Na noite da última quarta-feira (26), o São Paulo venceu o Athletico Paranaense no Morumbi e chegou ao terceiro jogo sem perder, além da segunda vitória consecutiva (ambas por 1 x 0). Agora, Fernando Diniz chega ao seu 37º jogo no comando do Tricolor do Morumbi. São 18 vitórias, oito empates e 11 derrotas. Também são 46 gols feitos e 34 sofridos. Assim, um aproveitamento de 55% dos pontos. A coluna Rasgando o Verbo vai falar sobre as prováveis injustiças sofridas pelo comandante do SPFC.

Fernando Diniz é injustiçado?

Nem vilão, nem herói. Fernando Diniz é um bom técnico, que pensa diferente, mostrou isso em diversos clubes, mas nem sempre tem material humano para trabalhar. Salvador da pátria? Claramente que não! Mas “burro”, estático e ruim não é! Sem exigir contratações, assumiu o SPFC de Cuca sem brilho. Entre altos e baixos, encerrou o ano bem.

Antes da parada do Coronavírus, o clube estava num ótimo momento, sendo apontado como favorito ao título do Paulistão e vindo de vitória por 3 x 0 sobre a LDU na Libertadores e 2 x 1 no clássico contra o Santos. Quando voltou, o momento estava bem diferente e o clube vivia mais altos e baixos. Após a derrota para o Vasco por 2 x 1 e com o técnico questionado, o São Paulo acertou a troca de Éverton por Luciano: primeira contratação pedida por Fernando Diniz.

Mudanças acertadas, mas pouco exaltadas

A defesa do São Paulo raramente era criticada na temporada. Bruno Alves de Arboleda pareciam dois pilares do time. A culpa sempre caia no ataque, no meio-campo e, vez ou outra, em um lateral. Mas as últimas duas vitórias do São Paulo tiveram algumas mudanças significativas, mas pouco exaltadas.

Zaga nova, Juanfran no banco e saída de Pato

Diniz sacou Bruno Alves e Arboleda e colocou uma zaga jovem, inimaginável, com o Made in Cotia Diego Costa, capitão do time Sub-20 campeão da Copa São Paulo 2019, e Léo Pelé, lateral-esquerdo que raramente tinha oportunidades na ala canhota de Kingnaldo. A se saiu muito bem. A mudança deu mais velocidade, toque de bola e uma melhor saída de jogo. Inclusive, Léo arrisca alguns dribles desde a zaga, algo que agrada o treinador.

O lateral-direito espanhol enfim foi para a reserva. Após não agradar o treinador e nem a torcida, o ex-Atlético de Madrid deu lugar a Igor Vinícius. O jovem de 23 anos dá velocidade ao lado direito e apoia com mais força que o veterano. Sem o mesmo brilho da primeira passagem pelo SPFC, Pato não mostrava a mesma vontade de antes. Foi de titular a última reserva, até acertar sua rescisão. Mais um acerto de Diniz, afinal, o jogador está mais preocupado com ser celebridade do que jogador.

Reserva para Igor Gomes e retorno aos poucos para Hernanes

O meio-campista teve bons momentos com a camisa Tricolor, mas sua velocidade não vinha sendo o suficiente em campo. Corria muito, soltava a bola rápido demais, pouca agressividade e não conseguia criar opções ao ataque. Vindo do banco pode ser mais fumaça.

Muita gente questionava a não titularidade ou não entrada do ídolo do São Paulo nos jogos. Até chegaram a questionar uma rixa entre o treinador e o meia. Mas, ontem, diante do Athletico, Hernanes voltou e mostrou o motivo de ser reserva. Ainda está sem ritmo, errando passes e lançamentos que não costuma errar, mas natural. Claramente terá mais espaço, mas se não vinha jogando era por lesão e recondicionamento físico e técnico.

Fator Luciano

Este talvez seja o melhor acerto do São Paulo até então. O novo camisa 11 tem mostrado raça, vontade, dedicação e faro de gol. Estreou num 2º tempo contra o Bahia e já marcou salvando o time da derrota. No jogo seguinte, frente ao Sport, deu a assistência para o gol do jogo, marcado por Pablo. E ontem anotou o gol da vitória. Além disso, marca pressão, volta para marcar na defesa, ajuda no meio na construção de jogadas e tem sido um dos melhor jogadores do time.

Novos desafios de Fernando Diniz

Diniz guiou o São Paulo a dois magros placares de 1 x 0 nos últimos jogos, mas é um começo. Porém, o cérebro do time, Daniel Alves, levou um chute no braço ontem e fraturou o antebraço direito. O camisa 10 passará por cirurgia. Vai colocar placa no braço e deve desfalcar o São Paulo por tempo indeterminado.

Neste período, Hernanes deve ser o substituto natural e volta a ter um cargo de destaque no elenco, sendo uma liderança dentro e fora de campo para o grupo, além de referência técnica, como é Daniel. Além disso, Luciano sentiu um desconforto muscular e é dúvida para o clássico contra o Corinthians. Reinaldo, outra liderança da equipe, está fora do Majestoso por suspensão.

