Amigos tricolores

Assim como muitos de vocês, eu sou fã do Muricy Ramalho. Não serei hipócrita em dizer que nunca o critiquei, aliás, critiquei muito, mesmo com os títulos de 2006-2008 por achar que o São Paulo tinha apenas uma jogada, jogava a bola na área para ver o que dava. As vezes funcionava, outras não, mas independente disso, sempre achei Muricy um cara sério, admirável e correto. Ele demonstra ser além de uma pessoa apaixonada pelo futebol, um sujeito integro e por isso conquistou o sucesso que conquistou como técnico e agora comentarista. Sem dúvida, o Muricy é uma figura do futebol brasileiro, bravo, engraçado, trabalhador, humilde e honesto. E claro, nunca teve medo de dizer que seu time do coração é o São Paulo, mesmo jogando e treinando outros times, ser profissional acima de tudo, sempre!

O jogador Muricy

Muricy foi um grande jogador. Quem o viu jogar, infelizmente eu não consegui, diz que ele foi um grande craque. Teria, hoje, lugar em qualquer time no país e seria um dos principais jogadores da seleção Brasileira. No São Paulo, foram 177 jogos, entre 1973 – 1979, marcando 26 gols. Não era um artilheiro, mas era um meia de muita qualidade. Não disputou Copa do Mundo, por mais que na de 1978 teria condições, o joelho não deixou. Jogou no México e encerrou sua carreira no América do Rio de Janeiro, aos 30 anos, em 1985, devido a uma grande sequencia de contusões.

Em tom de brincadeira, Muricy disse uma vez, quando comandava o São Paulo, na sua 3a passagem, que se ele jogasse ainda, era ele e mais 10 no São Paulo. E com certeza, em 2013, se ele estivesse em campo, o São Paulo não teria passado pela sequencia negativa que passou antes da sua chegada como técnico. Não apareceu como deveria, pois jogava ao lado do genial Pedro Rocha.

Revoltado Muricy

O jeito “marrento” de ser do Muricy não é de hoje. Eu o conheci pessoalmente, ficamos 4h conversando com ele para o livro que escrevi sobre a história do Telê Santana no São Paulo, e ele é pessoalmente o que é na TV. Excelente de papo, ótimo contador de história e dono de um humor único. Extremamente engraçado! Mas, quando ele quer ser bravo, ele é. Uma história muito engraçada, ocorreu quando ele tinha 16 anos e era reserva do reserva, isso mesmo, do 3o time do São Paulo. Muricy era “roqueiro” cabelos longos e vivia de jeans. Seu futebol chamou a atenção do então técnico do São Paulo, José Poy, ex-goleiro, o argentino era considerado uma pessoa muito brava, para muitos, até mais que o mestre Telê.

Um dia Poy, vendo Muricy treinar nas categorias de base, o chamou para treinar. Muricy foi, mas Poy, exigente ficou incomodado que Muricy tinha o cabelo cumprido e pediu para o jovem, de 16 anos, cortar e ouviu um “não”. Poy disse que cabeludo não jogava no time dele e Muricy disse que então não jogaria, virou as costas em foi embora. Outros jogadores, conversando com Poy o convenceram a deixar de lado o cabelo e olhar o futebol diferenciado do meia.

Começo como técnico

Mesmo se aposentando em 1984, Muricy voltou a ser técnico apenas em 1993 no Puebla do México, time que ele defendeu com maestria entre 1979 e 1985. Ficou pouco tempo treinando o time, pois em 1994, ele voltou ao São Paulo para comandar o time de base do tricolor. Em Abril daquele ano, comandou o São Paulo em um torneio na França e veio o primeiro título.

