A fúria que parte da torcida direcionou a Fernando Diniz no fim do empate sem gols com o Corinthians, sábado à noite, no Morumbi, em nada surpreende quem acompanha o São Paulo, mas talvez surpreendesse um desavisado que assistisse ao clássico sem saber dos anos sem títulos do Tricolor e de todo o turbilhão em que se transformou o clube nos últimos anos.

O São Paulo dominou o jogo quase inteiro, com exceção aos cinco minutos finais do primeiro tempo, em que a marcação se desencontrou e o rival criou um par de chances desperdiçadas por Boselli. Não seria exagero dizer que só não venceu porque seus jogadores não conseguiram transformar em gols as diversas oportunidades criadas, além do pênalti que a arbitragem ignorou.

O enredo foi o mesmo nas últimas três rodadas do Paulista: o São Paulo domina, mas não faz os gols, não vence e reclama com razão dos erros dos juízes. Aquele desavisado citado no primeiro parágrafo talvez não identificasse nenhum motivo de revolta com o treinador ou até com os jogadores, exceto pelas falhas de conclusão.

Só que esse nosso personagem hipotético não sofreu com as derrotas, eliminações e decepções que machucaram o são-paulino nos últimos tempos. O torcedor está em seu direito de não querer mais esperar para vencer. É vitória ou vitória, independentemente do desempenho. A fúria, nesse ponto, é compreensível.

Aos dirigentes, porém, cabe fazer uma análise técnica, mais desapaixonada. O torcedor é a razão de ser de um clube de futebol e é importante ouvi-lo, mas talvez tenha chegado a hora de o São Paulo parar de dizer “amém” à voz da arquibancada. Guiar-se pelo que ecoa no Morumbi neste momento possivelmente significará, com mais alguns resultados desagradáveis, dar fim ao trabalho que está em andamento para iniciar outro. Nada indica que seja uma boa ideia, e o próprio São Paulo é prova disso.

Fernando Diniz não é gênio nem monstro, embora o brasileiro se proíba de analisar sem exageros as pessoas que se propõem a fugir do status quo como ele. O “ame-o ou deixe-o” que o acompanha desde o início da carreira como técnico não beneficia ninguém. Você não precisa formar parte de um fã clube para reconhecer que o trabalho começou a andar em 2020. Também não precisa ser um “hater” para perceber que ainda há muito a ser melhorado. O São Paulo tem de vencer com urgência, mas nenhum campeonato será decidido neste mês, que é praticamente uma extensão da pré-temporada.

O momento de a bola não entrar é agora, desde que isso não signifique ficar fora dos mata-matas do Paulistão, obviamente – a Libertadores começa dia 5. Vai chegar a hora em que a ordem se inverterá, mas nesta altura da temporada é melhor acumular atuações que indiquem a existência de um caminho a ser trilhado, mesmo que o resultado não corrobore com isso, do que vitórias conquistadas “de qualquer jeito”.

Quando Diniz foi contratado, em setembro do ano passado, o autor deste texto não enxergava nele o perfil ideal para esse São Paulo em que se quer tudo “para ontem”, ainda mais porque sua contratação foi feita em meio a uma temporada em que o elenco já havia sido dirigido por três outros profissionais e sofrera uma série de modificações. As atuações irregulares, suficientes apenas para manter o Tricolor no sexto lugar do Brasileirão (exatamente onde estava quando Cuca jogou a toalha), reforçavam a tese de que as coisas não iam andar. Mas o início de 2020 mostra um São Paulo que pode buscar protagonismo, até porque o elenco é qualificado e está absolutamente fechado com a comissão técnica, ingredientes que nem Diego Aguirre, treinador que melhor trabalhou no Morumbi nos últimos anos, conseguiu reunir. É momento de ter convicção e insistir. 

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