Fará 30 anos, neste sábado (20), que o São Paulo venceu o Noroeste por 6 a 1 e foi eliminado na repescagem do Campeonato Paulista de 1990.No dia seguinte, a Folha publicou: “São Paulo vai disputar a Segunda Divisão em 1991”. Não disputou.

O texto tratava de uma fórmula aprovada pelo conselho arbitral da federação em janeiro. Mas o regulamento, publicado antes do início do estadual, grifava: “No Campeonato da Primeira Divisão de Futebol Profissional de 1990 não haverá descenso à Divisão Especial de Futebol Profissional“.

Divisão Especial, ou Intermediária, era como se conhecia a segundona.

No mesmo artigo 50 do regulamento, explica-se: “A partir do Campeonato de 1991, a Primeira Divisão será integrada por 28 associações, sendo obrigatoriamente divididas em 2 Grupos de 14 associações cada, respeitado o acesso de 4 associações da Divisão Especial de Futebol Profissional de 1990.”

No parágrafo 1º, o texto segue: “o Grupo I será constituído pelas 14 associações classificadas para disputar a Quarta Fase do Campeonato de 1990 e o Grupo II será constituído pelas 10 associações restantes, que não se classificaram para a Quarta Fase, e mais as 4 advindas do Acesso da Divisão Especial de 1990.”

Repare que diz que o campeonato será disputado por 28 equipes, e quatro serão promovidas de 1990 para 1991. Em nenhuma linha o regulamento diz que algum dos 28 clubes não terá chance de ser campeão.

Mesmo assim, o campeonato de 1991 ficou na história pela virada de mesa. O São Paulo, supostamente rebaixado, teria manobrado e conseguido o cruzamento entre os dois grupos para ser campeão.
Não houve manobra nem virada de mesa.

A edição 1.024 da revista Placar, de 26 de janeiro de 1990, apresenta o Paulista afirmando: “Como nos dois anos anteriores, não haverá rebaixamento.”

A edição do Estadão de 21 de junho, dia seguinte ao suposto rebaixamento, diz que o São Paulo não se classificou para a fase final do estadual. Não fala em descenso. No mesmo dia de São Paulo 6 x 1 Noroeste, o Brasil venceu a Escócia por 1 a 0, pela Copa do Mundo. Boa parte dos repórteres e analistas estava na Itália.

Antes do início do Paulista de 1991, não seria necessário ler o regulamento para entender que já havia um erro da imprensa. Bastava ver a festa das torcidas de Olímpia, Marília, Sãocarlense e Rio Branco, promovidos na Segundona.

O texto do jornal O Liberal, de Americana, comemorava assim o acesso do Rio Branco: “… ao empatar sem gols com o Olímpia, em Olímpia, o time garantiu o acesso à 1ª Divisão do futebol de São Paulo e no próximo ano disputará o maior campeonato do País”.

Uma mentira contada por 30 anos vira verdade. É necessário separar erro de imprensa de fake news. Notícia falsa é proposital. Nenhum repórter ou editor julgou estar errando ao dizer que o São Paulo caiu. Jornalista erra, como médicos, advogados e engenheiros.

Até mesmo a nova diretoria do São Paulo, empossada um mês antes do suposto descenso, festejou ter assumido na segunda divisão e chegado ao título mundial.

Foi para testar minha memória sobre as entrevistas do então presidente da Federação Paulista, Eduardo José Farah, e sobre minhas leituras de Placar, que parei de discutir e busquei o regulamento. Aquele que diz: “Não haverá descenso”.

Faz 30 anos que o São Paulo não caiu. Você pode discordar, mas os documentos confirmam. Voltar nesse episódio serve para mostrar como as grandes ondas nem sempre reproduzem verdades absolutas.

PVC

Jornalista e autor de Escola Brasileira de Futebol. Cobriu seis Copas e oito finais de Champions.