Luciano tem crescido muito. Vi alguns jogos que ele vinha quase fazer a função de volante, de pegar a bola, de articular. Se eu fosse o treinador, sabendo do potencial de finalizar que ele tem, preferia ele mais próximo do gol. Hoje, o Crespo tem optado por colocar o Pablo e dar essa segurança na frente para deixar o Luciano flutuando”.

O Pablo fez ótima temporada no Athletico-PR [anotou 18 gols pelo clube em 2018]. Mas quando o jogador sofre lesões, acaba tendo dificuldades para manter o ritmo de jogo. Os outros jogadores [do elenco] já estão no nível fisicamente muito mais alto e você vai meio que remando contra a maré pra tentar chegar no ritmo deles.”

Borges, ex-atacante do São Paulo, elogiando o novo dono da posição

André Dias: saída de bola era arriscada

Crespo mudou o estilo de jogo do São Paulo assim que desembarcou na capital paulista, escalando três zagueiros. Lembrou, assim, o sistema que o São Paulo usou ao conquistar o tricampeonato brasileiro com o hoje coordenador Muricy Ramalho.

Provavelmente o setor mais criticado na “era Diniz”, a defesa são-paulina tem sido sólida. Na temporada 2020, o Tricolor foi vazado 79 vezes em 65 jogos (1,22 por partida), a segunda pior das últimas 15 temporadas do clube. Com o comando argentino, foram nove gols em 15 jogos (média de 0,6).

“É engraçado, eu ouvia isso na minha época quando eu jogava no São Paulo: ‘ah, o 3-5-2 está ultrapassado’. Mas qual o esquema que não está? Mudam as peças, mas na dinâmica do jogo você pode mudar também. Você começa no 3-5-2 e muda para o 4-4-2, para o 4-3-3. Enfim, depende das peças. O sistema bom é aquele que funciona, que dá resultado”, diz o zagueiro do tricampeonato do Brasileirão (2006 a 2008), André Dias.

André Dias ressaltou que a presença de Muricy Ramalho na atual diretoria tem sido importante na reestruturação da equipe. E destacou a contratação de outro velho conhecido da torcida são-paulina: “A grande reformulação já começou ao trazer o Muricy de novo pro São Paulo. Trouxeram o Miranda, que é um jogador de altíssimo nível, embora esteja com 36 anos, mas o biotipo dele já ajuda por si só. Tenho certeza que ele vai jogar ainda por uns dois, três anos em alto nível.”

A chave é Daniel Alves (na lateral)

O Daniel Alves é um craque, mas na posição de origem, ele rende muito mais para o grupo.”

Josué

O Daniel Alves pode jogar na lateral, varia de acordo com a ideia do treinador para o jogo.”

Borges

Sempre batia na questão do rendimento do Daniel Alves. É um excelente jogador, todos sabemos, mas a grande fase dele foi na lateral direita. Você utiliza o máximo que o cara pode dar.”

André Dias

Crespo colocou o Daniel Alves na posição em que ele se destacou no mundo e na seleção brasileira, que é a lateral direita. E está aí, desenvolvendo o futebol que ele sabe jogar.”

Bosco

Bosco diz que SPFC está pegando a raça de Crespo

Unir raça e técnica foi, talvez, a principal característica de Hernán Crespo, o atacante. Quando a diretoria são-paulina contratou o argentino, essa característica certamente estava no radar. Para o ex-goleiro Bosco, o time já está absorvendo o espírito de jogo do ex-atacante de Milan, Parma, Chelsea, River Plate e seleção argentina, entre outros.

“O São Paulo está pegando um pouco dessa identidade do que foi o Crespo como jogador, muita raça e muita personalidade. O São Paulo está tendo um padrão de jogo e acertou ao trazer o Crespo, não pelos resultados positivos, mas pelo que foi Crespo na sua carreira como jogador.”

Segundo Bosco, a diretoria acertou ao manter o alicerce da equipe de 2020 e reforçar o grupo com as chegadas de Bruno Rodrigues, Orejuela, William e, principalmente, Miranda, Martín Benítez e Éder.

“O mais importante foi que o clube manteve a base do ano passado, isso faz uma diferença. O São Paulo fez uma belíssima campanha no ano passado, não foi campeão por alguns detalhes. Tinha um futebol envolvente. Os adversários pegaram a maneira do São Paulo jogar nas últimas rodadas, mas era um futebol envolvente, de toque de bola”, disse o ex-goleiro, que defendeu o Tricolor entre 2005 e 2011.

São Paulo acertou muito quando trouxe o Muricy de volta para ser o coordenador técnico, o Milton Cruz para a base e o Zetti para tomar conta dos goleiros da base. Foi uma sacada de mestre, o São Paulo não precisa mais contratar goleiros, mas trazer da base. A torcida pegou confiança no Volpi, mesmo não sendo fácil substituir o Rogério Ceni, porque ainda vai existir esse fantasma do Rogério por muitos anos.”

Bosco, elogiando a volta de Zetti ao clube

Josué elogia mescla entre jovens e veteranos

Ao chegar no CT da Barra Funda, Crespo promoveu mudanças nos treinamentos e na forma de o time jogar. O objetivo era impor mais intensidade. Ao contrário de Fernando Diniz, que apostava na repetição e quase sempre utilizava os mesmos 11 titulares, o argentino tem rodado mais o elenco, dando mais espaço a jovens promessas.

O ex-volante Josué exaltou o fato de a atual comissão técnica mesclar revelações de Cotia com jogadores mais experientes para encarar a maratona de jogos. Desta forma, os jovens volantes estão se destacando, segundo o ex-jogador.

“A mescla que ele está fazendo de jogadores experientes, como o Miranda e o Daniel Alves, com jogadores jovens, o Lizeiro e o próprio Luan, vem dando resultados positivos. Eu gosto de ver quando os volantes marcam e conseguem jogar com a bola. Isso aí faz a grande diferença do futebol moderno”, disse.

“Time que vem para o meio-campo tem uma probabilidade muito, mas muito maior de vencer o jogo. Você está sempre com a posse de bola e, consequentemente, mais descansado para fazer uma ação ofensiva como defensiva”, completou.

Luan e Liziero são dois grandes volantes. Mas a gente não pode se iludir achando que é o grande time do momento. Ano passado, criou-se uma expectativa quando assumiu a liderança do Brasileiro e vieram tropeços. O time precisa se consolidar, mas está no caminho certo.”

Josué, sobre a dupla de volantes

O São Paulo encorpou em relação ao ano passado. Com a chegada do Crespo, está jogando mais compacto, jogando com a alegria. É um time equilibrado. A expectativa da torcida é muito grande para que o clube volte a ganhar o Estadual depois de muito tempo.

Josué, dizendo que time está mais equilibrado

UOL