O São Paulo dos últimos anos iludiu e maltratou o seu torcedor. A pergunta que ninguém faz é: foi incompetência ou crime? Não podemos deixar a boa fase vivida pelo time de Crespo influenciar na busca por essa resposta. O futuro do clube depende de que atitude tomaremos agora. A nova direção aponta para o movimento de expor as dívidas, mas tudo ainda muito superficial. Não adianta mostrar o vazamento se não mostrar também onde está o furo. Casares precisa abrir uma investigação junto com o Ministério Público para apurar as responsabilidades. A toda hora chegam cobranças de dívidas não honradas, de negociações absurdas e de compromissos empurrados para a atual gestão, numa clara demonstração de descaso com o futuro do SPFC. Será que é só descaso mesmo?

Na soma de todos os resultados financeiros da gestão Leco, o déficit é de R$ 262,5 milhões. Foram cinco temporadas a frente do clube que entregou no início deste ano com uma dívida líquida em torno de R$ 575 milhões. Parte importante dessa dívida vem da falta de profissionalismo na hora de negociar jogadores. Os maiores responsáveis são Raí e Pássaro! Um exemplo fiel está nas contratações de Daniel Alves e Juanfran. Ensaiaram usar o marketing e prometeram salários, luvas e prêmios que não poderiam pagar. O resultado é uma dívida em torno de R$ 9,3 milhões com o maior lateral do mundo e de R$ 4,5 milhões pelo espanhol, um lateral mediano que nem de longe valia o investimento.

Durante o período que a dupla Raí/Pássaro comandou o futebol do clube o São Paulo fez outros negócios cheios de falhas técnicas como as contratações do lateral direito Régis e do centroavante uruguaio Carneiro. Juntos custaram mais de R$ 3,5 milhões de reais aos cofres do São Paulo e que por envolvimento com drogas não renderam o esperado. Não se pode questionar o caráter dos jogadores, nem sequer aprofundar o debate sobre envolvimento de cada um em suas falhas. A questão aqui é como atuou o departamento de análise nesses casos? Quem a dupla ouviu antes de contrata-los?

As negociações sem questionamentos ou investigação prévia da carreira e vida de jogadores não param por aí. Biro Biro contratado da China nunca jogou e mais tarde descobriu um problema cardíaco. Calazans contratado apesar de quase 2 anos afastado dos gramados por lesão séria no joelho, nunca se recuperou. A lista de jogadores contratados sem consulta alguma ao momento do atleta ou preocupação com as finanças do clube é enorme: Bruno Peres, Aderllan, Everton Felipe ou Jean, goleiro que é processado por violência doméstica e que custou cerca de R$ 8 milhões.

Ainda tem mais, duas contratações contraditórias e que além de malfeitas, engrossam a fila dos devedores do clube: Pablo (R$ 26,6 milhões) e Tche Tche (R$ 22 milhões). Quem acredita nos valores dessas contratações? O mais grave é que nem sequer foram pagos. Alguns defendem a vinda do Pablo por ter vivido boa fase no Atlético-PR, e do Tche Tche por ter feito boa campanha no Palmeiras. Excelentes pontos de vista, mas basta dizer que o Pedro que hoje está no Flamengo e é muito mais jogador, e que foi vendido pelo Fluminense para a Fiorentina por um pouco mais. Basta dizer também que o São Paulo na época estava voando com Luan e Lizieiro no meio campo, chegando as finais do Paulista com o Mancine. O time não precisava do Tche Tche, jogador preguiçoso e que como volante titular, ficou 7 jogos no Campeonato Brasileiro sem fazer um único desarme.

O São Paulo foi lesado gravemente na gestão Leco e não investigar é o mesmo que calar, portanto, Casares não pode se deixar influenciar pelo corporativismo. Como torcedores não podemos aceitar o bom momento como prêmio por tantas questões escusas. Vamos pegar o exemplo do Cruzeiro que está vivenciando um momento de investigação profunda de suas atividades passadas. O São Paulo só não foi para a segunda divisão, como o time mineiro, por sorte. Os desmandos foram parecidos, assim como o modus operandi.

Se Casares quer reconstruir o São Paulo a partir de uma administração verdadeira, precisa começar por aí!

Rodrigo C. Vargas (Insta @rodrigovargasss) é jornalista e psicólogo. É também são paulino assim como todos na família, desde o avô.