Por mais que a sua experiência era pequena como técnico, a sua história no São Paulo e o seu jeito de ser chamaram a atenção do mestre, que já estava pensando em se aposentar do futebol há tempos. Aliás, no livro eu conto que Telê chegou a se aposentar do futebol, mas o grande Sr. Carlos Caboclo o convenceu a repensar e assumir o tricolor. Telê, em 1994, já havia ganho tudo pelo São Paulo e precisava preparar uma pessoa para o substituir. O próprio mestre escolheu Muricy para essa missão, assim, no mesmo ano, de 1994, Muricy se tornava auxiliar de Telê no comando do time principal, com a meta de assumir o São Paulo em 1998, 4 anos depois, com o mestre se aposentando, mas a doença do mestre, impediu que os planos fossem concluídos dessa forma.

Em 1994, o time chamado “Expressinho” que tinha Rogério Ceni, Caio Ribeiro, Juninho Paulista e Catê venceu a Copa Conmebol, titulo que marcou muito a carreira de Muricy e mostrava o São Paulo gigante com 2 times competitivos na época.

1996 o inexperiente assume

Muricy sabia que não tinha condições de assumir o comando do São Paulo. Como, uma pessoa sem a menor experiência, poderia substituir o maior técnico da história do futebol brasileiro – talvez do mundo – que ganhou tudo no São Paulo naquele período? Mas a Isquemia, que derrubou Telê, chegou mais cedo do que previsto pelo mestre. Em Janeiro, ele sai do São Paulo por motivo de doença, vai para o Palmeiras por 2 dias e encerra a carreira. Muricy, substituto natural do mestre, assume, mas não vai nada bem, substituído em pouco tempo pelo Mr. Retranca, Carlos Alberto Parreira, que também não faz nada demais no São Paulo, sendo substituído pouco tempo depois pelo grande Dario Pereyra.

Volta por cima!

Quando Muricy saiu do São Paulo, ele afirmou que voltaria mais tarde para ser campeão no time. E de fato, ele o fez. Muricy rodou diversos times como Guarani, Ituano, Botafogo-SP, Portuguesa Santista, Santa Cruz, Náutico, Internacional-RS entre outros. Até na China ele se aventurou. Ganhou campeonato em quase todos os times que passou entre 1996, sua saída, até 2006 sua volta. Ganhou o Pernambucano, com o Náutico, Gaucho com o Internacional-RS, Paulista com o São Caetano e voltou mais experiente, a ponto de nos dar o tri nacional.

Saiu em 2009, após a 4a eliminação seguida na Libertadores por times brasileiros, foi para o Palmeiras, quase venceu o campeonato daquele ano, mas depois foi para o Fluminense, onde venceu o Brasileiro, no Santos venceu uma Libertadores e Paulistas e encerrou no Flamengo em 2016, por problemas de saúde!

 Presidente?

Volta e meia, a torcida pede a volta de Muricy ao tricolor. Ele, hoje um grande comentarista da Rede Globo, nunca escondeu que ama o São Paulo e voltaria, não como técnico, mas sim como diretor. Ele tem medo de voltar ao São Paulo e qualquer erro de técnico ter seu nome gritado nas arquibancadas – porque será – e isso fazer uma pressão desnecessária em qualquer técnico, mas Muricy na presidência do tricolor seria algo benéfico para o time, a começar, que ele ia modernizar o time, tirar tudo que é empresário e montar um time forte para disputar títulos. Algo que, em 2018, estamos vendo ressurgir no Morumbi.

Essa foi uma pequena homenagem ao grande Muricy Ramalho, que merece ser enaltecido sempre. Não foi o maior técnico do São Paulo, mas sem dúvida, é o que mais tem ligação com a torcida, o carinho é recípocro!

*Felipe Morais. Publicitário, apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube. Sócio da FM Planejamento, Palestrante sobre marketing digital, comportamento de consumo e inovação. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Ed. Saraiva) e Ao Mestre com carinho, o São Paulo FC da era Telê (Ed Inova) – www.livrotele.com.br – facebook.com/plannerfelipe e @plannerfelipe