No campo, o São Paulo de 2019 é frágil na bola e na mente. Mas sua pior parte, disparada, é o ataque (o todo, não só os atacantes)!

Ainda que sem qualquer beleza e há anos luz de fazer brilhar os olhos de quem o assiste, o time cria, mas seu aproveitamento na hora de finalizar é pífio.

É um time que não mata!

Levantamento do ESPN.com.br feito até a 35ª do Brasileiro mostra que nos 57 jogos oficiais feitos até aqui na temporada, por Paulista (18), Libertadores (2), Copa do Brasil (2) e Brasileiro (35), a equipe do Morumbi fez míseros 52 gols.

O resultado é uma média vergonhosa de 0,91 bola na rede por partida! Em 2018, foram 74 tentos em 64 apresentações, média de 1,15 gol por apresentação.

É isto mesmo, o São Paulo que gastou R$ 77,4 milhões em reforços para este ano não chega a um gol por jogo.

Como comparação, entre os clubes que disputam o Nacional, só o modestíssimo CSA tem desempenho abaixo, e por muito pouco: 0,90 tento por apresentação – são 56 confrontos por Alagoano (11), Copa do Nordeste (9), Copa do Brasil (1) e Brasileiro (35) com 51 gols anotados.

Certeza?

Sim! O Avaí, já rebaixado, tem média de 1,13 gol no ano; a Chapecoenserebaixada na noite de quarta e penúltima colocada no certame nacional, 1,01, e o Cruzeiro, hoje o primeiro na zona de rebaixamento, 1,25.

Comparação com o Flamengo?

Na outra ponta, o Flamengo. Ah, mas aí não tem como comparar. Tem, sim! Porque o agora supertime e campeão da Libertadores e do Brasileiro também já teve dificuldades e turbulências no ano e soma três técnicos diferentes (Abel Braga, o interino Marcelo Salles e, por fim, Jorge Jesus).

O São Paulo, que encara o Vasco às 20h30 desta quinta, teve quatro comandantes (André Jardine, o interino Vágner Mancini, Cuca e, o atual, Fernando Diniz). O clube carioca superou suas dificuldades com trabalho sério e atitude, dentro e fora de campo.

E fora de campo, o São Paulo é um mar de problemas. Leco, Raí e Pássaro parecem estar em outra sintonia e o futebol, com eles, não anda: além das trocas de técnicos, contratações caríssimas e salários altíssimos em nomes questionáveis; um departamento médico sob dúvidas em vários momentos; uma dívida de mais de R$ 400 milhões até o início deste mês, etc., etc., etc.

Mas este artigo tem como propósito analisar o São Paulo em campo. E dentro das quatro linhas, este São Paulo é um time que não mata!

Lembra do Flamengo? 1,97 gol por jogo em 2019 (até à 34ª rodada do Brasileiro); o Santos, de Jorge Sampaoli e R$ 77,3 milhões em reforços, 1,58 gol por jogo; Palmeiras, 1,51; Grêmio, 1,71; Athletico, 1,45.

No Campeonato Brasileiro, a equipe tricolor balançou as redes 34 vezes em 34 jogos. É o oitavo pior ataque! Não à toa, seus artilheiros na disputa têm apenas seis gols cada: um é atacante, Pato, e o outro é, acreditem, um lateral-esquerdo, Reinaldo.

Alguns exemplos recentes

No último compromisso, o 1 a 1 com o Ceará, foram duas chances inacreditáveis desperdiçadas quando o time vencia por 1 a 0: uma com Igor Gomes, no primeiro tempo, que isolou; e a outra com o badalado Daniel Alves, no segundo, que sozinho e cara a cara com o goleiro à frente da pequena área preferiu rolar de lado… Viu Liziero escorregar e sequer tocar na bola. Um lance pastelão.

A partida anterior, o 1 a 1 com o Santos, teve um lance emblemático: Pablo, contratado por R$ 25,5 milhões para ser o homem-gol do time em 2019, no qual fez apenas 25 partidas, sete gols e passou a maior parte do tempo no DM, fez linda jogada individual, deixou o zagueiro perdido e, no bico da pequena área, chutou fraco nas mãos de Éverson.

