Rodrigo Caio, não sou jogador profissional de futebol, mas assim como você – ou pelo menos como você diz ser – sou torcedor do São Paulo Futebol Clube. Não posso falar nada da vida como jogador, mas me sinto confortável para conversar de torcedor para torcedor.

Todos nós temos nossos períodos ruins: dias, meses e até anos. 2018 parece ter sido seu ano profissional ruim. Você não jogou bem, errou. Repito aqui: todos nós temos erramos e às vezes as coisas não dão certo. Especialmente no trabalho, onde por mais que nós gostemos do que fazemos, as coisas não são fáceis.

Eu te garanto que o sonho de todo são-paulino era jogar no time de coração e dar a vida pela camisa que cresceu venerando. Camisa essa que te dá visibilidade para seleção brasileira mesmo com o time lutando contra rebaixamento. Camisa que te dá visibilidade provavelmente para todos os times do mundo, inclusive dos tão valorizados gigantes europeus. Melhor ainda se tiver um salário mensal recheado de algumas centenas de milhares de reais.

Dito tudo isso, gostaria de te dizer que suas recentes palavras na entrevista ao programa “No Ar com André Henning”, do Esporte Interativo, são de um menino mimado de condomínio. Como assim “perdeu muito da paixão”? O clube te criou, te deu visibilidade, te fez conhecido no Brasil e fora do país, te deu prestígio, te levou para seleção brasileira. Eu te garanto: são mais de 10 anos sem um título expressivo e a minha paixão não diminuiu. Pelo contrário, continuo pegando busão / metrô até o estádio e pagando ingresso com salário suado para ver o time sofrendo em muitos jogos, até mesmo sofrendo contra time rebaixado. Continuo vendo os jogos num link que trava e que tenho que fechar 15 abas com vírus.

Cobrança todos nós temos. TODOS. Cada um com a sua responsabilidade. Você é muito bem remunerado para ter a cobrança que tem. A maior cobrança, aliás, deveria ser a própria.
Quando eu não estou numa fase boa, meu chefe não vem me perguntar se eu estou bem, o que preciso. “O cara não vem falar comigo” e eu entendo bem. É a vida.
Se você quer alguém para conversar, pegue seu salário gordo que seu clube de coração te paga para jogar bola e se trate, chore as suas pitangas. Ao final, levante a cabeça porque milhões fariam o que você faz com e de coração. Jogando na zaga, na lateral, na volância, no meio, em qualquer lugar.

Você não jogou bem, errou. Errou muito e não foi culpa do técnico. Assuma a sua culpa. Não seja mimado. Agora você tem 25 anos e não é mais uma criança. Saia do condomínio.

Se você for realmente são-paulino, pense bem nos caras que trabalham de sol a sol e guardam o mínimo que tem para te ver em campo e tentar ter uma alegria com o time. Os caras que gastam duas horas no transporte, às vezes depois de um dia inteiro no trabalho, só para te apoiar. E depois, os caras ainda têm que voltar para casa com uma derrota ou empate vergonhosos, porque aparentemente os jogadores não se dedicaram em campo. Duas horas no busão ou metrô pensando nos próximos jogos, o que precisa pro título.

Veja o Rogério Ceni, como jogador ganhou praticamente todos os títulos que podia. Como técnico, saiu escorraçado. Fato é que ele deixou bem claro que saiu chateado “com algumas pessoas”, mas JAMAIS com a instituição São Paulo Futebol Clube cujo sentimento permanecia intocado. Veja o exemplo. Seja 100% são-paulino, se é isso mesmo que você diz ser.

Não gostaria de ver um ótimo jogador como você sair pelos fundos. Mas se continuar assim… Prefiro alguém que, pelo menos, para dizer o literalmente o mínimo, não seja tão mimado.

Autor Desconhecido