Ansiedade, imediatismo, desespero, angústia, agonia, euforia e depressão formam o espiral decadente tricolor, que há 15 anos não vence o Campeonato Paulista, está na fila há 11 no Brasileiro e, de 2012 para cá, só ergueu uma taça.

Esse espiral decadente também foi construído com descaminhos de formações equivocadas de equipes e comissões técnicas. Do tricampeonato Brasileiro, em 2008, depois da saída de Muricy, o São Paulo girou em si mesmo e nunca mais encontrou seu rumo.

Quantos aos técnicos, os mais sortidos possíveis e imagináveis passaram pelo Morumbi: medalhões, destaques, apostas, estrangeiros, ofensivos, retranqueiros… tudo na velocidade vertiginosa da precipitação, em movimento espiral de ascensão e queda.

Com poeira se acumulando na galeria de troféus, esse texto não se propõe a lustrar os fatos, mas o sentimento da torcida e a aridez dos fatos transformaram, temporada a temporada, campeonato o campeonato, o São Paulo como se inserido em uma partida de basquete, em que a equipe adversária abre 20 pontos de vantagem e o desespero toma conta, fazendo com que se tente tirar o atraso arremessando, de qualquer jeito, de qualquer modo, atrás da linha de três.

A vida nos ensina que, salvo raríssimas exceções, o desespero não leva a lugar algum.

Em meio a essa pressão, encontra-se Fernando Diniz, técnico com um conceito diferenciado de futebol, ainda em busca de afirmação em um clube grande, mas com ideias claras sobre o que se busca implantar.

A grande questão é que os bons conceitos de Diniz necessitam de tempo. Mas tempo tornou-se algo que o universo tricolor desaprendeu.

Afastando-se das opiniões, mas marcando a grande área com os fatos, é inegável que o trabalho de Fernando Diniz, vice-campeão paulista com o pequeno Audax, é um feito que não pode ser desconsiderado. É fato também que o trabalho de Diniz deixou alicerces no campeão Athletico-PR com Tiago Nunes.

Diniz chegou ao São Paulo no final de 2019, depois que o medalhão, Cuca, optar por deixar o cargo. Em meio ao espiral da reta final Brasileirão, conhecendo o elenco, o ambiente, os bastidores, ainda assim, oscilando, Diniz conseguiu assegurar a vaga direta na Libertadores. Era o oxigênio necessário para seguir na temporada 2020.

À frente da equipe no Campeonato Paulista, com visível trabalho em período inicial, bastaram dois jogos com graves erros de arbitragem para que o técnico fosse questionado. O São Paulo, em sua totalidade, repete um padrão esquizofrênico de euforia e depressão, sendo o que se necessita – por mais que tudo dê errados nos últimos anos – é de tempo, de equilíbrio.

Ainda sobre os fatos, contra o Novorizontino, a arbitragem anulou dois gols legítimos de Pato e deixou de marcar dois pênaltis. Contra o Tigre, os problemas não foram as finalizações, mas o apito. No entanto, muito além do placar, foi uma boa partida do São Paulo, com grande movimentação e uma equipe mais equilibrada, o que não exclui a necessidade de ajustes.

Contra o Santo André, outro grave erro, com o adversário marcando em uma jogada que havia nítido impedimento. E veio a primeira derrota. Para complicar, o São Paulo caiu para o terceiro lugar no grupo, ficando fora da zona de classificação à próxima fase do Paulista.

Além das danosas arbitragens, que garfaram importantes pontos quando se olha a tabela, pode-se observar que o São Paulo, apesar de criar muitas chances, enfrenta problemas de finalização e também, em alguns momentos, um desequilíbrio no sistema defensivo, deixando clareiras pela má recomposição e posicionamento. Nesse ponto Diniz precisa ajustar.

Quanto às finalizações, mesmo problema já enfrentado por Cuca, o que se pode fazer quando um centroavante destaque no ano passado não consegue marcar um gol? Que a culpa toda não recaia sobre Pablo, mas que se estenda aos demais, que criam, mas não conseguem converter em gol.

Restringir o trabalho de Diniz ao simplismo de ser apenas “um time com posse de bola” é ignorar os números, sobrepondo assim verdades numéricas com camadas de angústia, ansiedade e imediatismo. É repetir, insanamente (ou burramente) o mesmo ato de começar a jogar tudo para o alto.

O São Paulo enfrentará o arquirrival Corinthians e não é de se duvidar que, se perder, Diniz seja mais uma vitima desse espiral destrutivo que se formou nos anéis do Morumbi. Aí chegará outro, para novamente recomeçar do zero, para novamente deixar de se construir um trabalho para a solução imediatista do frisson de toda novidade.

Evidente que há ajustes a serem feitos na equipe, mas, para um time perdido entre conceitos há uma década, somente o tempo – com ou sem Diniz – será capaz de reverter o movimento espiral descendente.

O simplismo, para sintetizar um turbilhão de pensamentos que conflitam razão e emoção, apaga dos neurônios a obviedade de que diversos clubes iniciam um campeonato e somente um erguerá a taça. Lapsa os neurônios de que – com ou sem Diniz – será necessário construir uma nova base, um novo caminho para se chegar à vitória, à competitividade.

Por mais que o São Paulo se debata diante do espelho em busca de títulos, não há outro caminho que não seja a construção lenta, dolorosa e gradativa. Mire-se no exemplo do Flamengo que, mesmo com uma revolução administrativa, penou longos cinco anos para se tornar a potência que hoje é.

Enquanto diretoria e torcedores tricolores insistirem nas cestas de três pontos, buscarem um atalho, o São Paulo tende a afundar em seu espiral decadente, trocando de técnicos e reformulando elencos, construindo e desconstruindo, partindo do nada e chegando a lugar algum.

Ricardo Flaitt