Hudson tem a chance de ser capitão do São Paulo pela segunda vez na carreira. Depois de sonhar em erguer a taça da Copa Libertadores da América de 2016 e parar na semifinal, o volante agora tem como objetivo levantar o troféu do Campeonato Brasileiro. Mas para conquistar posto de tamanha importância no Tricolor, que contou com a capitania de Rogério Ceni por 15 anos, o camisa 25 precisou se moldar como um líder influente no elenco e diante da torcida.

Até agora, o marcador vestiu a braçadeira em nove partidas na temporada. A efetivação no cargo foi contra o Vasco da Gama, justamente quando a equipe de Diego Aguirre conseguiu chegar ao primeiro lugar do Brasileirão. O posto foi perdido para o Internacional há duas rodadas, mas pode ser recuperado neste domingo, às 16h, no confronto com o Santos, na Vila Belmiro.

Curiosamente, foi no rival da 25ª rodada da Série A que Hudson começou a construir sua trajetória como capitão. Revelado pelo Peixe, o volante usava a faixa nas categorias de base, até ser promovido ao profissional em 2007 por Vanderlei Luxemburgo. Depois, sem conseguir se firmar no Alvinegro, rodou o interior do Brasil e se reergueu no São Paulo, em 2014, quando conheceu aquela que se tornou sua maior referência na tentativa de ser um líder.

Foram duas temporadas inteiras ao lado de Rogério Ceni, conhecido pela força como capitão – desde os discursos inflamados nos vestiários até à luta com dirigentes pelos direitos dos atletas. Hudson costuma exaltar a inteligência apresentada pelo ex-goleiro, hoje técnico do Fortaleza, na hora de lidar com os companheiros. A forma como Ceni conseguia motivar o time o deixava impressionado.

O mineiro de Juiz de Fora, então, juntou a experiência vivida com Ceni com um antigo gosto: a leitura. Livros sobre liderança e sobre como se comunicar em público sempre o atraíram, mesmo sem ligação direta com o esporte. Nas redes sociais, conseguiu estender esse gosto a páginas que compartilham mensagens de foco, companheirismo e protagonismo. Ele lê, reflete e gosta de compartilhar o que encontra de interessante. São palavras diretas, apesar de breves, que o ajudam na hora de construir os discursos das preleções.

Nessa nova fase como capitão, sua fala mais marcante antes de uma partida aconteceu no empate por 1 a 1 com o Fluminense, há três rodadas. Hudson disse: “Quero destacar uma coisa que vai ser muito importante: a força deste grupo. Um time vencedor não se faz só com 11 jogadores, mas com 20, 25, 30, como a gente tem tido aqui. Luan fez a estreia como titular contra o Cruzeiro e foi bem para c… Shaylon já fez dois gols muito importantes. Tréllez saiu do banco e fez gol que colocou a gente na liderança. Todos são importantes. E hoje a gente vai lá pra dentro juntos!”. No jogo, mesmo com um a menos, o São Paulo reagiu e empatou graças a cruzamento de Régis e gol de Tréllez, dois jogadores que saíram do banco de reservas.

O gosto de Hudson por ser capitão passa ainda pela relação com a torcida. Em 2016, por exemplo, quando o time andou mal e beirou a zona de rebaixamento, dava as caras em entrevistas mesmo sem estar jogando bem. Na boa fase deste ano, cresceu junto com a equipe e virou um dos símbolos da garra imposta por Aguirre em campo – a ponto de já ser procurado para renovar o contrato que termina em dezembro de 2019. Isso se reflete até no aumento de sua popularidade nas redes sociais, onde mostra bom humor para interagir com torcedores e colegas de time.

Esse lado político, no sentido de se relacionar com facilidade, o ajudou a sempre ter o respeito de figuras importantes dentro dos elencos pelos quais passou. Na primeira passagem pelo São Paulo, de 2014 a 2016, era muito ligado a Alexandre Pato e Kaká, por exemplo. Agora, circula bem pelo plantel de Aguirre, desde o badalado quarteto formado por Nenê, Diego Souza, Everton e Reinaldo até os garotos da base. Quando esteve no Cruzeiro, também conquistou líderes do time, como Rafael Sóbis, Lucas Silva e Thiago Neves – o último chegou até a reclamar publicamente da diretoria por não ter comprado o volante ao fim do empréstimo na temporada passada.

Durante esta semana, os jogadores da Raposa estiveram no CT da Barra Funda para treinar antes da semifinal da Copa do Brasil, contra o Palmeiras, e fizeram questão de procurar Hudson para conversar e registrar o momento em fotos. Algo semelhante aconteceu quando Rogério Ceni levou o Fortaleza para treinar no CT são-paulino e se preocupou em justificar e se desculpar pela escolha de liberá-lo para o Cruzeiro no ano anterior. Na ocasião, Ceni queria um ponta, o nome de Neilton foi oferecido e os mineiros acabaram pedindo a troca por Hudson, que ficou chateado inicialmente com a decisão.

UOL