Caros amigos e amigas tricolores,

            O novo programa sócio torcedor do São Paulo FC está sendo desenvolvido em parceria com a Fëng, empresa que gere programas ST de sucesso recente, como o do Santos e do Vasco, e outros já consolidados, como o do Flamengo. Embora confesso não conhecer a forma de atuação da empresa e as desvantagens desse tipo de contrato para o clube, depois de muitos anos hoje fico feliz por acreditar que pessoas dentro do clube estão trabalhando pelo bem do SPFC e quero entender que no cenário atual não existia opção melhor do que a Fëng. O intuito desse artigo, no entanto, não é enaltecer a gestão atual ou criticar a anterior, não é avaliar o programa ST existente nem o que está em desenvolvimento, e sim abrir um espaço de discussão sobre como nós, torcedores comuns, podemos apresentar algo diferente e para ajudar nosso clube do coração com idéias que, talvez por parecerem muito simples, nem passam pelas cabeças dos grandes diplomas e altos salários do departamento de marketing, scout, análises e tantos outros do clube. Um dos “Pelés” da minha profissão, Henry Stommel (1920–1992), é tido até hoje como um gênio por sua habilidade de responder questões complexas através de conceitos e idéias simples, as quais continuam norteando a oceanografia após mais de 80 anos. E foi tentando pensar simples que surgiu a idéia por trás desse artigo. Após anos acompanhando o blog em “modo leitura”,  decidi escrever um e-mail para o Zanquetta na semana passada, quando ele respondeu ao comentário de um colega sobre o programa ST com a pergunta: “Você tem alguma sugestão?”— e eu tinha.

            Mas como uma simples idéia nem sempre é acompanhada de uma simples execução, o Zanquetta então me convidou a expor essa minha idéia em um artigo para o blog, para que todos nós possamos discutir em volta do tema. Na minha opinião, o blog do São Paulo é hoje uma das fontes mais confiáveis de informações sobre o SPFC e, embora nos passe despercebido muitas vezes, é um canal pelo qual nossa voz pode ser ouvida pela nova direção do clube. Nós, frequentadores do blog, podemos nos tornar uma voz construtiva, e juntos tentarmos levar mudanças de baixo pra cima, visando um SPFC melhor. Abaixo, apresento uma idéia para incorporar ao programa ST. Na minha opinião, essa seria uma proposta atrativa para o clube e o torcedor. Peço ao Zanquetta e outros que conheçam o dia a dia do clube que expliquem a possibilidade de novas idéias como essa servirem ao SPFC, mesmo sob contrato com a Fëng. Aos amigo(a)s publicitários, advogados, administradores, economistas, matemáticos etc, que comentem sobre a viabilidade de tais propostas; e o mais importante, aos torcedores e torcedoras em geral que compartilhem idéias relacionadas à essa, contribuindo para que possamos levar nosso clube de volta ao patamar que ele merece.

Força nos números

            Antes de mais nada, acredito que um programa sócio torcedor não pode ser um programa “sócio torcedor rico” nem “sócio torcedor altruísta”. Acredito que o tempo é um dos bens mais preciosos que temos, e o tempo que cada um de nós reserva para o São Paulo no nosso dia a dia mostra a importância do clube para nós. No entanto, sou contra a idéia de sócio torcedor pagar “apenas por amor ao clube” (hoje mesmo eu não sou sócio torcedor). E pergunto: será que todos nossos jogadores profissionais que dizem amar o SPFC estão inscritos no programa sócio torcedor atual, na cota máxima de mais de R$5000 reais/ano? Tudo gira em torno de ação e reação, quid pro quo: quando o assunto é dinheiro então, nem se fala.

