O São Paulo iniciou sua pré-temporada na última quarta-feira e um grito tem ecoado constantemente pelo CFA Laudo Natel, em Cotia. “Reage, reage”, brada Fernando Diniz. É o código para que os jogadores não se abatam após uma perda de bola e marca uma das ideias de jogo que o técnico quer afinar para o Tricolor em 2020.

Esses gritos estão ligados a uma estratégia de marcação chamada “perde-pressiona”. O conceito é simples: ao perder a bola no campo de ataque, o time precisa ser agressivo e reagir imediatamente para tentar tomar a bola do adversário. Quanto mais rápido isso acontecer, as chances de retomada da posse aumentam e a distância para o gol rival fica menor.

O torcedor do São Paulo já viu bastante desse conceito em dois momentos recentes do clube. Em 2015, Juan Carlos Osorio era um adepto ferrenho do “perde-pressiona”. Dois anos depois, os ensinamentos do colombiano inspiraram Rogério Ceni a tentar fazer o mesmo. Para isso, os técnicos costumam apostar em times mais intensos e velozes, capazes de encurralar os adversários antes mesmo de a bola cruzar o meio de campo.

Diniz quer que isso seja uma marca do São Paulo deste ano. O técnico conversa sobre isso com o grupo desde o ano passado, mas entendia que seria preciso mais tempo de treinamento para que a equipe ficasse ajustada para a estratégia. Caso contrário, o time se adianta com o objetivo de pressionar e recuperar a posse, mas o faz de forma desordenada e deixa buracos na transição defensiva.

Um exemplo de como um “perde-pressiona” mal executado pode castigar uma equipe aconteceu com o São Paulo no Campeonato Paulista de 2018, sob o comando de Dorival Júnior. O agora treinador do Athletico Paranaense sempre foi um incentivador dessa tática e também quis usá-la no Tricolor, mas um elenco mais pesado e ainda sem afinação para isso acabou se adiantando frouxamente contra o Santos e permitindo gol de Gabigol no Morumbi.

É por isso que Diniz tem sido tão insistente com os pedidos de “reage, reage”. A mensagem precisa ficar automática no subconsciente do jogador. O “perde-pressiona” precisa se tornar natural, espontâneo. E até aqui os jogadores têm mostrado boa recepção para a ideia. Não à toa, alguns dos atletas ajudam a reforçar os gritos do técnico, como o goleiro Tiago Volpi, o zagueiro Bruno Alves ou o volante Luan.

A estratégia acaba servindo também como um trabalho psicológico para evitar cenas de jogadores se lamentando após um gol ou uma bola perdida, enquanto o adversário se arma para contra-atacar. Diniz quer mais concentração e foco no jogo coletivo e cobra muito os meias e atacantes quando esses se viram para lamentar um passe ou um drible que não entrou.

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