Na derrota para o Athletico-PR por 1 a 0 , no Morumbi, o São Paulo finalizou 16 vezes (oito na direção do gol) contra apenas cinco do rival (só uma no alvo). Pablo perdeu mais uma chance daquelas: sozinho, na linha da marca do pênalti, praticamente recuou para o goleiro do Santos.

Pato, festejado quando chegou, tem sido um peso morto. Fez 25 partidas e foi às redes em só seis oportunidades.

O jovem Antony, incrivelmente válvula de escape em praticamente todos os jogos do time mesmo com apenas 19 anos, fez quatro gols em 42 partidas (não estão computados suas apresentações e seus gols na Copa São Paulo).

Além de Pablo, outro reforço que chegou para o setor ofensivo este ano com custos foi Raniel. São R$ 12,6 milhões que o clube sequer começou a pagar, já que um intermediário fez o negócio e receberá a partir de 2020.

Em campo, resultado pífio também: 16 partidas, um gol.

Comparação com o Santos

Não foi por acaso que o Santos e seus gastos com reforços no ano foram citados acima. O valor é muito próximo ao do São Paulo, mas o resultado em campo é bem diferente.

Se também não ganhou títulos este ano, se um dos reforços foi um negócio terrível e seu presidente, José Carlos Peres, está longe de ser um bom administrador, ao menos a equipe mostra um nível de futebol de dar gosto em várias partidas.

Sim, foi eliminada nos pênaltis pelo Corinthians na semifinal do Paulista, mas jogou demais no segundo jogo, encurralou o rival e fez do goleiro Cássio o melhor em campo.

Também aprontou das suas, é verdade: como cair para o River Plate, do Uruguai, logo na primeira fase da Sul-Americana; na Copa do Brasil, eliminação para o Atlético-MG nas oitavas de final.

Veio o Brasileiro. E o Santos, de Sampaoli, não só surpreendeu ao ficar toda a disputa na parte de cima da tabela como já tem garantida vaga na Libertadores de 2020.

Houve erros, como contratar Cueva por absurdos R$ 26 milhões e ainda Uribe, por R$ 5,5 milhões. O primeiro fez 16 jogos na temporada: zero gol e zero assistência; o segundo, vestiu a camisa alvinegra em 11 partidas: zero gol.

Mas há acertos. Ótimos, aliás! Ou Soteldo e Marinho não foram acertos? Foram.

O venezuelano que usa a camisa 10 custou R$ 13 milhões e já tem 12 gols e oito assistências em 48 jogos em 2019; o alagoano chegou no final de maio por R$ 4,8 milhões e defendeu o clube em 25 ocasiões: colocou sete bolas nas redes e serviu para outras três.

O Santos é um time que mata!

Ao lado do Palmeiras, tem o terceiro melhor ataque do Brasileiro (53 gols), só atrás de Grêmio (57) e Flamengo (77). E vale relembrar, faz 1,58 gol por duelo.

Ataque, não só atacantes

Pablo, Pato, Antony, Toró, Raniel, Éverton, Helinho, Calazans e Rojas são os atacantes de ofício do São Paulo ao longo deste ano – o último passou a temporada recuperando-se de rompimento do tendão patelar do joelho direito sofrido no fim de outubro de 2018 e não fez nenhum jogo.

Diego Souza e Brenner saíram antes do meio do ano.

Mas embora os atacantes tenham sua parcela de culpa no péssimo desempenho ofensivo do timeem 2019, a responsabilidade é de todos, dos zagueiros aos meias e chegando, claro, aos homens de frente.

Daí alguns exemplos acima passarem por Daniel Alves e Igor Gomes.

Por isto tudo, para além dos diversos problemas fora das quatro linhas, este grupo do São Paulo tinha a obrigação este ano de jogar mais, submeter seu torcedor a bem menos sofrimento e, principalmente, fazer mais gols.

O São Paulo de 2019 é um time que não mata!

ESPN