Neste dia 20 de outubro, enquanto o São Paulo entra em campo para enfrentar o Avaí, completam-se exatos 100 dias do falecimento do meu pai Idmauro, aos 61 anos, dois dias antes de fazer mais um aniversário.

Meu pai era um grande são-paulino e me deixou essa paixão como herança. Fomos diversas vezes ao estádio juntos, quando não tínhamos pay-per-view assistíamos ao jogo num bar perto de casa, comemorávamos os títulos juntos, mas admito que nos últimos anos o sofrimento com o time fez minha paixão enfraquecer, ao ponto de ficar indiferente aos resultados negativos.

A gota d’água pra mim foi a final do Campeonato Paulista deste ano. A expectativa de título era muito grande. Assisti o 1º jogo na casa do meu pai, colocamos a TV no quintal, estendemos as bandeiras e toalhas do São Paulo, convidamos parentes, mas o jogo terminou em empate. No 2º jogo eu estava na China e não pude acompanhar com meu pai, assisti sozinho no hotel, de madrugada, com um péssimo sinal de internet. A derrota praticamente no último lance do jogo machucou bastante, fiquei várias semanas sem querer saber do São Paulo, até que veio o falecimento repentino do meu pai.

Durante o velório, minha irmã pediu para que eu buscasse uma bandeira do São Paulo para colocar no caixão, pois as pessoas conheciam meu pai como um grande são-paulino. Eu busquei, mas contra a minha vontade, pois meu sentimento naquele momento era de raiva, por todo o sofrimento que meu pai passou com o São Paulo nos últimos anos de sua vida, por não ter voltado a comemorar um título, por eliminações que ficavam mais vexatórias a cada ano. No momento final, me perguntaram se eu queria a bandeira de volta e eu disse que não. Na minha cabeça, era como se eu estivesse enterrando não apenas meu pai, mas também minha paixão pelo São Paulo, representada pela bandeira.

Cem dias se passaram, o São Paulo continuou decepcionando, mas minha raiva diminuiu e percebi que abandonar a paixão pelo São Paulo era desperdiçar uma herança que durante tantos anos me ligou ao meu pai. Se por um lado meu pai sofreu nos últimos anos, ele teve 61 anos muito felizes como tricolor, tendo visto todos os 6 títulos do Brasileirão, as 3 Libertadores, os 3 Mundiais, além de vários estaduais, Copa Sulamericana, Copa Conmebol, Supercopa, Recopa…

Nesta semana não resisti e comprei uma camisa do São Paulo depois de muitos anos. Nas costas o nome do meu pai Idmauro, meu maior ídolo, meu melhor amigo, que assim sempre me acompanhará ao torcer pelo tricolor. O número não poderia ser outro, pois meu pai era nota dez!

Com muita saudade,

Diego Camargo