No vídeo que anunciou sua chegada ao São Paulo, o lateral direito Juanfran, 34 anos, olha fotos de elencos campeões mundiais que marcaram época no clube. Agora, em vez de só olhar, o espanhol quer estar ali, emoldurado e eternizado em uma equipe vencedora.

“Em todos esses anos no Atlético de Madrid, criei um gene especial de querer ganhar. Sei que, se conseguir isso com o São Paulo, entrarei na história do clube. Por tantos anos sem ganhar, o primeiro time que vencer vai entrar na história”, diz.

Juanfran surgiu como meio-campista ofensivo na base do Real Madrid, mas foi no rival da cidade, o Atlético, que ele se consagrou com dois títulos de Liga Europa (2012 e 2018), um Espanhol (2014) e uma Copa do Rei (2013), além de dois vices na Liga dos Campeões.

“Meu destino era o Atlético de Madri, como agora o meu destino é o São Paulo. O Atlético é o clube da minha vida e eu espero que o São Paulo também seja”, afirma o ídolo do clube espanhol, que abriu mão de um novo contrato para assinar com o time tricolor até 2020.

Confira a entrevista com o lateral:

Como foi a negociação com o São Paulo?

Foi uma surpresa para mim também. Estava no Atlético de Madrid, eles queriam renovar por mais um ano, mas eu queria jogar fora da Europa, ter uma experiência nova. Um dia chegou uma mensagem do [diretor de futebol] Raí, ele estava interessado em me contratar. Depois, o [zagueiro uruguaio Diego] Godín [que também jogava no Atlético] disse que o Lugano queria falar comigo. Até que pudéssemos negociar, passaram três meses. Tinha mais times [interessados], mas na minha cabeça estava o São Paulo. Também eu sabia que queriam contratar o Daniel [Alves], e no final tudo aconteceu. Dissemos não ao Atlético, uma coisa inexplicável.

Por que o São Paulo, mesmo com a possibilidade de ficar onde você é ídolo?

No momento da minha vida e pela experiência que eu queria viver fora da Europa, de todas as possibilidades, a do São Paulo foi a que eu mais gostei. Eu sabia de toda a história, que o São Paulo está há muito tempo sem ganhar um título. Eu me considero uma pessoa vencedora. Em todos esses anos no Atlético, criei um gene especial de querer ganhar e conseguir títulos. Sei que, se conseguir isso com o São Paulo, entrarei na história do clube. Por tantos anos sem ganhar, o primeiro time que ganhar vai entrar na história. Mais do que uma cidade ser melhor, ou um clube pagar mais, eu não pensava em nada disso.

Em pouco tempo de clube, você já viveu dias de festa, mas também protestos da torcida e troca de treinador. Como enxerga isso?

Em dois meses, já vivi todas as experiências que se pode viver. Mas eu entendo, porque nossa torcida é ganhadora e está acostumada com um clube grande, não com uma situação de cinco jogos sem ganhar. Estou gostando de tudo, menos de ver o São Paulo na posição em que estamos.

Como foi trabalhar tantos anos com o Simeone?

Mais do que transmitir [o que ele quer para o time], ele precisa que os jogadores acreditem nele. Se o Simeone falasse que para ganhar a gente precisaria pular daqui [segundo andar], nós saltaríamos. Segundo, tínhamos um grupo forte, que se sustentava no vestiário. Era como uma família. É o que tentamos aqui.

E como é o modo de trabalhar do Fernando Diniz?

Ele tem um pensamento de muitos times e treinadores importantes europeus. No futebol, não há só uma fórmula para ganhar. A de Simeone, de estar mais junto e sair no contra-ataque, deu títulos ao Atlético. Essa ideia que ele [Diniz] tem, nós temos que colocar no jogo. Os que jogam somos nós, temos que ter personalidade e gana. Nem tudo é dar 30 passes e marcar, ou defender, dar três passes e marcar.

Qual foi o momento inesquecível na sua carreira?

Dois, três meses depois de chegar ao Atlético, meu pai morreu. Ele não pôde ver a carreira tão boa que tive. Era um sonho dele que eu pudesse jogar pela seleção. Um momento muito especial foi a primeira final que ganhamos do Real [Madrid], na Copa do Rei. O Atlético levava 14 anos sem ganhar um dérbi, e 14 anos são muitos anos.

Qual era o nome do seu pai?

Juan, como eu. Ele era torcedor do Real, como eu era quando pequeno. Meu destino era o Atlético, como agora é o São Paulo. O Atlético é o clube da minha vida, e eu espero que o São Paulo também seja.

(Bruno Rodrigues e João Gabriel/FolhaPress)