Gerido por empresário brasileiro, clube português ganhou destaque por ter dois nomes na seleção brasileira pré-olímpica

É de Portugal o time que mais cedeu jogadores à Seleção Brasileira pré-olímpica (sub-23) para o Torneio de Toulon. BenficaPortoSporting? Talvez o Braga? Nada disso. Ao lado do Corinthians, que conta com Pedrinho e Mateus Vital, o modesto Portimonense também é representado por duas jovens promessas: Lucas Fernandes e Bruno Tabata.

Coincidentemente (ou não), o clube de Portimão, na região turística do Algarve, é administrado há cerca de cinco anos por Theodoro Fonseca, empresário brasileiro que tem forte ligação com o São Paulo, além de há décadas ser muito ativo no futebol japonês. Em 2000, por exemplo, ajudou a negociar Emerson Sheik para o Consadole Sapporo.

O antigo e estreito vínculo com o Tricolor, aliás, é fonte de inspiração para os alvinegros, que, na temporada passada, terminaram a liga nacional na 12ª colocação. Do atual elenco, sete atletas já vestiram a camisa são-paulina: Léo Navacchio (goleiro), Lucas Possignolo (zagueiro), Vítor Tormena (lateral-direito), Marcel Pereira (volante), Dener (meia), Lucas Fernandes (meia) e Paulinho Bóia (atacante).

“Temos um projeto inspirado no São Paulo, na estrutura de Cotia, na forte aposta nos jovens… Sempre quis ter um clube, e sempre com a ideia de seguir a mesma linha do São Paulo. Tive desde cedo o São Paulo como exemplo, com um toque da tradicional disciplina japonesa. Gosto de lapidar jogadores mais novos”, revelou Theo, que trabalhou quase 20 anos com o veterano agente Juan Figer, à Goal 

“Assumi o Portimonense na terceira divisão. Um clube que, na verdade, estava para acabar. Digo mais: tinha acabado, porque muita gente havia largado mão. Peguei um clube sem nada, sem centro de treinamento e sem estádio. Fizemos um trabalho muito forte. Nossa estrutura hoje é invejável, com profissionais de alto nível. Não perdemos para nenhum dos três grandes de Portugal”, completou.

Com um orçamento de 2 a 3 milhões de euros por ano, o Portimonense ainda encontra uma pequena resistência dos torcedores locais. Uma relação que no início foi bem mais conturbada.

“Sempre procurei fazer a coisa correta. Crescemos quando Câmara de Portimão começou a nos apoiar mais. Fechamos, então, um contrato de uso de 50 anos do estádio e, em seguida, fizemos o centro de treinamento. Posso dizer que tenho atualmente de 70 a 90% da população do meu lado, mas sei também que ainda tem ali uns 10% que continua desconfiado, principalmente por causa da aposta nos atletas brasileiros”, explicou.

Mas não são apenas os jogadores de origem brasileira que têm dado o que falar. Velho conhecido do futebol português, tendo feito sucesso no Porto, o atacante colombiano Jackson Martínez, por empréstimo do Guangzhou Evergrande, da China, elevou – de forma positiva – o nome do clube a nível internacional nos últimos meses.

“O Jackson estava sem jogar há dois anos e meio [culpa de uma grave lesão no tornozelo direito], era uma incógnita, mas o nosso departamento médico conseguiu recuperá-lo. Falaram que tínhamos contratado um aleijado, um velho e que queríamos apenas fazer publicidade. Felizmente, ele casou perfeitamente com o nosso lema: vencer sempre, perder talvez e desistir jamais. A superação dele foi enorme, além de ter sido fundamental para os jogadores mais novos no dia a dia. Sim, o Jackson Martínez era o que faltava para atingirmos o nível internacional. Mas, sinceramente, não foi nada de propósito”, destacou Theodoro Fonseca, que sonha com a permanência do goleador de 32 anos.

“Já conversamos, quero que o Jackson fique conosco mais dois ou três anos. Depois que parar de jogar, aliás, espero que seja um embaixador do Portimonense pelo mundo. Para ficarmos com ele, no entanto, brigamos com um clube da Austrália, um do México e também o Santos. Todos têm interesse nele”, reforçou.

Outro ponto determinante na evolução do clube de Portimão foi a recente transferência do atacante japonês Shoya Nakajima para o Al Duhail, do Qatar – segundo a imprensa local, o negócio foi fechado por 35 milhões de euros.  

“Não precisamos vender mais ninguém. A venda que fizemos do Nakajima alimenta o nosso clube por pelo menos dez anos. Agora, verdade seja dita, o próximo passo é começar a manter os principais jogadores. Falta isso para brigamos de igual para igual dentro de campo. As multas rescisórias dos nossos maiores talentos são altas, 40 milhões de euros, 30 milhões de euros. Ainda assim, não posso garantir a continuidade de ninguém”, confidenciou.

A “galinha dos ovos de ouro” do momento no Portimonense é exatamente Bruno Tabata, que foi uma das maiores surpresas na lista de convocados da seleção pré-olímpica. Esteve também na lista de reforços do Palmeiras.

“Não faço questão de vender ninguém, mas preciso entender a vontade do jogador. A minha visão é a seguinte: não vou dificultar a vida de ninguém, mas também não vou facilitar. O Tabata tem um assédio enorme. É um jogador de uma personalidade impressionante, que não se entrega nunca. É fora de série. Passou por cima de diversos problemas familiares e está pronto para qualquer desafio profissional. Tive, por exemplo, uma proposta do Palmeiras agora, mas o jogador disse que não pretende voltar para o Brasil“, finalizou.

Goal.com