No dia 8 de agosto do ano passado, o Blog do São Paulo publicou um texto enviado por mim, intitulado ” O feitiço do tempo e o São Paulo FC https://saopaulo.blog/2017/08/08/o-feitico-do-tempo-e-o-sao-paulo-fc/ .

            Feitiço do Tempo, título desse texto, foi tirado de um filme de 1993, estrelado por Bill Murray. Ele interpreta Phil, um arrogante meteorologista de um canal de TV, que ao cobrir a saída anual de uma marmota de seu buraco, é pego numa nevasca não prevista e fica preso em uma espécie de túnel do tempo, condenado a reviver o mesmo dia até que mude suas atitudes.

Reli o texto e infelizmente quase nada mudou. Depois de escapar do rebaixamento, organizaram uma despedida pra Lugano contra o Bahia e com ingressos custando 1 real. Fizeram a festa do pão e circo com escolas de samba das torcidas organizadas reverenciando Leco.

Alguns dias depois, Pinotti se demitiu e Leco colocou Raí, um dos maiores ídolos da história. Diferente da maioria dos ex jogadores, Raí havia se preparado para ser dirigente. No fim de dezembro, foi concretizada a contratação de Jean, um goleiro jovem e que havia feito um brasileiro apenas normal no Bahia. Pouco tempo depois, o maior responsável dentro de campo pela manutenção do SP, Hernanes, teve que voltar pra China. Pratto pediu pra ser negociado pro River e Raí conduziu bem a negociação.

Raí foi ético no caso Scarpa e tão logo a negociação foi encerrada, Nene foi contratado. Diego Souza foi contratado pra ser centroavante por ter sido convocado por Tite pra essa posição. Dorival foi mantido, mas a impressão era de ele não iria durar muito tempo, visto que ele não foi consultado sobre essas contratações.

O planejamento traçado pela comissão técnica foi jogado no lixo após a derrota para o São Bento. Diego Souza estava fora de forma, Cueva com mais um caso de indisciplina, o time tendo mais problemas físicos que os rivais, vitórias sofridas contra equipes pequenas, a dificuldade pra encaixar as principais estrelas e o fundo do poço após a derrota contra o Palmeiras em 8 de março, culminado na demissão de Dorival.

Para o seu lugar foi contratado Diego Aguirre, treinador com um conceito de jogo totalmente oposto ao de Dorival. Aguirre era adepto de um time mais defensivo, com marcação intensa e saída rápida para o ataque. Ele montou o time com duas linhas de 4 jogadores, Nene com liberdade atrás de Diego Souza.

Tivemos eliminações sofridas no Paulista e na Copa do Brasil, um começo com muitos empates no Brasileiro, mas antes da parada pra Copa o time mostrou bom futebol e terminou na 3º colocação. Na retomada do Brasileiro, Cueva foi vendido, Valdívia e Marcos Guilherme foram negociados pelos seus respectivos donos e para o ataque veio apenas Rojas.

Conseguimos vencer o Flamengo no Maracanã, o Cruzeiro no Mineirão e vencemos com autoridade o clássico contra o Corinthians. A liderança foi alcançada na vitória contra o Vasco. Era muito bom ir ao Morumbi nesse período. A confiança havia voltado, o pós-jogo não tinha hora pra acabar.

Imaginava-se que com a eliminação na Copa Sul-Americana o time teria as semanas cheias e com isso tempo pra recuperar os jogadores desgastados e machucados. Mas ocorreu o contrário. A intensidade sumiu, a venda de Militão fez o sistema defensivo cair, a falta de reforços se fez sentir com a contusão de Everton. As reclamações de Nene após as substituições começaram a ser frequentes.

A liderança foi perdida no começo de outubro, o tabu de 16 anos sem derrota no Morumbi para o Palmeiras foi quebrada num jogo em que o SP foi apático. O estopim pra saída de Aguirre foi o empate contra o Corinthians após passar todo o segundo tempo com um mais e jogando bem menos que o rival. A panela de Nene havia vencido e Aguirre foi demitido.

Jardine foi colocado como interino e efetivado logo em seguida. Mesmo com conceitos diferentes de Aguirre, o futebol do SP continuou ruim. Um empate sonolento contra o Grêmio, uma vitória sem brilho contra um Cruzeiro desmotivado, um futebol medonho contra o horroroso Vasco e um empate em casa contra o quase rebaixado Sport em casa, mostraram que o SP mudou pra continuar igual.

Como havia feito no ano passado com Rogério Ceni, fez de Raí um escudo. Contratações estranhas como as de Jean e Trellez foram feitas. Contratos mal redigidos fizeram Cipriano sair de graça e Militão por um valor baixo, mesmo Raí agindo bem na negociação.

Jogadores comuns voltando ao normal, como Hudson e Reinaldo. Rodrigo Caio um dos símbolos do declínio do time, irritando a torcida. A Barra Funda continuava um spa, o Reffis e seu Departamento Médico ineficiente.

Enquanto isso, o SP como em 2017, batia recorde de acessos em redes sociais, recordes de público, o setor de comunicação do clube explorando os feitos das categorias de base com o Made In Cotia, visando apenas o lucro, vendendo os melhores , como Neres e ficando com os ruins.

As perspectivas para 2019, não são animadoras. Se terminarmos em 5º, disputaremos a fase preliminar da Libertadores e toda a pré temporada sera prejudicada. Corremos o risco de encontrar um Tolima da vida. As contratações especuladas são de qualidade duvidosa. Na semana que vem, as redes sociais serão tomadas por influenciadores digitais caçadores de clique com charadas de contratações e ilusões serão feitas.

Raí, tal qual ocorreu com Ceni, começará a ser criticado com mais intensidade. Em meio a isso, as pessoas que colocaram o clube nessa situação vexatória, passam incólume. Temos um conselho deliberativo omisso. O que deu o caso Alan Cimerman? Quando irão propor que o balanço financeiro seja trimestral? Quando irão cobrar mais transparência na gestão de futebol?

No meio dessa situação, o único vencedor é o senhor Leco, o pior são-paulino da história, com cargo fixo desde abril de 2002. Como diretor de futebol, torrou a grana da venda de Beletti e França com pernas de pau e que deu prejuízo, como foi o caso Jorginho Paulista. Como diretor de finanças, ajudou o clube a contrair empréstimos bancários e ajudou Juvenal a dar o golpe no Estatuto.

Perseguiu Muricy, queimou Ceni e queimará Raí, tudo isso com o silêncio de blogueiros e torcedores organizados. Como ocorreu nos anos anteriores, passarei dezembro vendo os títulos do passado no YouTube, afinal o SP que aprendi a torcer e a amar só existe lá. Até quando os dias do SP serão iguais? Até quando viveremos esse feitiço do tempo? Até quando nossas glórias virão do passado?

Rafael de Albuquerque