O São Paulo adotou, desde 2015, um padrão para os contratos de jovens promessas do clube. Com um teto salarial baixo e multas elevadas para o exterior — todos têm rescisão avaliada em 50 milhões de euros (R$ 306,8 milhões na cotação atual) —, o clube mantém as promessas no Morumbi e as valoriza gradativamente, conforme o desempenho no elenco profissional.

No atual elenco comandado por Fernando Diniz, cinco jogadores formados em Cotia têm se destacado. O zagueiro Diego Costa, o volante Luan, os meias Igor Gomes e Gabriel Sara e o atacante Brenner atuam frequentemente na equipe. Todos trilharam caminhos semelhantes em relação aos compromissos com o clube.

O São Paulo estabelece metas, que estão de acordo com aproveitamento no time profissional, para valorizar a remuneração dos garotos. Eles, portanto, têm os salários aumentados conforme o número de jogos feito pela equipe principal. Há um limite de partidas. Se essa quantia for ultrapassada, o clube negocia um novo compromisso.

O caminho da padronização foi feito com os cinco garotos de Cotia que estão constantemente nas escalações de Diniz. Igor Gomes até já negociou um novo compromisso em fevereiro. Os demais ainda vão conversar sobre novos contratos ainda neste ano para a sequência na equipe.

Em entrevista ao UOL Esporte, o gerente de futebol, Alexandre Pássaro, falou sobre o padrão adotado pelo clube e explicou qual a ideia ao institucionalizar os valores dos acordos. “Na verdade, essa nossa estratégia de contratos da base parte de dois princípios, duas regras mais importantes. A primeira regra é questão de proteção, multas altas. A gente negocia isso, a regra é de 50 milhões de euros. Visa também a economia do clube para que não se faça loucura no primeiro contrato ou no segundo, quando o jogador está subindo”

“Isso é também para traçar, desenvolver e planejar um caminho para a carreira do jogador. No final do ano, para o São Paulo, não faz diferença se a gente gastou R$ 20 mil ou R$ 40 mil. Lógico que faz diferença, mas em um orçamento de R$ 500 milhões, não tem tanto impacto. Seria muito mais fácil para a gente, agradaria os pais, os agentes e o próprio atleta. Mas a gente é muito duro na questão de negociação. O jogador precisa estar no degrau certo. Conforme ele sobe degraus na parte esportiva dele, ele também subirá degraus na parte econômica. Além de nos dar proteção, nos dá a expectativa que o atleta está subindo uma série de degraus”, acrescentou.

A mudança de postura e a adoção de um novo padrão no São Paulo se refere também à cessão de direitos econômicos. O clube evita ceder fatia dos direitos aos atletas ao fazer os contratos. O UOL Esporte apurou que, em gestões anteriores, havia atletas com salários elevados, percentuais cedidos — até 30% — e comissões altas para empresários. Tudo foi modificado a partir de 2015.

“Quando eu cheguei aqui, muitos atletas que tinham firmado contratos nessa antiga fase de estratégia contratual de jogadores da base estavam no profissional. Se eles firmaram contrato em 2013, em 2015, 2016, eles estavam no profissional. Você pega todos os contratos para entender o caminho para cada jogador. Houve diversos casos em que os valores eram muito altos. Esses jogadores já estavam no terceiro, quarto, quinto ano de contrato e os valores estavam muito acima do esperado. Esses casos são recorrentes quando a gente começa a comparar os meninos de hoje com os meninos do passado. A diferença é gritante”, afirmou Pássaro.

“Isso era comum, não só no São Paulo, como em todos os clubes do mundo. Em 2015, a Fifa proibiu, permitindo só que os atletas tenham direitos econômicos. Isso é bom, porque a gente tem sempre 100%, 95% dos direitos econômicos dos atletas formados aqui. Em casos específicos, a gente faz alguns acordos. O São Paulo de 2019, 2020 tem raros casos de jogadores que querem ir embora, que batem o pé e fazem pressão. Isso é um alinhamento de expectativas nossa e deles. Dos contratos que fizemos de 2015 para cá, talvez 15% dos contratos tenham cessão de direitos econômicos”, completou.

No bate-papo com a reportagem do UOL Esporte, Alexandre Pássaro ainda abordou outros temas envolvendo as divisões de base do São Paulo. Veja, abaixo, alguns trechos da entrevista:

Por que a mudança: “O atleta vai ter mais fome, vai ter mais interesse, vai se acostumando à ideia de ser jogador do São Paulo aos poucos. Não vai ser no primeiro contrato que ele vai comprar o carro ou a casa para a mãe. Ele continua buscando isso e vendo a evolução de forma positiva. É importante da nossa parte olhar os jogadores, vendo a evolução e reconhecendo o momento que cada um vive.

Seria muito fácil assinar contratos longos, multas altas e nunca mais mexer no contrato do jogador. Quando a gente mexe no contrato do jogador é para mostrar que a gente também está fazendo o que foi combinado. Com essa valorização, o atleta também estará feliz dentro do São Paulo. Isso tem funcionado muito para a gente em muitos casos. A gente tem tido o melhor uso de jogadores da base no elenco e no time. Acho que parte muito disso, os jogadores estão alinhados com a estratégia do São Paulo.”

Multas de 50 milhões de euros para garotos: “É uma regra nossa. Quando o jogador assina o primeiro contrato, com 16, 17 anos, está institucionalizado que a multa rescisória do jogador será de 50 milhões de euros. Essa é a multa internacional. Quando a gente fala em multa, a multa é um parâmetro, a gente não pode falar em valor de jogador pelo valor da multa. Poucos jogadores saem pelo valor da multa no mundo inteiro.

A maioria dos jogadores é negociada usando como parâmetro a multa, tendo a segurança da multa para negociar. A gente tem também a multa nacional. A multa nacional está atrelada ao salário. Eu não posso estabelecer o que quero. Eu tenho que fazer um cálculo de 2 mil vezes o valor médio do salário. Se um jogador que ganha R$ 4 mil na base no primeiro contrato, a multa dele é de R$ 8 milhões. Se a gente pensar no Antony há dois anos, ele tinha essa multa. Um time de fora não poderia usar isso, mas um time do Brasil poderia. A gente sempre tem que estar atento à multa nacional, mas não dá para mexer nisso sem mexer no salário. A multa internacional fica estabelecida num valor maior.”

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