As dificuldades para competir financeiramente com clubes europeus e asiáticos, além de dívidas que se acumulam há décadas, principalmente com a União, podem fazer os clubes brasileiros passarem por uma mudança profunda em seus modelos de administração num futuro próximo. A Câmara dos Deputados deve discutir neste segundo semestre um novo projeto para transformar as agremiações em empresas, o que, em tese, tornaria o investimento nos clubes mais atrativos.
Na terça-feira, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM) foi à sede da CBF, no Rio de Janeiro, conversar com o presidente da entidade, Rogério Caboclo. O parlamentar, que é conselheiro do Botafogo, disse que o principal motivo da visita foi “pedir ajuda” ao seu time do coração, mas que também foi discutida a ideia de transformar os clubes de futebol em empresas.
“Nós precisamos da entrada de capital estrangeiro. Um clube associativo (como é o modelo tradicionalmente usado no Brasil) não vai atrair capital privado nenhum, muito menos estrangeiro, porque a forma de administração é primária, primitiva, atrasada, que não gera eficiência, que não gera transparência, e que não gera bons clubes de futebol no Brasil”, disse Rodrigo Maia. O seu Botafogo já avalia a possibilidade de fazer essa mudança a partir de um projeto encomendado pelos irmãos Moreira Salles, mais ligados à área de cultura e cinema.
O modelo de empresa é comum entre os grandes clubes europeus. Se for aplicado no País, deve ter como efeito colateral um aumento (grande) com o pagamento de impostos, mas isso seria compensado pela possibilidade maior de se conseguir grandes investidores.
“Existe uma diferença gritante entre ser um clube modelo associativo, como é hoje no Brasil, e uma empresa privada. No sistema associativo não se paga imposto de renda, tampouco contribuição social sobre o lucro, porque são associações cíveis sem fins lucrativos”, explica Eléia Alvim, presidente da Comissão de Direito Tributário da seccional de Goiás da Ordem dos Advogados o Brasil. “Outra diferença é quanto às contribuições previdenciárias. Na forma como é hoje, os clubes de futebol têm muitos benefícios. Em uma empresa normal, a contribuição previdenciária dela é de 20% sobre a folha de pagamento, e a gente sabe que num clube isso é muito alto”, explica.
Para a advogada, porém, o modelo em discussão é mais atrativo. “O investidor privado precisa de uma garantia sobre o seu dinheiro. O clube associativo não traz garantia nenhuma, porque tem diversos sócios e uma governança praticamente zero, não tem compliance. Empresas têm governança, uma administração verdadeiramente profissionalizada, uma gestão remunerada de diretores, uma governança qualificada.”
Opinião semelhante tem Guilherme Barbosa, coordenador do MBA em Marketing Esportivo do Ibmec-RJ. “O modelo atual realmente afasta o investidor. Ele vê os clubes com um presidente que tem mandato de até três anos, similar a projetos governamentais. Isso afasta quem está visando o médio e o longo prazos”, pondera.
Barbosa lembra que a Europa já prefere o modelo de clube-empresa há pelo menos duas décadas. “Estamos muito atrasados em relação a isso”, diz. Para o professor, a possível mudança tem boas chances de dar certo no Brasil pelo potencial de retorno.
“Os produtos da CBF estão se fortalecendo, como o Brasileiro e a Copa do Brasil. Temos campeonatos em quatro divisões. A Conmebol também está seguindo nessa linha, fortalecendo Libertadores e Sul-Americana. É um mercado super atraente”, avalia Barbosa. “Hoje, o que deixa o investidor com um pé atrás é o modelo de gestão. Acho que essa mudança seria um grande passo.”
Isto É
Nunca pensei que um dia fosse dizer isso, mas concordo com tudo o que disse o Rodrigo Maia, minha preocupação é saber como essa transformação dos clubes em empresa será feito, e pq tanto interesse dos políticos neste tema agora???
