Hoje falarei como jornalista (que sou) e também como psicólogo. Inicio o texto com as seguintes indagações: até que ponto os clubes de futebol no Brasil tem a dimensão do significado de “Responsabilidade Social”? Será que jogadores foram, definitivamente, transformados em máquinas de jogar bola? Explico.

Os casos de jogadores com indisciplina, dependência de álcool e drogas e depressão estão se acumulando de forma delicada e extremamente preocupante dentro do clube nas últimas décadas.

Amplamente noticiado pelos colegas da mídia esportiva,  casos como os de Regis, Petros, Cueva, Michael Bastos, Cicinho entre tantos outros demonstram que a atuação do DM do São Paulo está ultrapassada e com foco voltado para outras questões que não aquelas associadas aos aspectos humanos do alto rendimento.

Essa semana foi a vez de Gonzalo Carneiro assumir a dependência da cocaína. Além de assumir o vício, o jogador declarou que buscou ajuda no Uruguai, seu país de origem. Algumas questões foram levantadas diante do fato. A saber:

  1. Qual o tamanho da distância entre os profissionais da saúde do clube e os atletas? Afinal, é uma aberração que uma instituição do tamanho do São Paulo Futebol Clube não tenha uma conduta (nem conhecimento) para identificar, diagnosticar e trabalhar para oferecer recursos aos jogadores que enfrentam dificuldades acima descritas.
  2. Será que existe a preocupação com o bem estar pessoal dos jogadores para além das questões profissionais? Será que o clube pensa demais em formar lideranças, atuar no desenvolvimento e fortalecimento de equipe e se esquece que, antes de atletas, são seres humanos? Essa miopia me parece escandalosa para um clube que, um dia (bem distante) já se orgulhou de ser considerado de vanguarda no nosso futebol.
  3. Por que o clube acumulou tantos casos de comportamentos desviantes nos últimos anos? Você conhece alguma outra instituição que conseguiu formar quase que um time inteiro com atletas que desenvolveram psicopatologias igualmente graves?

O caso de Carneiro é apenas mais um sintoma institucional de um clube que se perdeu ao longo dos anos. E se perdeu não apenas dentro de campo – o que considero apenas ser reflexo daquilo que (não) acontece fora dele.

Antes de vir a público explicar as razões pelas quais esses casos se acumularam ao longo dos tempos, o São Paulo precisa repensar sua gestão. Afinal, o jogador uruguaio contar com o choro do treinador Cuca não me parece o melhor caminho de auxílio. Pelo contrário. Apenas mostra que o clube está perdido dentro da própria ignorância na história de sua última década.

É preciso pensar com vanguarda, e, acima de tudo, com responsabilidade. Atleta e ser humano são faces da mesma unidade e assim devem ser concebidos e trabalhados. Os clubes que entenderam essa simples equação estão anos luz à frente de instituições como o São Paulo Futebol Clube que mais parece uma organização viciada em erros e equívocos neuróticos e recorrentes.

Enquanto isso, como descreveu o saudoso dramaturgo e jornalista, Nelson Rodrigues, “continuaremos a presenciar as pobres almas de chuteiras pelos gramados da bola e da vida”.

Gazeta Esportiva