O que se viu nos 14 jogos do SP sob o comando de Dorival em 2018 era deprimente. Pouca criatividade, velocidade e poder de conclusão. É evidente que as perdas de Pratto e principalmente Hernanes,  além da curta pré-temporada de 12 dias serviam como atenuantes para o desempenho pífio do time. Soma-se a isso o fato de Dorival ter afirmado que não indicou Nene e Diego Souza, mas sim Robinho( com problemas na justiça italiana) e Gabigol.

Em seu último jogo como treinador do SP, em 08/03, Dorival escalou a seguinte equipe: Jean (Sidão estava machucado), Militão, Arboleda, Rodrigo Caio e Edimar (Reinaldo estava machucado); Hudson, Petros, Marcos Guilherme, Cueva, Valdívia; Brenner. No 1° tempo, fomos massacrados pelo Palmeiras e a sensação era de seríamos goleados. No intervalo, Dorival colocou Shaylon, Nene e Trellez nos lugares de Hudson, Marcos Guilherme e Brenner respectivamente. Fizemos um 2 º razoável, não fomos goleados, mas Dorival foi demitido com toda justiça.

Houve um lobby forte de setores da imprensa e de uma torcida organizada pelo nome do decadente Luxemburgo, mas com a indicação de Lugano, Raí contratou Diego Aguirre. O uruguaio havia conseguido levar o tradicional, porém limitado Peñarol ao vice da Libertadores em 2011, vendendo caro a derrota para o Santos de Neymar. No Brasil, Aguirre teve duas passagens curtas por Inter-RS e Galo, com críticas diversas ao seu trabalho. Quem gostava do seu trabalho dizia que suas equipes jogavam com intensidade, e quando saia na frente dificilmente era derrotado. Quem não gostava, alegava que ele não tinha uma equipe definida, fazia muito rodízio e que os jogadores se machucavam demais.

No começo de trabalho, com apenas 8 jogos, 2 eliminações. Além disso, no começo do Campeonato Brasileiro 4 empates em 5 jogos e uma classificação com relativa dificuldade diante do fraco Rosario Central . Quando a contestação sobre os métodos de trabalho de Aguirre começaram a aumentar, eis que o SP consegue vencer 3 jogos seguidos e com bom futebol. Éramos 2º com possibilidade de terminar a 9º rodada na liderança.

Veio o clássico contra o Palmeiras, onde fomos superiores e saímos vencedores no 1º tempo. No 2º tempo, tudo mudou. A contusão de Hudson e a entrada de Petros fez o time perder a transição na saída de bola e a marcação. O 1º gol saiu após mais uma falha na marcação pelo lado esquerdo com Reinaldo e uma falha de Sidão. Levamos um gol em posição de impedimento e um 3º num contra-ataque que contou com mais uma falha de Sidão.

Contra o Inter, entramos desfalcados de 10 jogadores e pela 1° vez sem Nene sob o comando de Aguirre, vimos um dos piores jogos da temporada. Logo os detratores do treinador uruguaio começaram a apontá-lo como o maior culpado pelo péssimo futebol apresentado e consequentemente pelo resultado. Aguirre não é Telê Santana ou Guardiola, mas é bem melhor do que a média dos treinadores brasileiros atuais. No meu conceito, ele não trabalhou bem no jogo da volta contra o Atlético-PR, pois insistiu em jogar com 3 volantes por 80 minutos, precisando fazer um gol pra levar o jogo para os pênaltis. Errou também contra o Galo, quando da saída de Nene, ao colocar Liziero ao invés de Cueva. Também achei que ele errou ao colocar Petros em detrimento a Liziero contra o Palmeiras e contra o Inter achei que ele errou ao começar com Trellez e ao tirar Lucas Fernandes no 2° tempo.

Entre a data do 1º jogo sob o comando de Aguirre( 17/03) e o último(05/06), foram 81 dias e 18 jogos, o que dá uma média de um jogo a cada 4,5 dias, sendo que 8 jogos foram em competições mata-mata. Soma-se a isso o fato dele não ter feito a pré-temporada e não ter participado da montagem do elenco para a temporada.

Mesmo assim, ele conseguiu fazer o time evoluir. O time marca melhor, está mais compacto, está melhor coletivamente na defesa e no ataque do que estava com Dorival. Alguns resultados não vieram por erros individuais ao perderem a chance de matar o jogo como foi contra o Fluminense, e falhas de marcação ou do goleiro, contra o próprio Fluminense, Bahia e Palmeiras.

O maior mérito de Aguirre foi em recuperar Diego Souza e Nene, que foram escanteados por Dorival. Os números não mentem. Com Dorival, Diego fez 2 gols em 12 jogos, média de 0,16 gol p/jogo. Com Aguirre, DS fez 6 gols em 12 jogos, média de 0,50. No caso de Nene, também houve evolução. Com Dorival, o meia 2 gols em 9 jogos, média de 0,22 gols p/jogo. Com o uruguaio, foram 5 gols em 17 jogos, média de 0,29 gols p/jogo. Isso se deve ao fato de que com Dorival, Nene jogava pelo lado de campo, sendo obrigado a marcar o lateral adversário. Com Aguirre, Nene tem liberdade de movimentação e pouca obrigação em marcar.

Com  a parada pra Copa, a obrigação de Raí é a de resolver de uma vez as situações de Militão, Rodrigo Caio e Cueva e reforçar o elenco, principalmente a questão de goleiro. Além disso, é preciso identificar o que há de errado com a preparação física e diminuir o número de lesionados. O problema mais difícil de resolver é o bastidor, visto que somos prejudicados quase sempre pela arbitragem e temos um presidente omisso em defender os interesses do clube na CBF.

Não sou o dono da verdade e ficar dizendo que sei mais de SP e de futebol do que os outros, mas me dou o direito de achar que o saldo de Aguirre é positivo. Dorival deixou um legado zero em termos táticos, sem contar que  o time não tinha ”fome de glória”. Hoje, vemos um time com uma postura tática definida, compacta, e no ataque achou uma forma de extrair o que DS e Nene tem de melhor, sem contar que o time como um todo joga com alma, se nega a perder, deixa tudo no campo.

Teremos um jogo complicado contra o Atlético-PR, com a nossa torcida proibida de entrar por uma decisão esdruxula do MP do Paraná, com um juiz caseiro no apito( Anderson Daronco) e um tabu de jamais ter vencido na Arena da Baixada. A torcida do SP tem que deixar de ser bipolar. Não é um timaço por ganhar 3 partidas seguidas, nem é uma porcaria por ter perdido um clássico fora nem ter tropeçado contra o Inter. Independente do resultado do jogo de sábado ,defenderei o trabalho de Aguirre, pois ele é um dos pontos positivos do time. Pra mim, Aguirre não é problema, é solução.

Rafael de Albuquerque

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