DNA do tricampeonato inspira técnico do São Paulo

O São Paulo do técnico Diego Aguirre tem criado uma identidade com três zagueiros. Foi jogando dessa maneira que o clube conquistou o tricampeonato brasileiro de 2006 a 2008, sob o comando de Muricy Ramalho.

O esquema que varia de um 3-5-2 para um 3-4-3 é o que o uruguaio de 52 anos considera ideal para o Tricolor.

“Não sei se o ideal para o futebol, mas é o ideal para o São Paulo”, disse Aguirre, em entrevista ao Agora.

Hoje, às 21h45, o treinador encara sua terceira decisão de mata-mata em menos de dois meses.

O clube do Morumbi joga em casa, contra o Rosario Central, e se classifica na Sul-Americana com vitória simples.

“Não podemos priorizar. Eu não posso falar que quero a Sul-Americana e não, o Brasileirão. Porque vamos ser protagonistas e tentar ganhar os dois”, declarou.

Agora – O São Paulo deixou escapar a vaga na final do Paulista e na Copa do Brasil com uma situação que parecia controlada. O fator psicológico preocupa?
Diego Aguirre – Não é psicológico, não sinto que seja assim. São coisas que acontecem no futebol. Não pudemos buscar desculpas ou fatos psicológicos porque ninguém pode comprovar, é algo subjetivo. Temos de trabalhar para melhorar e, se aconteceu isso, é porque cometemos erros. Estamos em um caminho bom, o clube quer voltar a estar nas decisões.

Agora – Qual análise você faz do São Paulo em menos de dois meses?
Diego Aguirre – Faz pouco tempo, mas parece muito mais. Porque com a intensidade que se vive aqui no dia a dia, os jogos, por toda a repercussão que tem o São Paulo como time grande, sinto que é um tempo razoável para poder falar de um processo. Sinto que o time está melhorando, com certeza. Quando eu analisava para pegar, assistia jogos, eu via outras coisas. Não falo do passado porque não estava aqui, não gosto de falar coisas de antes, de outro treinador, nada. Mas sinto que desde o dia que começamos até agora, estamos melhor. O time está mostrando argumentos para ir se solidificando e melhorando jogo a jogo. Sinto, sinceramente, que estamos no caminho de ver uma saída e lutar por um campeonato importante.

Agora – O time tem a intensidade que você deseja?
Diego Aguirre – O time está evoluindo, as coisas não acontecem de um dia para o outro. Para você pedir intensidade, tem de trabalhar de forma intensa. Os jogadores estão aceitando muito bem nossa proposta, estão querendo ganhar. É uma oportunidade maravilhosa para todos os que estão aqui. Não podemos passar sem que ninguém se lembre de nós.

Agora – O esquema com três zagueiros é o ideal?
Diego Aguirre – Sim, o ideal para São Paulo. Não sei se o ideal para o futebol, mas é o ideal para o São Paulo. Porque tem zagueiros de alto nível, todos muito bons. Eu me adaptei aos jogadores. Também tem história de conquistas com três zagueiros. A torcida gosta. Não significa que será sempre assim. É um padrão de jogo que estamos tentando fazer dar certo. Mas, em alguns momentos, podemos usar outros sistemas, com as mesmas peças.

Agora – Concorda que seu time é muito defensivo?
Diego Aguirre – Às vezes temos sido, sim. Começamos melhorando uma situação: a defesa. Para isso, nós nos fechamos e, talvez, perdemos jogo ofensivo. Não é que vai ser sempre assim, não me sinto um técnico defensivo. Se você me entrevistar daqui um mês, vamos falar que o time está fazendo gols, jogando melhor. Se você só defende, não pode aspirar ganhar.

Agora – Qual é o objetivo do São Paulo no Campeonato Brasileiro deste ano?
Diego Aguirre – Para mim, é na parte de cima da tabela. Não posso sentir outra coisa, estou falando sinceramente. São Paulo tem de ser protagonista do Brasileiro e não passa pela minha mente outra coisa que não seja isso.

Agora – Por que você tem segurado a molecada da base?
Diego Aguirre – Tem de ter cuidado quando se fala dos garotos. Tem de ter um processo de amadurecimento. Liziero, já com 20 anos, está pronto. Ainda pode ser um pouco irregular nos rendimentos, mas está pronto. É um jogador do time titular. O Militão também, com 20 anos. É uma idade normal em que os jogadores começam a ficar prontos. Se você traz um menino de 17 anos, é normal que não esteja pronto ainda. Temos de ajudar para que ele pegue ritmo e vá treinando. É outro nível o treinamento, muita coisa para preparar. Nosso principal cuidado é de proteger, não colocar em campo. Depois pode ser prejudicial. Temos de ter um pouco de paciência, um tempo para, na hora de ter as oportunidades, que peguem e se destaquem.

Agora – Então você acha que a subida do Brenner, com 17 anos, no ano passado, foi prematura?
Diego Aguirre – Eu não falo isso porque as decisões que se tomam na hora, se tomam por alguma razão. Ele precisa trabalhar, precisa competir, precisa jogar futebol todos os finais de semana. Às vezes, aqui, temos muitos jogadores, e não podemos dar essa chance. E é bom se o menino tiver uma competição no sub-20. São jogadores do time principal, mas têm de continuar melhorando.

Agora – Você já conversou com o treinador do sub-20 sobre esse intercâmbio dos garotos?
Diego Aguirre – Sim. Isso vai acontecer, já está acontecendo. Helinho, por exemplo. Está com mais ritmo, ele vai estar melhor com certeza. Vai ser semana a semana para, na hora que eu precisar do Helinho para jogar, eu tenho a tranquilidade de que está com ritmo de jogo. A intensidade é o mais importante e o mais difícil de pegar, só pega com jogos. Essa é a ideia porque é o melhor para todos.

Agora – Você disse que os garotos precisam de intensidade, mas por que também não levá-los ao banco?
Diego Aguirre – Às vezes vão. Mas levar ao banco não dá ritmo, sentado não pega ritmo. Vão pegar ritmo treinando aqui. Pega ritmo quem joga, seguramente vai pegar mais ritmo quem fica aqui trabalhando e se preparando.

Agora – E você não relaciona muitos jogadores…
Diego Aguirre – Quando vamos para fora, não é necessário ter tantos jogadores. O mais importante para eles que não vão ter oportunidade de jogar é ficar aqui, treinar, preparar-se. Mais importante do que viajar, vai ao hotel, não treina, não joga, não fazem nada, isso é pior. Por isso que não viajamos com tanto. E também não gasta tanto em dinheiro.

Agora – Teme ser mandado embora pelo histórico do clube e do futebol brasileiro?
Diego Aguirre – É algo que acontece, mas não só no Brasil. Antes talvez o Brasil fosse mais assim. Agora, se você vê, Argentina é igual. São situações que nem penso. Não dá para colocar a cabeça nisso. Tenho de me preocupar em trabalhar, fazer o time jogar bem e ganhar. Porque é disso que se trata. Se não ganhar, alguma coisa errada estou fazendo.

Agora – Você vê os times brasileiros mais profissionais hoje, dando tempo para o treinador continuar?
Diego Aguirre – Agora estão dando mais tempo. Muitas vezes mandam o treinador embora para não assumirem culpas, erros. Mas sinto que o nível de gente que está trabalhando nos clubes, gente do futebol, por exemplo Raí, como falei aqui, está melhorando. Eles analisam outras coisas e isso dá tranquilidade para trabalhar.

AGORA

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