Esqueça a figura passiva, com fala mansa e sem representatividade nos bastidores do passado. Há um novo Raí no departamento de futebol do São Paulo, mesmo que ainda tome decisões contestáveis. O executivo, outrora criticado internamento pela passividade no cargo, vive um momento diferente no Morumbi. Sem garantias de sua permanência ao fim da atual gestão, que se encerra em 31 de dezembro de 2020, se tornou figura mais enérgica e combativa nos bastidores.

Ele já brigou pelos direitos do clube na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sustentou a permanência de Fernando Diniz na comissão técnica no momento de maior pressão da temporada e apareceu até na arquibancada, no intervalo da vitória por 4 a 1 sobre o Flamengo, pelo Brasileirão, se queixando da atuação da arbitragem. A cena mais emblemática foi a cobrança sobre o árbitro Caio Max Augusto Vieira (RN), em 1º de novembro. Na ocasião, ele se irritou com a não expulsão de Isla ainda no primeiro tempo da vitória sobre o Fla pelo Campeonato Brasileiro.

Raí, que estava na arquibancada do Maracanã, foi em direção aos túneis de vestiário e fez pressão sobre a arbitragem no intervalo. Ele estava acompanhado de outros membros do departamento de futebol na ocasião.

Em 15 de outubro passado, outro episódio marcou a nova postura de Raí no Morumbi. Incomodado com a declaração do presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, sobre um gol mal anulado de Luciano na derrota por 3 a 0 para o Atlético-MG, o dirigente foi ao Rio de Janeiro para se reunir com o representante da entidade máxima do futebol nacional. O encontro foi para cobrar a entidade pelo erro no uso do VAR durante o revés para os mineiros, em 3 de setembro passado.

Na reunião, ele ainda fez questionamentos sobre a atuação de Rodolpho Toski Marques (Fifa/PR) no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, o empate por 3 a 3 com o Fortaleza. A reclamação foi suficiente para tirar o árbitro da escala do VAR no jogo seguinte, o empate por 0 a 0 com o Grêmio, no Morumbi. Nessa semana, o executivo de futebol tricolor voltou a enviar um representante do clube à CBF para queixar-se de questões referentes à arbitragem — o gol de David na vitória por 3 a 2 sobre o mesmo Fortaleza, agora pelo Brasileirão.

O comportamento adotado fora do clube reflete no cotidiano do CT da Barra Funda. No momento de maior instabilidade de Fernando Diniz, após a eliminação na fase de grupos da Libertadores, Raí bancou a permanência do técnico nos bastidores, mesmo que houvesse também pressão interna para a demissão do técnico. Foi feita, inclusive, uma lista de possíveis substitutos do comandante no Morumbi. Diego Aguirre, Paulo Autuori, Rogério Ceni e Vagner Mancini surgiram como prováveis escolhas para o cargo. Raí, contudo, bancou a permanência do treinador.

Raí segue sem ter a certeza de que permanecerá no futebol do São Paulo em 2021, sobretudo pelo trabalho contestado no cargo e pela mudança de gestão — Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, deixa o cargo em dezembro. No entanto, adotou um novo comportamento para gerir o futebol do clube paulista.

UOL