Não foram apenas os torcedores do Ajax, time de futebol holandês, que ficaram felizes em abril. A equipe conseguiu chegar às semifinais da Liga dos Campões. O torneio europeu reúne gigantes como o espanhol Real Madrid e a italiana Juventus. Apesar dos orçamentos muito maiores que os do Ajax, ambos foram vencidos pelo time holandês nas oitavas e nas quartas de final, respectivamente. Além dos aficionados, os investidores também gostaram. O Ajax tem suas ações negociadas na bolsa europeia Euronext. Embaladas pelas vitórias, as cotações subiram quase 50% em abril. A derrota para o Tottenham na quarta-feira 8, deve fazer os papéis caírem.

No Brasil não há nada parecido. Apesar de o futebol ser um sucesso de público, o mercado de capitais só agora começa a entrar em campo. Fazendo jus à letra de seu hino, o São Paulo Futebol Clube (SPFC) será o primeiro dentre os grandes a captar recursos com base em instrumentos financeiros. O tricolor paulista vai fazer uma oferta pública com esforços restritos de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc). A Sociedade Esportiva Palmeiras já havia estruturado um fundo desse tipo em 2013. No entanto, o produto não foi destinado ao mercado. Ele serviu para pagar os empréstimos feitos ao clube por Paulo Nobre, então presidente do imponente alviverde.

Recorrer aos bolsos de investidores em busca de financiamento é uma prática comum para times de futebol. No Chile, três tradicionais agremiações futebolísticas – Colo-Colo, Universidad Católica e Universidad de Chile – já foram ao mercado de ações. Na Europa, mais de vinte equipes futebolísticas conseguem reforçar seus escretes graças também ao capital de investidores. No caso do São Paulo, com o fundo – denominado Brasileirão Fidc-NP – a equipe pretende levantar R$ 40 milhões junto a investidores profissionais, aqueles com no mínimo R$ 10 milhões em aplicações financeiras.

Como garantia, o tricolor vai oferecer o contrato de pay-per-view que mantém com a Rede Globo para a transmissão de suas partidas no campeonato brasileiro. O valor do fundo corresponde a 50% do contrato do clube com a emissora de televisão. A Globo não permite securitizar 100% do contrato para garantir-se contra eventuais dificuldades financeiras do clube, como processos trabalhistas, por exemplo. O Fidc vai pagar juros até março de 2023. Para atrair o interesse de abonados são-paulinos, palmeirenses, santistas e corinthianos, além de gestores profissionais, o fundo deve pagar 160% dos juros de mercado medidos pelo CDI. Na ponta do lápis, isso representa uma remuneração de 10,24% ao ano.

Embora não seja uma goleada, é uma vitória folgada sobre o rendimento médio dos investimentos mais populares. “O fundo está aberto a todos os interessados, mas a maior parte dos investidores deve ser mesmo de torcedores são-paulinos”, diz Elias Albarello, diretor financeiro do clube do Morumbi. Segundo ele, os recursos serão usados para quitar dividas que cobram juros elevados, modernizar o estádio e o Centro de Treinamentos e também para comprar jogadores. A agremiação também buscará reduzir sua dependência da cessão de atletas a times do Exterior.

A negociação de jogadores ocorre apenas duas vezes por ano, em janeiro e em julho. Nesses momentos, equipes europeias e asiáticas costumam pagar caro para contratar jovens revelações. “Só que precisamos de capital para manter o clube nos outros dez meses do ano”, diz Albarello. O São Paulo contratou a agência global de classificação de riscos Standard & Poor´s para avaliar o fundo, que recebeu um rating nacional “brA-”, considerado de baixo risco.

Na avaliação do diretor, o fundo vai aproximar o futebol dos investidores. Os diretores financeiros dos times da primeira divisão do Brasileirão já criaram uma associação, e se reúnem periodicamente. “Diretores de quatro outros clubes me procuraram para saber como se estrutura um fundo do tipo”, diz ele.

A melhor justificativa para a tática escolhida é captar dinheiro mais barato. Ao tomar empréstimos bancários, o clube paga ao redor de 15,4% ao ano. Com o Fidc esse percentual pode cair para 12,4%. “Além disso, teremos oito meses de carência para iniciar os pagamentos, o que vai aliviar nosso fluxo de caixa”, afirma Albarello.

A gestão do fundo será da Ouro Preto Investimentos, escolhida por meio de licitação e que tem cerca de R$ 5 bilhões em ativos sob gestão. A administração e a custódia ficarão a cargo da Socopa. “Os juros baixos têm elevado o apetite dos investidores por ativos de maior risco”, diz João Peixoto Neto, sócio da Ouro Preto. Segundo ele, outros clubes já o procuraram para montar fundos semelhantes.

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