Na última temporada, antes do pontapé inicial de um dos jogos do Portimonense em casa, pela Liga Portuguesa, o árbitro se aproximou dos jogadores e fez um pedido que chamou a atenção do meia Lucas Fernandes. “Vamos jogar bola porque quem não conseguir jogar aqui pode se aposentar”, soltou o responsável pela partida. A provocação descontraída tem motivo de ser: o time, que fica na região paradisíaca do Algarve, é famoso pela qualidade de seu gramado, um dos melhores do país.

No Brasil, por outro lado, ele tem feito fama por outra razão: virou praticamente o maior parceiro do São Paulo no futebol europeu.

Somente na janela de transferências recém-encerrada, o Portimonense pagou 2,2 milhões de euros (R$ 9,6 milhões) por Fernandes, fechou a vinda do lateral esquerdo Júnior Tavares e ainda fortaleceu a sua linha defensiva com o volante Cássio Júnior e o zagueiro Rodrigo Freitas, ambos da base tricolor.

O quarteto se junta a uma legião que já contava com outros atletas com passagem pela Barra Funda, casos de Lucas Possignolo, Igor Neves, Dener, Iago Oliveira e Gustavo Hebling. O entra e sai de figuras ligadas a Cotia não passa despercebido e reforça ainda mais o laço entre os clubes. É quase como se o Portimonense atuasse como uma filial são-paulina.

Até que ponto, no entanto, essa imagem sedimentada entre os torcedores faz sentido?

Não existe um acordo protocolar entre as partes, mas o Portimonense não esconde, ainda assim, o seu vínculo com o tricolor paulista. Ele passa diretamente pelo seu acionista majoritário, Theodoro Fonseca, empresário que trabalhou por muito tempo com o agente uruguaio Juan Figer, intermediou transferências envolvendo Hulk, Emerson Sheik e Robson Ponte e hoje se encontra no comando do clube de Portimão, no sul de Portugal.

Téo Fonseca, como é conhecido, tem ligação estreita com o mercado asiático, porém, se espelha no São Paulo. Foi através dessa combinação que ele conseguiu fazer com que dois de seus atletas chegassem à seleção pré-olímpica no Torneio de Toulon, em junho: Lucas Fernandes e Bruno Tabata, ex-Atlético-MG.

Em sua terceira temporada na elite, o Portimonense já tem conseguido incomodar os grandes, protagonizou negócios interessantes e tem investido forte em sua estrutura. A inspiração para isso? Cotia, claro. A seleção brasileira feminina chegou a utilizar a sua estrutura para se preparar para o último Mundial da categoria, inclusive.

Entre outros, passou por suas dependências até mesmo o meia-atacante Lucas Moura, do Tottenham, que aproveitou visita rápida para rever ex-colegas com quem atuou na base do São Paulo.

Ainda está distante, no entanto, o dia em que o Portimonense conseguirá fisgar um nome desse porte. Atualmente, o orçamento anual da equipe não passa de 3 milhões de euros (R$ 13 milhões). Em média, fora dos três grandes, os salários em Portugal não costumam superar os 120 mil euros (R$ 520 mil) por temporada.

“Temos bons contatos e relacionamentos com clubes no Brasil, entre eles, o São Paulo, o que facilita para os jogadores virem”, contou o ex-jogador Robson Ponte, atual vice-presidente dos portugueses, ao Yahoo Esportes.

“Tentamos manter a nossa filosofia de trabalho. O pessoal sabe o que a gente pode pagar, não fazemos loucuras. Um ou outro atleta pode vir em parceria com outros times, mas a nossa folha é reduzida. O Portimonense é uma plataforma de trabalho em que deixamos claro que não irão ganhar muito dinheiro com a gente, mas, sim, através de transferências”, acrescentou.

Na pausa para data Fifa, Robson viajou até o Brasil para acompanhar o atacante Tabata com a seleção pré-olímpica em São Paulo. Teo, por sua vez, foi para o Japão cuidar de possíveis negócios.

No centro de toda a operação, em Portimão, contudo, o sonho passa em breve por lutar por uma vaga na Liga Europa. É a próxima fronteira a ser cruzada com o apoio das revelações tricolores.

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