Terceiro colocado do Campeonato Paulista no geral e já classificado para as quartas de final –que ninguém tem certeza se e quando acontecerão–​ ao lado do Red Bull Bragantino. Em meio às enormes incertezas sobre o prosseguimento do futebol neste ano, o São Paulo deu a convicção à sua torcida de que vai disputar o título que não ganha desde 2005, no estado, desde 2008, no país, e desde 2012, em qualquer situação.

A virada sobre o Santos foi o ponto alto de um fim de semana de melancolia, pela insegurança e pelos estádios vazios. A superioridade são-paulina do primeiro tempo foi discreta, porque o time de Jesualdo Ferreira levava perigo quando ia ao ataque, mesmo finalizando só duas vezes. O gol de Arthur Gomes foi uma pintura, pela jogada coletiva. Então, Jobson foi expulso corretamente por acertar a coxa de Daniel Alves, e Fernando Diniz deu ao jogo triste a pitada de ousadia necessária.

A troca do zagueiro Bruno Alves pelo atacante Pablo, com o deslocamento de Antony para a esquerda e de Igor Gomes para a meia direita, empurrou o Santos para trás. Em sete minutos de segunda etapa, o clássico perdido já estava empatado –e estava vencido com 21.

Fernando Diniz não é Guardiola, mas o conceito é o mesmo, de ocupar espaços por saber que o adversário não o agredirá. Enquanto o Santos se fechava com duas linhas de quatro e só Soteldo na frente, era possível deixar Arboleda no um contra um. Tanto era que o São Paulo virou o jogo e não correu nenhum risco.

Quando o São Paulo era atacado, o que foi raro, Tchê Tchê se enfiava na defesa. Mas não foi quarto zagueiro nunca. Com a bola, construiu o jogo junto com Daniel Alves. “No segundo tempo, fizemos um jogo mais parecido com o contra a LDU”, disse Diniz. Ele fez questão de esclarecer que não foi por ter um homem a mais. Inúmeras vezes, um time com um jogador a menos consegue equilibrar partidas.

O São Paulo ousou, teve 66% de bola no pé, finalizou 24 vezes, 16 dentro da área. O Santos chutou três vezes e só na jogada do gol invadiu a defesa são-paulina para bater a menos de 16,5 metros, medida da grande área.

Um dos grandes problemas são-paulinos era ser o time de maior número de finalizações e recordista de posse de bola, mas finalizar muito mais de longa distância do que de frente para o goleiro adversário. Isso está mudando, treino a treino.

O São Paulo está crescendo. Com toda a dificuldade do trabalho de Fernando Diniz, com todos os problemas do clube, o time está ganhando consciência do que faz para vencer. No ano passado, teve três técnicos diferentes, jogou 24 vezes no Morumbi e só ganhou 10. Neste ano, disputou cinco partidas em casa e venceu quatro, com um empate.

Nada mais é do que a maturidade de um trabalho que agora tem 27 partidas com o mesmo treinador. Jorge Jesus conseguiu muito mais rápido. Pode ser por sua capacidade ser maior, por seu elenco ser melhor ou apenas porque nem todo time tem amor à primeira vista. O São Paulo está se construindo e tem mais base do que Santos, Corinthians e Palmeiras. Entre outros motivos, porque tem mais tempo junto.

O São Paulo do primeiro e o do segundo tempo contra o Santos
O São Paulo do primeiro e o do segundo tempo contra o Santos
O São Paulo do primeiro e o do segundo tempo contra o Santos
O São Paulo do primeiro e o do segundo tempo contra o Santos – Editoria de arte

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Jornalista e autor de Escola Brasileira de Futebol. Cobriu seis Copas e oito finais de Champions.