Sempre fui a favor de tornar o clube empresa, e principalmente de mudar esse conceito enraizado que impera nos clubes, entrando mais detalhadamente no SPFC, se não tirar esse pensamento feudal que conselho e presidência, sem preparação e principalmente competência não iriamos a lugar nenhum.
Gostei da idéia, mas o Leco e toda essa gestão nos mostraram muito que devemos ficar bem atentos, a forma como será realizada é fundamental….não adianta nada mudar e ficar os mesmos.
Se seguir as regras europeias os torcedores do São Paulo não vão ficar mais preocupados com o presidente e os conselheiros, porque só existirá um ‘dono’ que será o manda chuva total, ou seja o dono do dinheiro.
A grande questão é, quem será o dono dessa Empresa? Tenho os dois pés atrás nessa história de clube empresa…
Uma coisa tem que ficar clara: empresa só prospera com bons gestores, coisa que falta no São Paulo há muito tempo. Logo, simplesmente “virar empresa” não é uma solução milagrosa que fará tudo ser diferente pra melhor. Quem administrará? Quem decidirá quem administrará?
Acho que existe um pouco de preconceito com essa historia de virar empresa, principalmente pela confusão que fazem com os “pseudo” movimentos que os clubes daqui fazem nesse sentido. Acaba parecendo que virar empresa ajuda mais a roubar, esconder, endividar, etc. O que não é verdade.
Ter um “dono” (em aspas pq em uma sociedade anônima por exemplo, existem vários “donos”) não significa ficar a mercê de alguém apenas, mas também ter quem responsabilizar (seja por resultados ou criminalmente). Nesse modelo de clube é tudo bem terra de ninguém, politicagem, etc. Só dá certo por boa vontade de alguns (que são honestos e inteligentes) mas geralmente acaba dando problema (por falta de honestidade e/ou competência).
Mesmo dentro do mercado privado existem casos de sucesso e insucesso de gestão:
– Ambev (ótimo caso de sucesso)
– Magazine Luiza (ótimo caso de sucesso)
– Odebrecht (péssimo caso)
– Oi (péssimo caso)
A grande diferença é que no modelo empresa, existe grande potencial de recuperação quando acontecem gestões ruins. Se a empresa tem ativos, tem produto, etc. Sempre dá para recuperar com troca de direção, recuperação judicial, etc.
– A própria Oi é um exemplo disso, foi quase para o saco e agora, apesar de MUITO endividada, é citada como case de recuperação judicial que está indo em um bom caminho.
– Via Varejo outro ótimo exemplo, tava indo pro ralo, trocou direção e parece ter seguido no caminho bom.
Quando a gente faz esse paralelo no futebol, é possível comparar bem a diferença entre o modelo clube associativo VS. empresa.
– Alguém aqui dúvida que Botafogo e Fluminense ou até mesmo Portuguesa e América RJ, para citar exemplos de menores, não tinham ativos bons? Torcida, base com jogadores, CT, estádio, etc. Oras, tendo tudo isso, acertando os ponteiros, recomeçando de baixo, não tem pq não recuperar. Mas o que vemos é apenas o expiral para baixo.
– O contraponto que faço é com times europeus que chegaram a declarar falência. Napoli, Fiorentina, Rangers, Parma, etc. Todos esses chegaram ao fundo do poço, mas sendo empresas, declaram falência e hoje em dia estão vivos, se recuperando (em estágios diferentes, obviamente). Tudo isso só foi possível por estar no esquema de empresa.
Na minha visão, é uma mudança pra ontem.
Ambev logo cai
Excelente e didático comentário. Concordo plenamente: é simplesmente impossível crescer no modelo atual. Se queremos um futebol forte e competitivo internacionalmente, é preciso mudar o modelo, e só vejo um caminho: clube-empresa. Que o digam os torcedores ingleses.
esta estagnado um tempão devido a má vontade agora deu esperança cabe e nós cobrar para que se concretize a separação