Olá caros amigos tricolores! Quanto tempo, hein? Depois de um longo e tenebroso inverso, aos poucos vamos retornando à normalidade. A fase turbulenta do SPFC, dentro e fora de campo, cobrou seu preço em relação à inspiração deste mero escriba no ofício de troca-letras… Virei um eremita numa caverna qualquer do Condado!

Mas há, sim, claros sinais de que as coisas estão mudando. Demorou, mas achamos um rumo, há indícios consistentes disto. Passa pelo “afastamento” do presidente (aquele de quem me recuso a escrever o nome, a la “A Vila”, de Night Shyamalan), a chegada do trio Raí, Ricardo Rocha e Lugano para cuidar do dia-a-dia do futebol e, para a minha surpresa, pelo acerto que tem sido a chegada de Diego Aguirre.

O SPFC dos últimos tempos exige que despejemos sobre os mandatários do clube um festival de obviedades. Coisas como “há mais chances de termos um bom trabalho se este for feito por pessoas competentes”, “não se faz omelete sem ovos”, “o objeto de um clube de futebol é vencer desportivamente”, “boas escolhas demandam competência, estudo, seriedade, prudência, austeridade e criatividade”, “é quase impossível prosperar no caos”, “a prosperidade no campo advém da estabilidade, da repetição e sedimentação de um modelo de jogo adequado” e por aí vai.

Parece que se deram conta disso e ao notável trio diretivo foi dado o salvo conduto para tentar reerguer o clube de futebol, com aparente afastamento da cartolagem. Ainda há flagelos, sobretudo nas negociações de atletas e na política de gastos. Mas quero falar do que vejo em campo. E eu estou animado como há anos não estive! Assisti três vezes o jogo contra o Botafogo e digo que há claramente uma linha de trabalho sendo posta em prática. Não é acaso, meus iguais!

As entrevistas de Aguirre, especialmente naquela vitória do primeiro jogo contra o Corinthians na semifinal do Paulista, onde o treinador disse que o time precisava, antes de tudo, vencer:  era preciso restaurar o espírito que se quebrou frente aos fracassos em série, às humilhações acachapantes. Era preciso resgatar a confiança! Para os jogadores e sobretudo para nós, torcedores.

Aguirre também disse daria especial atenção para a defesa. Desde que se chegou, o setor tem sido mais firme. Ainda toma gols por erros individuais, mas a tendência é diminuir. Aguirre trabalhou o conjunto, e o sistema de contestação ao adversário melhorou exponencialmente, da recomposição após perder a posse de bola ao ímpeto para recuperá-la. O SPFC marca por zona,  sempre oprimindo o jogador adversário que está com a bola. Não há tempo para pensar a armação do jogo, propiciando maior chance de recuperação da bola. O SPFC tem feito gols em decorrência direta desta pressão na marcação, inclusive. Aguirre sabe que esse é o modo mais eficaz de neutralizar a ameaça adversária, especialmente para times mais virtuosos tecnicamente. E se contra times mais técnicos este sistema dá resultado, contra os demais a efetividade desse modo de jogo é ainda maior.

A implantação dessa mentalidade passa pelo posicionamento firme e intransigente do treinador de que a entrega do jogador em campo é algo que não pode ser negociado, ou seja, o sujeito deve dar tudo de si, sofrer, deixar tudo dentro das quatro linhas. E, jogando nesse nível de intensidade, as peças em campo precisam variar, pois não há tempo hábil de recuperação fisiológica à contento de tamanha exigência. Embora haja quem torça o nariz para a alternância de jogadores (eu era um deles, inclusive), o rodízio se explica na medida em que essa blitzkrieg na marcação em todos os setores do campo se faz contumaz. Mais que isso, o rodízio se impõe. Escolhas precisam ser feitas, e a prioridade de Aguirre tem sido manter um time altamente competitivo e inconformado, inquieto, insolente para o adversário.

Aguirre também teve méritos ao criar espaço para acomodar o talento de Nenê, de quem não se pode exigir o fôlego de um garoto de 18 anos. A chegada de Everton, que tem mais condições físicas para jogar pelos lados e recompor a marcação também facilitou a vida do camisa 7, que agora tem a vitalidade preservada para fazer o que se espera: armar o time, concluir a gol, estar apto ofensivamente. Os resultados acenam positivamente para as ações do treinador: Nenê tem sido decisivo!

Há que se destacar também a condução de Raí, especificamente. Bancou Diego Souza quando a opinião quase unânime (inclusive do próprio atleta) era de que o camisa 9 não tinha dado certo no SPFC. Raí apostou alto e teve pulso na conduta da situação, foi franco e fraterno com o jogador: bancaria a sua permanência, por acreditar em seu futebol, mas para tal exigia a mudança de atitude, mais “fome” e profissionalismo. Deu certo: Diego Souza virou artilheiro do time.

Alguns problemas persistem: precisamos de laterais e um goleiro confiável. Ontem (30/05) ficou clara a diferença entre Sidão (irregular demais) e Jefferson. Na cabeçada de Diego Souza, Jefferson, a la Gordon Banks, fez uma grande defesa. Sidão, na cabeçada de Rodrigo Pimpão, Sidão não conseguiu evitar o gol.

Contudo, o saldo é muito positivo. Estamos a onze (ONZE!) jogos sem perder, neste momento (31/05) liderando o campeonato. Não nos esqueçamos que Aguirre tem sido muito pressionado desde que chegou, pegou decisões importantes, foi eliminado e não procurou escusas para tal. Foi homem, sem “mimimi”, disse inclusive que não há que se procurar ponto positivo na derrota ou na eliminação. Há que se lamentar, se entristecer, sofrer. Verdade absoluta!

Aguirre descobriu a chave para reavivar este combalido SPFC: apresentá-lo à frustração, fazê-lo sofrer, sentir dor, a notar a escuridão do fundo do poço, sem discursos estatísticos vazios, máscaras de realidade, falas de positivismo barato com valorização ao que não tem valor algum. Aguirre mostrou a verdade ao SPFC! E, de posse dela, fincou naquele solo santo a pedra angular para a reconstrução de um verdadeiro time de futebol.

Aguirre achou um caminho.

Oremos, iguais!