Amigos tricolores

Acho que todos nós estamos um pouco cansados de ver o time em formação. A cada ano que começa, nossa esperança se renova, mas o time está sempre em formação. Infelizmente, planejamento, é uma palavra inexistente no mundo do futebol – na verdade no mundo corporativo também – mas no futebol é ainda pior.

Círculo vicioso

Há sempre um “bom negócio” que muda os rumos de um time, e esse time entra, em um círculo de formação, quando o time parece pronto, entrosado e que vai dar certo, saem 2 jogadores, chegam 3 e tudo começa quase que do zero. No São Paulo hoje, Everton, por exemplo, foi uma oportunidade, mas que pelo seu nome já chega como titular desbancando e desmotivando Cueva e Valdivia, por exemplo. Isso ocorre o tempo todo, dizem que jogador ganha titularidade nos treinos, bem, eu duvido um pouco disso, sinceramente.

O mercado é assim!

Não vou aqui ficar culpando Rai, Ricardo Rocha ou mesmo o Leco, pois isso não é exclusividade do São Paulo, a falta de planejamento tem uma série de fatores que não se tem como realmente prever, como contusões e essas oportunidades, por exemplo. Convocações ou jogadores em término de contrato há como se prever, mas a concorrência de mercado é forte. Palmeiras por exemplo, que mais uma vez se vendeu a um patrocinador, tem um dinheiro quase ilimitado para se reforçar e vem com tudo para cima de jogadores             que outros times estão de olho, caso mais recente, do Scarpa. Oportunidades aparecem diariamente para os times, ainda mais com diversos empresários que chegam com o “novo Pelé” nas diretorias de futebol dia sim, outro também. Todo o empresário descobriu um grande talento que vai gerar milhões para os clubes…

Empresários matando o futebol

Gostando ou não, o futebol está nas mãos desse pessoal e como em todo o segmento há os bons, ruins, honestos e corruptos. Faz parte do jogo! Já vimos diversos casos de talentos perdidos porque empresários prometeram a camisa 10 da Seleção e do Barcelona e hoje estão em times de 2a ou 3a divisão. Alguns, até ganharam muito dinheiro, mas suas carreiras foram destruídas por esses empresários gananciosos. Isso mata qualquer planejamento e um empresário que tira 3 ou 4 jogadores de um time, o faz voltar para o status de “time em formação”. E nesse momento, é o que o São Paulo está vivendo.

Propostas irrecusáveis

99% dos jogadores de futebol vem de origem muito humilde. Em muitos casos, os pais apostam nisso para melhorar de vida. Humildes e sem muito estudo são alvos fáceis para empresários gananciosos. Caem na conversa e qualquer promessa ou pagamento de uma dívida tornam-se “donos” de às vezes uma criança de 12 ou 13 anos. Vem promessa de milhões, usam exemplos diversos de jogadores que ganharam muito dinheiro, mesmo que  esses sumam para o futebol, se tira o sonho do jogador jogar na seleção em troca de Euros. Para uma família que começa o mês sem saber se termina com comida na mesa, dinheiro é mais importante que patriotismo. E não estão errados! Quem passa dificuldades sabe como é. Essa realidade do Brasil que é muito bem explorada pelos “malandros” que exploram os mais humildes. E de novo, o futebol não é o único cenário onde isso ocorre.

 

Teste e mais testes, Um dia dá!

O jogador passa nos testes – as vezes não por talento, mas sim por suborno – e começa a treinar em um grande time. Começa a ganhar 2 ou 3 mil reais, o que pode ser o maior salário da casa, e começa a se destacar. A imprensa começa a enaltecer o jogador – as vezes a pedido dos empresários amigos ou que dão uma “graninha” por fora – que, aos 16 ou 17 anos, já ganha status de craque! Seu salário já é de 10 mil e o empresário consegue um pequeno time do leste europeu para ele jogar. Salário de 100 mil por mês e luvas de 1 milhão. Jogador vai a imprensa, faz juras de amor ao time, mas não pensa muito em assinar o contrato, onde ele vai colocar no bolso um dinheiro que seus pais jamais conseguirão trabalhando honestamente. Compra uma casa para os pais e vai embora. Seu futebol nunca mais será visto, mas ele ajeitou a vida da família.

Time em formação. De novo!

Quando o São Paulo tinha achado um bom ataque com Cueva, Luiz Araújo e David Neres, veio os empresários e levaram as joias da base! Contrata para repor, há tempo de adaptação, há ego, há vaidade, time patina no campeonato. Um time não se entrosa da noite para o dia, é preciso tempo!

No meio da competição é preciso reforçar. O São Paulo não disputa finais há anos, time precisa reforçar, constantemente. Sai técnico, entra técnico, nada muda! Vende jogador, traz 3 que não tem condições de vestir a camisa do SPFC, estamos, de novo, em formação! Muda esquema, muda jogadores, mescla a base, mas calma, essa não está pronta, precisa reforçar com jogadores experientes, mas o ego é grande, tem jogador jogando com nome, faz panela, derruba técnico. Presidente sempre blindado! Joga a culpa na diretoria, mas são ídolos e estão remontando o time, estamos em formação, de novo!

Enquanto isso, o Grêmio, com mesmo time, técnico e filosofia jogando o que está. E nós? Ah, estamos em formação….

*Felipe Morais. Publicitário, apaixonado pelo São Paulo Futebol Clube. Sócio da FM Planejamento, Palestrante sobre marketing digital, comportamento de consumo e inovação. Coordenador do MBA de Marketing Digital e do MBA de Gestão Estratégica de E-commerce da Faculdade Impacta de Tecnologia. Autor dos livros Planejamento Estratégico Digital (Ed. Saraiva) e Ao Mestre com carinho, o São Paulo FC da era Telê (Ed Inova) – www.livrotele.com.br – facebook.com/plannerfelipe e @plannerfelipe