Com a vitória categórica sobre o CSA, o Fortaleza de Rogério Ceni praticamente assegurou a sua permanência na primeira divisão do futebol brasileiro na próxima temporada. Missão cumprida; com sobras. Além dos resultados, o time tem desempenho e cativa seu torcedor (e torcedores de outros times também) – o Fortaleza tem uma das melhores médias de público no campeonato, não por acaso. Joga de forma intensa. Corre riscos. Se esforça. Busca o gol.

Rogério Ceni arriscou também em outro momento e quase colocou muita coisa a perder nesta temporada, quando decidiu trocar o Fortaleza pelo Cruzeiro. Além de desgastar sua imagem com a opção “mais badalada”, foi muito mal no gigante mineiro. Trombou com os jogadores mais experientes e também se embananou com declarações e entrevistas.

A porta aberta no Fortaleza, que o resgatou de volta, salvou 0 2019 de Ceni. Ele vai terminar o ano como um dos bons técnicos do campeonato. Um dos mais promissores num cenário de grande descrédito em relação ao treinador brasileiro no geral após o sucesso retumbante de Jesus e Sampaoli. Qual o próximo passo?

Tava na cara que Ceni daria bom treinador, desde os tempos longínquos em que ele liderava o São Paulo como goleiro e capitão. Observador, bom de leitura tática, obcecado, detalhista, “diferente” – o cara inventou de ser goleiro-artilheiro, poxa…

Mas e a passagem efêmera dele como treinador do São Paulo?

Não considero um fracasso. Fui contra a demissão de Ricardo Gomes, que fazia um bom trabalho com um time bem fraquinho, para que o então novato Ceni assumisse à fórceps. Umas das muitas atitudes “populistas” da gestão Leco. Fui mais contra ainda a demissão de Ceni no meio do Brasileiro, simultaneamente à perda de jogadores fundamentais para seu esquema de jogo. Foi mais um dos grandes erros do atual presidente do clube.

A justificativa: mais do que a falta de bons resultados, Ceni estaria “isolado”, se escorando apenas nos seus auxiliares estrangeiros, deixando de lado seus antigos companheiros de comissão técnica, diretoria etc.

No pouco tempo que dirigiu o São Paulo, Rogério Ceni trouxe coisas novas, como o jogo de posse em busca incessante do gol, o velho apetite por vitórias, o inconformismo com as derrotas.  Mas o torcedor do São Paulo está proibido, em tese, de sonhar com o retorno de Ceni por enquanto – mesmo que ele observe o sucesso do ídolo no comando de outro tricolor, enquanto sofre com a falta de comando e rumo de outros treinadores e dirigentes desde sua saída; que provocou mágoa, rancor e uma série de sequelas.

Ceni rompeu com Leco. Leco rompeu com Ceni. Até terminar o mandato do atual presidente, ele não pode voltar. Não pode mesmo? Existe outra pessoa mais capaz de entender e viver o momento de jejum do São Paulo hoje que Rogério Ceni e tentar reconduzi-lo para o caminho das vitórias? Um sujeito que comprovadamente tem o dom do comando nas veias?

Leco já provou que não é essa pessoa. Nem de longe. Raí e Lugano também estão provando que não. E Fernando Diniz? Bom…  Rogério Ceni tem mais resultados (e desempenho) que Fernando Diniz até o momento como treinador. Não dá nem pra comparar.

Até quando vai durar a quarentena de Ceni? O São Paulo pode se dar ao luxo de abrir mão de uma de suas maiores referências (que se tornou muito bom treinador neste período) por mais uma temporada, enquanto agoniza na busca cada vez mais improvável de um troféu? Faz sentido isso?

Torcedores.com – Arnaldo Ribeiro