Confesso que há algum tempo escrevi e guardei o texto da demissão do técnico Fernando Diniz pronto em meus arquivos, tal qual um jornalista de obituário que tenta fazer alguma frente de trabalho escrevendo sobre personalidades moribundas. Mas agora vejam vocês. Vejamos nós. Mas acima de tudo, vejam o Tricolor do Morumbi. Após a vitória contra o Fluminense no Rio, o São Paulo é mais líder do que nunca, e os que antes atiravam pedras no treinador agora não só agem como se nada tivesse acontecido, como criticam duramente seus companheiros de arremesso de pedras.

Vitória que começou mal no Maracanã. Brenner abriu o placar e comemorou da forma mais irritante que existe no futebol, que é a celebração preguiçosa do trotezinho rumo à beira do campo com soquinho médio no ar. Tudo bem que nos estádios vazios os tradicionais sinais obscenos em direção à torcida adversária encontram-se momentaneamente suspensos, mas as opções ainda são muitas: um chute numa publicidade da Vivo (para depois ficar com o pé preso na placa), um recado amargurado destinado à imprensa, enfim.

Um gol que vale liderança merecia mais que um soquinho protocolar, um soquinho médio, daqueles que nem dão conta de destruir uma Mercedes em Street Fighter II. Tinha que ser giratória de chute forte com Ken ou Ryu.

Outra figura que chamou atenção na partida foi o atleta Daniel Alves, usando uma munhequeira de capitão, em vez da já cansada e careta braçadeira. Amigos, percebam que estamos a um passo da sonhada bandana de capitão. A bandana unissex, para quem não sabe, é um adereço que harmoniza bem com outros esportes, como o ciclismo e a bocha, mas no futebol historicamente encontra resistência. Viola chegou a atuar com uma bandana do grupo Guns’n’Roses no showbol, também conhecido como “futebol de churrasco”, e foi só.

Mas quem conhece o potencial da irreverência de Dani Alves sabe que ele pode até mais que uma simples bandana: podemos especular uma bermuda jeans desfiada de capitão, ou mesmo uma pulseira cheia de espetos de capitão. O importante é que venha com a palavra “humildade” bem legível para que não se confunda o uso da peça com falta de humildade.

A volta no Morumbi: a vaga da experiência

Mas a verdade é que na segunda partida na quarta-feira pode fazer falta ao tricolor gaúcho a única liderança capaz de superar a experiência de Daniel Alves: Leo Moura, que infelizmente se transferiu no início do ano para o Botafogo-PB. Mais um atleta que deixa o clube tão cedo, antes dos 43 anos.

Mesmo não reunindo mais condições físicas para ficar sentado no banco os 90 minutos (o atleta só ficava na reserva nos 15 minutos iniciais para depois voltar para casa para se deitar), Leo poderia ser uma voz importante para os mais jovens. Sendo que qualquer um com menos de 42 anos é mais jovem que o lateral, ou seja, seria uma parcela considerável do elenco e parte da comissão técnica.

Essa coluna não reflete nem minhas próprias opiniões. Escrevo enquanto discordo veementemente de minhas próprias palavras. Craque Daniel é apresentador do Falha de Cobertura, (supostamente) ex-jogador, empresário de atletas e inocentado de todas as acusações feitas contra ele.

(Personagem interpretado por Daniel Furlan, um dos criadores da TV Quase, que exibe na internet o Falha de Cobertura e Choque de Cultura.)

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