            Assim sendo, defendo a criação de um programa sócio torcedor inclusivo, com cotas de R$1,00/mês. Minha opinião mais radical acerca do tema traria até uma “filiação gratuita” com um cartão virtual, onde o clube estaria em contato próximo para promover ações, lançar programas, além de ter um cadastro e maior controle dos torcedores que frequentam o estádio. Um pacote sem muitos benefícios para o assinante, mas também sem muitos gastos pro clube, quid pro quo. De qualquer maneira, essa filiação, mesmo que gratuita, aumentaria o contato direto com o torcedor sem distinção financeira, que poderia dizer com orgulho “também sou sócio torcedor”. Um número (muito) maior de sócio torcedores aumentar o alcance das ações publicitárias do clube, o que é fundamental para o que proponho a seguir.

Algumas contas no guardanapo

            Não sei o número correto (não achei no site do clube), mas em um levantamento divulgado uns anos atrás aqui no blog, o São Paulo possuía perto de 30.000 sócios torcedores. Sabendo que hoje o plano mínimo é $12/mês,

30.000 x R$12 =  R$360.000/mês.

Com um plano mínimo de R$1/mês, atingiríamos esse valor com 360.000 torcedores. Pode não parecer muito fácil, mas se o Vasco conseguiu 150 mil novos membros em uma promoção de Black Friday (com a Feng, façamos justiça), acho que 360 mil não seria algo impensável para um clube da grandeza do SPFC. Na minha opinião, passaríamos de 500 mil facilmente. Vi inúmeras vezes no blog pessoas pedindo socorro a Abílio Diniz, patrocínio da Amazon e naming rights, quando o maior patrocinador do clube na minha opinião pode ser o próprio torcedor (e um dia teremos direito a voto!).

Idéias simples para problemas complexos

            Chego à seção principal desse artigo retornando ao conceito de idéias simples para problemas complexos. E começo com uma coisa que me deixa no mínimo confuso: redes sociais. Confesso que entendo pouco e não sou o maior fã, acompanho o perfil oficial do clube e alguns não oficias do tricolor. O que vejo é o @saopaulofc com 3.3 milhões de seguidores postar uma foto ou outra do treino e antes/depois dos jogos, enquanto um perfil não ofical @spfc (de 750 mil inscritos) faz ações como “acerte o placar e ganhe ingresso pro morumbi tour” todo jogo, sorteia camisa de jogadores por metas da página e outras coisas. Pergunto aqui pois não sei a resposta: existe alguma lei que proíba o SPFC oficial de fazer ações do tipo?

            Uma segunda coisa que me tira o sono é ver em todo final de partida os jogadores trocando camisas de jogo com os rivais,  ao mesmo tempo que nosso programa sócio torcedor promove “foto pais e filhos” uma vez a cada 6 meses. Eu respeito a tradição da troca de camisas e aprecio o gesto de fair play, mas me indigna saber que o manto sagrado do SPFC provavelmente vai ser profanado por um Felipe Melo ou um Jô (esse o rei do fair play), enquanto milhões de torcedores tricolores não temcondições de comprar uma camisa oficial do clube. Não acredito que deveríamos proibir a troca de camisas, mas se o clube não pretende reutilizá-las, que selecione ao menos DOIS jogadores por partida e sorteie as camisas para os sócio torcedores!

O torcedor patrocinador

            Minha proposta principal (finalmente!) para ter o torcedor como patrocinador ativo do clube é realizar ações—com MUITA transparência—diretamente ao encontro do que o torcedor mais quer: reforçar o time dentro de campo, com objetivo de ganhar jogos e ser campeão! Penso que um jeito simples (até mesmo besta) de fazer isso seria criar “rifas” de jogadores. Isso mesmo, “rifas”, igual se faz com cesta de dia das mães, ovo de páscoa, e qualquer coisa que faz muitas pessoas comprarem por um preço baixo “uma chance” de ganhar algo maior.

            Meu primeiro exemplo é um caso bem conhecido e muito complicado: Daniel Alves. O sálario do Daniel Alves no primeiro ano de contrato seria da ordem de:

12 x R$1.5Mi/mês =  R$18 Mi.

