O estilo enérgico de Fernando Diniz, outrora visto como algo natural nos bastidores do São Paulo, agora ganha outra impressão na rotina do Centro de Treinamento da Barra Funda. A diferença no trato com os jogadores causa ruído para parte do elenco, especialmente no que se refere à forma como o técnico lida com Daniel Alves.

Se o técnico costuma se exaltar com os seus comandados às margens do campo durante os jogos, o mesmo vale para os treinamentos, ainda mais de portas fechadas em tempos de pandemia. As broncas, com a bola rolando, são direcionadas até para jogadores já bem estabelecidos em suas carreiras, os chamados “medalhões”. A situação era vista de forma comum no cotidiano. Entretanto, desde o episódio envolvendo o xingamento a Tchê Tchê, na derrota por 4 a 2 para o Red Bull Bragantino, o ponto de vista de um grupo de jogadores foi alterado.

O episódio deixou marcas e mudou o ambiente no CT, como o UOL Esporte já relatou. Diniz passou alguns dias mais retraído, antes de retomar um perfil mais vibrante na comunicação com a maioria dos atletas quando a bola está rolando. Em que pese a oscilação de humor do treinador, o time não teve resposta em campo: em 2021, ainda não sabe o que é vitória e agora vê o Internacional com quatro pontos de vantagem na liderança.

Em meio a este turbilhão de emoções, uma constante: a ala mais jovem do grupo entende que Diniz costuma poupar o camisa 10 de broncas em público, mesmo em jornadas que erros do meio-campista resultem diretamente em gols do adversário. Diversas fontes ligadas ao elenco do Tricolor paulista detalham a situação. Há um incômodo pela diferença de tratamento.

A relação entre Daniel Alves e os seus companheiros, contudo, é tida como positiva. Há quem o compare a Rogério Ceni na liderança exercida no vestiário. O veterano costuma aconselhá-los e ajudá-los em decisões diárias. Porém, é visto como alguém protegido pelo treinador em momentos de chamada de atenção. Luciano, Brenner, Gabriel Sara, Tchê Tchê, Luan, Arboleda e outros jogadores de diferentes idades e trajetórias já receberam broncas estridentes do comandante em dias de jogos. A ausência de público nos estádios, por conta da pandemia do novo coronavírus, deixa situações como essas mais evidentes.

Os membros mais longevos do departamento de futebol e com boas relações com os atletas, como o executivo de futebol Raí, estão cientes desse incômodo gerado no elenco. No entanto, há também no departamento uma visão de que Diniz é um profissional que se preocupa com os seus jogadores e tenta ouvi-los diariamente, em conversas separados, a fim de ajudá-los na evolução do futebol, especialmente aqueles em início de carreira.

A diferença de tratamento diária entre cada atleta também é um ponto observado como algo natural por lideranças do departamento de futebol. Os integrantes da pasta creem que a história de cada jogador deve ser respeitada e que isso faz diferença no momento em que o técnico decide conversar com os seus comandados. A forma de lidar com cada atleta, portanto, varia conforme a carreira de cada um deles.

O técnico tenta trabalhar como um conselheiro de seus atletas, visando o crescimento individual, sobretudo no aspecto extracampo. Essa preocupação do comandante, inclusive, foi tema de entrevista coletiva de Daniel Alves após a goleada por 5 a 1 sofrida para o Internacional, na última quarta-feira (20), em pleno Morumbi.

“Eu acredito que as pessoas que conhecem bem o Diniz sabem da hombridade que tem, sabem do amor e carinho que tem por seus atletas e sabe que tem um jeito de ser que ou você ama ou você odeia”, afirmou. “Mas as pessoas que estão aqui, que conhecem e trabalham com o Diniz, sabem que o melhor que pôde acontecer na vida deles é ter um Diniz, porque é uma pessoa que instiga os seus comandados a serem melhores todos os dias. O Diniz prepara as pessoas para a vida. Elas vão poder executar bem nos seus trabalhos, vão poder ser bons pais, bons filhos, bons maridos.”.

“As pessoas que viram aquele fato suceder com o Tchê Tchê, naquele momento pontual… Sempre é levado massivamente pela TV, pelos intérpretes, mas é porque vocês não conhecem o Diniz no dia a dia, senão vocês teriam uma outra impressão, acho que até pior do que essa, porque o tanto que [ele] cobra e o jeitão dele de ser… A gente quer muito esse cara, a gente ama muito esse cara, porque quem dera se todo ser humano tivesse um Diniz na sua vida. Com certeza, eles seriam melhores, sem dúvida nenhuma”, concluiu.

UOL