Se você está lendo este texto, a chance é grande que você está calejado, um tanto cascudo. Pode se dizer, até de forma mais apropriada, resiliente.

Você viu algumas coisas absurdas em nove anos passados, quando pensa no seu time de coração.

Começou a “sobreviver”…

Você sobreviveu a uma, quase, queda pra uma segunda divisão.

Sobreviveu a cinco anos da gestão Leco, que confiou num Raí perdido junto com um advogado, palmeirense ao que tudo indica, péssimo.

Sobreviveu a vendas de futuros craques que nunca deram retorno em campo (e nem foram solução financeira) e à vinda de perebas, por preços absurdos ou não.

E não parou por aí…

Viu jogadores sendo praticamente doados.

Viu um jogador que veio pra ser líder, ser poeta de redes sociais.

Viu um técnico ser ovacionado por formar “homens”.

Um jornalista dar aval pra isso, e ter a coragem de jogar a carta do “pobre” com quem o torcedor (vasta maioria pobre também) não se importa.

E o martírio continuou.

Foi obrigado a ouvir um dos maiores vencedores da história do clube insinuar que o clube em que está agora “é diferente”, parecendo um garoto deslumbrado que não sabe como agradar o novo amiguinho de escola e que pra isso precisa diminuir o “ex” melhor amigo.

Dentro de campo, viu eliminações vexatórias e um time que estava 7 pontos na frente, fazer 3 em 21.

Você, são-paulino, aprendeu a sofrer. E se acostumou a isso.

Se o time não sabe mais o que é vencer, você, por outro lado, pode ser considerado um vencedor.

Exagero? Não

O simples fato de continuar vendo os jogos depois de tudo isso (e mais), prova que nesses últimos 9 anos, o grande vencedor é você.

O que falta então?

Falta o sofrimento ser recíproco.

Chegou a hora do time aprender a sofrer. Sim, sofrer. O tanto que você sofreu.

Pois não temos nenhuma esperança de melhora no horizonte. Sem dinheiro, com dívida gigante, não há dinheiro para se pensar em algo imediato.

O que deve fazer um time, para aprender a sofrer?

O começo (essencial) é ter alma. Sem alma não se sofre. Não se sente. Não se dá importância.

O futebol moderno diminuiu diferenças. Talento, hoje, é só parte da equação. Dedicação, aplicação tática, preparo físico e vontade de vencer são tão importantes quanto talento. Ou mais, especialmente no Brasil. (O time milionário que foi campeão brasileiro, foi campeão com um ponto de diferença e tomou 11 gols do SPFC no ano)

Precisamos de um time com cara de time. Um time que aprende, inclusive, a ser pressionado, dentro e fora de campo. Que sofre e aprende a vencer no sofrimento, na adversidade, na fome pela vitória. Um time de homens. Verdadeiros homens.

Aquele que se adapta a cada jogo, que disputa cada centímetro do campo como um campo de guerra. Aquele que sabe ser atacado quando assim for necessário, mas que mata o oponente assim que consegue um espaço nesse campo. Aquele que respira futebol, não redes sociais, imprensa ou sonhos pueris.

Hoje, alma é uma palavra que causa calafrios no torcedor quando este pensa no time atual. Com séria desconfiança sobre possível uma possível entrega do campeonato, alma é algo que passa longe desse elenco.

Mas a falta de dinheiro e a necessidade de improvisar, pode fazer com que uma correção de rumos ocorra no Morumbi. Anos de investimento em jogadores que pedem muito e retornam muito pouco, o SPFC pode e deve procurar, e achar, jogadores sedentos por vitórias e por crescimento. Jogadores que sentem a derrota e se inebriam na vitória.

Gerenciamento de empresa (como devemos ver nosso time) não é algo fácil, com certeza.

Mas com espírito incorporado e imposto desde o topo, se começa a criar uma nova história. Grandes empresas têm lemas, modus operandi e alma próprias. Todas as gigantes tem características intrínsecas e implementação de espírito específico. Independente dos executivos que passam por elas.  Estes devem ser os primeiros a se adaptar.

O SPFC deve aproveitar essa chance para criar isso.

Casares o fará?

Impossível saber.

Mas disso dependemos pra nossa sobrevivência, em termos de relevância, para o futebol. Para que as glórias não venham apenas do passado.

Pra que a formação, aqui, seja de homens vitoriosos, não de “amantes”. Já que amor, pra cada um, é visto de forma diferente. Já a vitória, é  pura, mera e apaixonante matemática, resultando em amor cada vez maior pelo nosso tão querido time.