Não deixo de imaginar nosso queridíssimo ex-presidente Leco buscando patrocínio para pagar os salários do Daniel Alves. Sem contar a tão famosa comi$$ão, imagino os aspones do ex-presidente ligando para a Audi e pedindo R$18 Mi para pagar o Daniel Aves porque “chegaria na apresentação e iria treinar 2x/semana de Audi (se vocês também derem o carro). Ah, ele também tem um monte de seguidor no Instagram, mas geralmente só usa pra falar bobagem.”

            O jeito que penso para pagar um ano de salário do Daniel Alves seria entrar em contato, por exemplo, com a FIAT e falar: “O Daniel Alves vai chegar de PALIO no centro do gramado no dia da apresentação e vocês terão sua marca relacionada à ele por um ano (no caso específico do Daniel, porque não a logomarca na braçadeira de capitão?). Preciso do carro que ele chegará na apresentação e de mais 12 carros, vai te custar R$300.000”. (O Daniel Alves vai andar de Audi/BMW/Mercedes de qualquer jeito, por isso acho que uma ação com carro popular é muito mais interessante pra montadora, que vai ter uma oportunidade de “vender” o Daniel Alves num Palio.) Na apresentação do jogador, o clube faria o sorteio desse Palio para uma “rifa do Daniel Alves”, e a cada mês que o Daniel recebesse seu salário, o clube sortearia outro carro entre os sócios torcedores que compraram a “rifa DA”. O sócio torcedor deveria comprar no mínimo uma “rifa DA”, que poderia variar de preço e número de rifas disponíveis por torcedor dependendo do valor mensal do plano ST: por exemplo, o sócio-torcedor de R$1/mês poderia comprar até 5 rifas à R$10 cada, enquanto o sócio-torcedor R$10/mês compraria até 10 rifas por R$5 cada e assim por diante. Fazendo outra conta boba, se em média um torcedor comprar 2 rifas (R$20,00), precisariámos de 900.000 ST participantes para pagar 1 ano de Daniel Alves.

            Respondendo a pergunta inicial, certamente monetizar a torcida é um grande desafio para o clube. Mas impossível? De jeito nenhum! Afinal, quem nunca foi ao shopping pra gastar R$20,00 no cinema e acabou comprando presente de Natal pra família toda só pra chegar nos R$300,00 e concorrer com um cupom no sorteio da BMW do Papai Noel?

A idéia em valores mais realistas …

            Por fim, mostro que a idéia também pode ser feita em proporções menores, pois dinheiro é dinheiro e o clube está precisando mais do que nunca. Recentemente, vimos o retorno do Miranda recebendo em torno de R$300.000,00/mês e temos a possibilidade de compra do passe do Galeano por R$3.300.000,00. Esse último eu acho que seria um ótimo “teste de fogo” para a idéia! Sorteio de um fim de semana em Assunción no Paraguai, acompanhar a delegação em jogo de libertadores, almoço com o jogador no Morumbi, camisas oficiais, enfim, sabemos que são TANTAS possibilidades que o clube pode nos oferecer, que o dia que os gestores perceberem o que nós podemos oferecer de volta, seremos novamente gigantes mundiais! Ao invés de esperar um bilionário são paulino ou uma empresa que tenha certeza de retorno investir no clube, é hora do SPFC tomar a iniciativa e investir no seu torcedor. O amor pela instituição existe, é real e estará sempre com o torcedor, e o dia que esse torcedor se sentir amado de volta pelo clube, as possibilidades serão infinitas!.

            Agradeço antecipadamente a todos pelo seu tempo, pela leitura do texto (ficou enorme =P), pelos comentários, e opiniões. Agradeço ao Zanquetta por ouvir minhas idéias inicialemente e oferecer a oportunidade de dividi-las com vocês.

Um bom dia a todos, e avante tricolor!!!

Dante Campagnoli