Legado sem grandes contratações

  • Votoraty-SP: em 2009, quando estreou como treinador, conquistou o Paulista Série A3 e a Copa Paulista. No ano seguinte, levou o clube a segunda fase da Copa do Brasil 2010, sendo eliminado pelo Grêmio. Depois, os donos da equipe resolveram extinguir o clube em seguida.
  • Paulista: migrou para o time de Jundiaí, onde sagrou-se bicampeão da Copa Paulista.

Estes foram os únicos títulos como treinador que teve. Mas foi no Osasco Audax-SP que se destacou e teve projeção nacional.

Estilo de jogo – Dinizismo: o Tiki-taka à Paulista

Seu time encantou o futebol paulista com toque de bola entre todos os jogadores, inclusive o goleiro, evitando chutões, mesmo em momentos de alta pressão dos adversários. Além disso, há uma constante troca de posições entre os atletas durante o jogo. Tem a filosofia de que o goleiro precisa jogar na linha, usar bem os pés e participar do jogo.

Projeção nacional no Audax

O vice-campeonato Paulista de 2016, passando por São Paulo, Corinthians e parando no Santos na final, lhe colocou no cenário como um dos bons técnicos da nova geração. Com um elenco limitado e cheio de promessas, teve um ótimo resultado.

Jogadores como Sidão, Felipe AlvesCamachoTchê Tchê, YtaloYuriBruno Paulo e Mike se destacaram. A maioria foi para time de Série A de Brasileirão, com exceção de Felipe, que ficou no clube mais um tempo junto a Diniz. Inclusive, esteve com o treinador no Oeste e no Furacão antes de ser peça chave no sucesso fo Fortaleza de Rogério Ceni.

Grandes desafios de Fernando Diniz: Athletico-PR e Fluminense

Neste dois times de Série A, Diniz começou encantando novamente. No time paranaense, começou como coordenador técnico geral e treinador, mas não comandou a equipe campeã estadual de 2018. Invés disso, acompanhou de perto o técnico do Sub-23, Tiago Nunes. Assim, teve tempo de implementar na equipe principal seu estilo de jogo.

Tiago foi, posteriormente, campeão da Copa Sul-Americana de 2018 e da Copa do Brasil de 2019 após a demissão de Diniz da equipe. Em entrevista ao Bola da Vez, da ESPN Brasil, na época que ainda treinava o Athletico, o atual técnico do Corinthians exaltou a importância do trabalho de Fernando Diniz:

“Ele nos deixou um ÓTIMO LEGADO, principalmente quando falamos da construção da posse de bola da equipe”.

Começo eufórico no Athletico-PR

O futebol de sempre foi “para frente”, marcando muitos gols, mas às vezes sofrendo muitos também. Foi assim, por exemplo, na 2ª fase da Copa do Brasil de 2018, quando venceram o Tubarão por 5 x 4. Passou por São Paulo na Copa do Brasil e Newell’S Old Boys na Sul-Americana. Empatou sem gols com o Grêmio, em Porto Alegre, com um a menos, aumentando seu momento de destaque.

O experiente zagueiro Paulo André, campeão mundial com o Corinthians, chegou a declarar que estava “jogando no lixo tudo o que sabia sobre futebol” ao trabalhar com Diniz (coisa que Daniel Alves, atual comandado de Diniz também falou de maneira semelhante). Começou com pé direito contra a Chape no Brasileirão com 5 x 1.

O declínio no Furacão

Mas após 12 jogou e apenas uma vitória, num Brasileirão bem disputado, não resistiu e caiu, mesmo estando vivo na Copa do Brasil e Sul-Americana. Num ano de Copa do Mundo, com muitas pausas entre um jogo e outro, pós-Copa, Diniz deixou o Furacão após 21 jogos, com cinco vitórias, sete empates e nove derrotas, um aproveitamento geral de 34,9%. Vale ressaltar que não teve grandes contratações.

Novo desafio: Tricolor das Laranjeiras

No Fluminense, Diniz teve um pouco mais de tempo para trabalhar, saindo com 44 jogos, 18 vitórias, 11 empates e 15 derrotas. Quando foi demitido, seu time jogava bem, tinha maior posse de bola do campeonato, maior número de finalizações do torneio, sem ter o melhor time. Aliás, longe disso. Fernando estava no rumo certo quando caiu.

Flu estava nas quartas de final da Sul-Americana e havia caído na Copa do Brasil para o Cruzeiro nas oitavas de final nos pênaltis. Após iniciar com duas derrota no Brasileirão, fez um dos melhores jogos do ano ao vencer o Grêmio, em Porto Alegre, por 5 x 4, de virada, após estar levando 3 x 0. Perdeu para o Botafogo por 1 x 0, mas depois fez 4 x 1 no Cruzeiro e no Atlético Nacional. Mas não resistiu em agosto e deixou o clube na zona de rebaixamento.

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