Passado recente versus passado distante

Um São Paulo líder faz o são-paulino, finalmente, sonhar. Como sonhamos tantas vezes num passado distante.

Podemos sonhar?

O passado recente não nos aconselha. Nos desencoraja (palavra pessimistamente cautelosa talvez?).

Mas qual passado é o distante, qual o recente? Dois anos atrás fomos campeões do primeiro turno do brasileirão. Hum, mas esse passado (recente?) é meio decepcionante, ou até traumático, com certeza.

O passado (distante?) nos mostra um último título brasileiro em que tiramos 11 pontos de diferença do Grêmio para mostrar que mandávamos no Brasil.

Muito distante para confiar, talvez.

Nesse mesmo título, um “tal Muricy” (apenas ironia com um dos maiores são-paulinos existentes) comandou o Tri seguido.

Hoje temos um passado recente de derrotas e eliminações decepcionantes também. Passado recente?

Que tal um passado recente “mais recente”?

Vitória por três a zero num adversário direto pelo título, quebra de tabu em arena que poucas vezes até empatamos, 9 gols no todo poderoso (agora bilionário) Flamengo, melhor saldo de gols, segundo melhor ataque e melhor defesa do Brasileiro.

Se animar? Sim, por que não?

Ter certeza? Não, por que sim?

Passado recente, passado distante. Ânimo, desânimo e certezas se confundem e nos fazem por hora sonhar e por momentos desconfiar.

Risquemos tudo escrito acima. Com quase nove dezenas de décadas de história, campeões de tudo possivelmente imaginado, passado recente pode ser duas décadas ou dois meses. Distante, dois anos, dez ou cinquenta. 

Dependemos somente de nós mesmos, e isso não pode e nunca deve ser ruim.

Recente e distante se confundem: o campeão de 2008 Muricy está de volta ao SP, os meninos de Cotia são os menudos de 2020 (ou um expressinho com esteroides) que jogam com responsabilidade e com o coração, como muitos veteranos não fizeram com a camisa do SPFC.

Que tal, então, curtir o momento e relaxar? (sem expectativas mas com esperança)

Sim, O SPFC de hoje pode ser campeão em dois meses ou não ganhar nada, mas está jogando com cara de time. Time que tem momentos fantásticos e outros que te irritam, que tem, por vezes,  futebol envolvente e, por outras, toques que parecem não dar em nada. Mas, acima de tudo, um time que não entrega um jogo sem lutar, time que está jogando com uma união de vencedores e uma aura que presenteia seu torcedor com alegria que antes parecia impossível até para o mais otimista são-paulino.

Sim, curtamos!

Curtamos um Volpi que participa mesmo quando não defende. Curtamos o paredão JuanFran, os pilares intransponíveis Arboleda e Bruno Alves e o  garçom Reinaldo.

Curtamos o quarteto “vovô e a molecada” do meio campo. Um vovô Daniel que quer jogar todas e está em todos os pontos do campo, e a molecada que é incansável: um Luan que representa o equilíbrio de volta, um Igor Gomes intenso e um Sara que tem a elegância dos craques do passado, misturada com a volúpia do jogador moderno.

E claro, os dois que sobraram, famintos incansáveis pelo gol, Luciano e Brenner.

Ainda falta, obviamente, falar de um Diniz que finalmente arrumou o time e os reservas que entram com a alegria que há tempos não víamos.

Com um reserva de luxo como Hernanes, que com o coração vermelho, preto e branco, fica correndo no campo depois do jogo, na chuva, pra entrar em forma.

O momento é especial e futebol é momento. Que queremos que perdure. Perdurando ou não, ele tem uma aura de superação e felicidade como não sentimos faz tempo. Que ele seja contínuo enquanto durar. Que durar signifique até o final da temporada, pelo menos. 

Estabilidade e solidez são conquistas das mais felizes e “comemoráveis”. Que o são-paulino o faça, com todo direito!

PS: hoje é dia de jogo. VAI TRICOLOR MAIS QUERIDO DO MUNDO! VAI SÃO PAULO!

Cadu Roncatti Bomfim