Por causa de um e-mail de novembro do ano passado, o São Paulo expulsou do seu conselho deliberativo e quadro de sócios o ex-diretor de marketing e candidato à presidência em 2011 Edson Lapolla. Na mensagem enviada a alguns conselheiros em 2020, com título “nuvens grafite”, Lapolla diz que a torcida são-paulina chegou a cantar “fulano ladrão, São Paulo campeão” em homenagem a dirigentes, e cita o “caso dos Jacks” – referência ao episódio de 2014 no qual o São Paulo fez um acordo de R$ 18 milhões de comissão com a Far East, empresa chinesa representada por um americano chamado Jack Banafsheha, para intermediação do contrato de fornecimento de material com a Under Armour.

O acordo acabou cancelado. A comissão de ética do clube desmembrou, por conta própria, o e-mail de Lapolla em duas infrações: ofensa ao ex-presidente José Eduardo Mesquita Pimenta e ofensa à chapa grafite das eleições do clube – a Juntos pelo São Paulo, do atual presidente Júlio Casares, que venceu as eleições. Casares e seu assessor Douglas Schwartzmann integravam o departamento de marketing do São Paulo na época da negociação envolvendo Under Armour e Far East.

Para cada infração, foi dada uma suspensão; uma de 120 dias, outra de 140 dias, ambas referendadas pelo Conselho Deliberativo. Em documento assinado junto com o diretor financeiro Sérgio Fonseca Pimenta, Casares determinou a expulsão, citando que, pelo regimento interno do clube, duas suspensões superiores a 20 dias no intervalo de um ano levam à eliminação. À De Primeira, Lapolla afirmou que vai à Justiça. “Eu vou defender o São Paulo e falar dessas coisas até quando não der mais para falar. Até o São Paulo resolver esses problemas, esse problema da Far East, os problemas que começaram a ser varridos para baixo do tapete. Claro que vou à Justiça”.

O presidente do Conselho Deliberativo do São Paulo, Olten Ayres de Abreu, afirma que as decisões seguiram todos os procedimentos legais e foi referendada por 65% do órgão. ” O presidente da comissão de ética é um juiz criminal, outros membros são ligados à área do direito. Tudo correu dentro do maior cuidado e zelo dentro do aspecto legal. As decisões no São Paulo são colegiadas, o Lapolla foi condenado dentro dessa estrutura, de duas condenações. E assim entendeu 65% do conselho, que ratificaram as punuções. Não estamos falando de um tribunal de exceção”.

Oposição reclama e Olten Ayres responde

Em contato com a coluna, conselheiros e associados da oposição do São Paulo, em sua maioria, atribuem a expulsão de Lapolla a um crescente clima de silenciamento e uma “caça às bruxas” no conselho deliberativo do clube e suas comissões. Na última semana de abril, o presidente do órgão Olten Ayres de Abreu Jr. cortou a fala do conselheiro Marcelo Portugal Gouvêa durante reunião transmitida ao vivo – na passagem cortada, Portugal Gouvêa questionava o tom utilizado pelo presidente com outro conselheiro.

Ayres de Abreu Jr. admite que tem conduzido o conselho com rigor, mas nega que haja qualquer excesso. “Quando você vem de uma cultura de que se tudo se pode fazer para uma onde só se pode fazer o que está escrito, alguns verão rigor excessivo”, afirma. O presidente do órgão diz que caso haja processos contra conselheiros ligados à situação, o tratamento será o mesmo. “Não existe uma só representação por parte de conselheiros da oposição contra conselheiros da situação. Como você pode presumir que se puna alguém se sequer existe representação?”

UOL