Domingo tem decisão. Pra um São Paulo que acostumou a usar esse termo de forma corriqueira porque lembra pouco o que é uma decisão de verdade.

Essa nova “decisão” é especial. Do lado oposto, um ex-jogador que todo torcedor conhece bem. E ele? conhece cada canto do Morumbi como a palma de cada mão. Por sinal, mãos que deram algumas das maiores alegrias que os são-paulinos já se acostumaram a sentir falta.

Rogério Ceni, quatro títulos na carreira em três anos de profissão como técnico.

Rogério Ceni, que deu como resposta a um jornalista: “O time que vocês veem em campo, era eu quando jogava. Tinha esse espírito de jogo. Só aceito trabalhar com jogadores que tenham o mesmo espírito de competitividade”

Rogério Ceni que tem uma obsessão apenas: a vitória a qualquer custo.

Ceni é um risco para o time que tanto teve orgulho de tê-lo como goleiro. E esse risco ultrapassa e muito uma eventual eliminação do São Paulo de Diniz (treinador com três títulos em onze anos de carreira).

Chegou a uma evolução notória em sua curta carreira como treinador. Saiu cru do São Paulo mas evoluiu e ganhou estrada (figurativamente e literalmente).

Evolução que culmina num ponto em sua carreira em que dificilmente continua no Fortaleza. O Fortaleza ficará pequeno pra ele e o Brasil, carente de grandes técnicos e acostumado à mediocridade brasileira (visto que os três primeiros do Brasileiro tem técnicos estrangeiros), anseia por alguém novo que tenha o olho na Terra de cegos que a Brasilis se tornou.

Rogério virá para o São Paulo?

Não se sabe.

Qual o risco então?

Vir ou não vir dá no mesmo. O risco é real.

Vem, não dá certo de novo (apesar que não dá pra se dizer tão assertivamente que não deu certo da primeira vez) e a torcida fica decepcionada, a fila aumenta e pode ser de vez a última passagem do grande ídolo que de tantas conquistas participou.

Não vem? Vê-se talvez um risco ainda maior. Rogério está, a cada dia que passa, se tornando menos e menos ex-jogador do SP, e mais e mais técnico de futebol. O cordão umbilical que une ainda o ex craque ao São Paulo está cada vez mais frouxo, mais solto.

Qual o problema? O problema é que se Rogério pega outro time de Série A com potencial de títulos mais sérios do que um Cearense, a chance é grande de ficar bons anos, realizando bom trabalho e dando títulos, pelos quais tem tanta obsessão, a esse time.

O São Paulo pode correr esse risco, com tantos anos de fila? Arriscado a ficar ainda mais tempo, com o requinte de crueldade de ver o ídolo que mandou embora, ganhar títulos num rival?

Eu prefiro o risco primeiro. O segundo seria muito mais doloroso.

PS: O momento, do domingo, opõe duas realidades inversas, tão díspares que se não nomeássemos quem é quem acreditaríamos no inverso: De um lado um time aguerrido, que joga com o coração e tem um técnico obcecado por vencer, pois o esporte profissional tem apenas esse objetivo. Do outro lado, um time que se acostumou a perder e a não se importar com isso (até alguns torcedores aprenderam a se conformar com um técnico como Diniz, com zero capacidade comprovada para dirigir o gigante) e que tem um técnico obcecado por sistemas que não dão certo, talvez simplesmente par mostrar que está certo. E claro, não esqueçamos da diretoria, que não grita, não cobra, não aparece, não nada. Murmura muito. E só.

Cadu Roncatti Bomfim