Alfonso Dario Pereira Bueno e Diego Alfredo Lugano Moreno são uruguaios. Foram zagueiros. Serão ídolos eternos do São Paulo. Uma dupla presente em seleções utópicas, formadas a partir da memória afetiva dos torcedores.

No campo dos sonhos, os dois estiveram juntos muitas vezes.

Mas, seria uma boa dupla?

“Não tenho dúvida que sim. Lugano é um típico zagueiro uruguaio e eu, que comecei como meia e depois fui volante, tinha mais técnica. Combinaria muito bem. Seria incrível, invencível.” Defina “típico zagueiro uruguaio”, Dario Pereira.

“Jogador duro e forte, pronto para o jogo de contato. Sério, que não dê espaço para o atacante. Precisa ser rápido e ter ótimo jogo aéreo, ganhar todas pelo alto.” A descrição ampla, embarca muita gente. Dois deles são muito elogiados por Dario. E um deles, nem uruguaio é.

Ele começa falando de Diego Godín. “Ele tem tudo o que falei de Lugano, inclusive a liderança. Por tudo o que ele fez no Atlético de Madrid e na seleção uruguaia, não vejo um zagueiro brasileiro capaz de igualar. Ele é melhor que todos”. O outro “típico zagueiro uruguaio” elogiado por Dario, nasceu em Monte Sião, Minas Gerais, e formou, com ele, de 1980 a 1987, uma dupla idolatrada até hoje. José Oscar Bernardi, o Oscar.

Dario Pereira e Oscar era -ainda é- uma simbiose tão forte como Xavi e Iniesta. Afetivamente falando, é claro. Uma dupla que nasceu sob o signo da improvisação e superou os mais duros quesitos da excelência. Vou em 1980. Oscar voltará ao Brasil, vindo do Cosmos, já com muita fama. Dario ainda era o uruguaio que chegará com fama e, atormentado por muitas contusões, não rendia o esperado.

Então, Gassem, o esforçado Gassem se machucou. Não havia outro e Carlos Alberto Silva, o treinador, escalou Dario Pereira. Ele aceitou sem entusiasmo, acreditando que a improvisação seria sua porta de saída do clube. Estreou bem e foi melhorando. “No terceiro jogo, ganhei o Motoradio como melhor em campo. Continuei jogando e pedindo para voltar pro meio campo. Ele não deixava”.

Um dia, Carlos Alberto Silva chamou Dario para um particular. “Gringo, quer voltar para o meio?”. “Em time que está ganhando, não se mexe, treinador. Vou ficar por aqui’. Não ficou. Entrou para a história. E qual era o segredo da dupla? “Tinha uma sincronia. Se o atacante fosse para o lado dele, eu ficava na sobra. Se viesse para o meu lado, ele cobria. A gente era muito bom pelo alto e marcava bem por baixo, também”.

Ou seja, eram bons por baixo e por cima. Difícil dar errado. ” O Oscar seria titular da seleção brasileira hoje. Tiago Silva e Marquinhos não jogam como ele”. O São Paulo não era apenas a dupla Oscar e Dario. Tanto que o “gringo”, de 1977 a 1988, ganhou dois Brasileiros e quatro Paulistas. Foram 453 jogos e 37 gols. Dario acredita que os dois times da época eram tão bons quanto os times de Telê Santana, que conquistou o mundo em 92 e 93.

Ele justifica a afirmação. O time de 80/81 tinha Valdir Peres, Getúlio, Oscar, Marinho Chagas, Renato, Serginho e Mario Sérgio. Todos da seleção. O outro time, de Cilinho e do Pepe, tinha Gilmar, Pita, Silas, Muller e Careca. Todos eram de seleção. A gente jogava muito”. A um dos dois títulos, Dario já havia dado adeus. Foi em 1986, contra o Guarani. Final de prorrogação e o São Paulo perdia por 3 x 2. “Já tinha praticamente desistido, então o Vagner Basílio chutou pra frente. O Pita, que nunca fez um gol de cabeça, ganhou no alto de um zagueiro. Então, a bola foi para o Careca, que acertou aquele sem pulo. Ganhamos nos pênaltis. Estava escrito nas estrelas”.

E por que esses times não ganharam uma Libertadores? “Eram tempos diferentes. No Brasil, não se dava importância à Libertadores. Era comum guardar os jogadores para o Paulista. E quem mandava na CONMEBOL, era a Argentina. O São Paulo, com o Telê, mudou o enfoque. E ficou forte nos bastidores também.” Já como treinador, Dario sentiu na pele a força dos argentinos. Em 2003, dirigia o Paysandu e, pelas oitavas da Libertadores, venceu o Boca, de Abbondanzieri, Burdisso, Battaglia e Barros Schelotto, por 2 x 0 na Bombonera.

E a volta? “O Boca não podia ficar fora. O juiz acabou com a gente. Falta simples era amarelo, amarelo era vermelho. Perdemos dois jogadores e o jogo por 4 a 2.” Foi um dos bons momentos de Dario como treinador. Começou no São Paulo em 97, vindo do time sub-20. Foi vice-campeão paulista, com um time de jovens, como Dodô, França e Fábio Aurélio. Foi vice da Supercopa da Libertadores. Em 99, foi campeão mineiro com o Galo, revelando jogadores como Marques e Guilherme.

Bons trabalhos que foram descontinuados na primeira sequência ruim. Decisões que deixaram marcas em Dario. Hoje, em quarentena contra o coronavirus, negocia sua volta ao futebol.

“Quero dirigir um time de base, com um trabalho duradouro. No profissional, não quero. No Brasil, um vice não tem reconhecimento. O jogador é absolvido, mas o treinador é demitido. A conta sempre sobra para ele pagar”.

Assim falou Don Dario.

UOL